Povo Guajajara recebe 4,5 toneladas de insumos em ação contra Covid-19
Operação dos ministérios da Defesa e Saúde contou com serviços de ginecologia, pediatria, clínica médica, enfermagem e veterinária
atualizado
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Isolados do restante do país por uma barreira sanitária imposta para evitar o contágio pelo novo coronavírus, índios Guajajaras que vivem no município de Grajaú, no Maranhão, observavam o pouso dos helicópteros das Forças Armadas que levavam, na segunda-feira (5/10), mantimentos, equipamentos de proteção e profissionais de saúde para atender os integrantes na aldeia de Morro Branco. Enquanto os adultos viam a chegada das equipes em solo, as crianças preferiram observar a aterrissagem do alto de árvores.
As aeronaves fazem parte da terceira fase da Operação Maranhão, ocorrida entre 29 de setembro e 6 de outubro, com o objetivo de atender mais de 30 mil indígenas na região. A ação contou com a oferta de serviços de saúde prestados por profissionais de enfermagem e médicos especialistas em ginecologia, pediatria, infectologia e generalistas para ajudar no combate e tratamento de Covid-19. Também foram enviados veterinários, para avaliar as condições dos animais dos aldeões.
A equipe do Metrópoles embarcou, no sábado (3/10), em um cargueiro C105 do Exército em Brasília, junto com os demais militares e profissionais de saúde da missão. O avião pousou em Imperatriz, no Maranhão, antes da comitiva seguir para a cidade de Grajaú, onde fica o território indígena. No total, foram destinadas 4,5 toneladas de insumos para os Guajajaras da região.
Os serviços de atenção e saúde foram coordenados pela Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde. Nesta ação, a secretaria contou com o auxílio de veterinários das Forças Armadas, parceria iniciada nesta terceira fase da operação com objetivo de coletar amostras por meio de exames e verificar a condição sanitárias dos animais que convivem com a população indígena.
O atendimento
No primeiro dia da missão, as equipes sobrevoaram 170 quilômetros em região de mata até à aldeia Juruá. Na chegada, a liderança Guajajara deu as boas-vindas em Tupi e prepararam uma apresentação de cantos e danças tradicionais. No território Juruá existe uma Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI) onde os profissionais da Sesai fizeram os atendimentos. Na entrada da UBSI, os indígenas passavam por triagem e eram testados para o novo coronavírus. Segundo a secretaria, na região, foram atendidos cerca de 1 mil indígenas pelos os especialistas de pediatria, ginecologia, infectologia, e clínica geral.
Segundo Alberto José, coordenador do distrito sanitário, a parceria interministerial entre os ministérios da Saúde e Defesa proporcionou uma unificação do atendimento com os distritos de saúde do estado. “Nós aqui sempre passamos em todas áreas indígenas fazendo o atenção primária, agora podemos contar com médicos e especialistas”, disse.
Rose Marinho Gomes Guajajara e seus filhos estavam entre as pessoas que aguardavam pelo teste da Covid-19 na triagem da unidade. Para a indígena, o atendimento chegou em um momento importante. “Vim para cá porque meus meninos estavam tossindo, e por isso resolvi trazê-los para consultar”. As crianças testaram positivo para o vírus.
O responsável pela operação no Exército, Coronel Gonçalves, ressaltou a importância de testar os índios da região. “O objetivo principal é trazer o apoio em saúde, além das necessidades de testes de Covid-19”. No total, seis indígenas foram diagnosticados com o vírus, de 270 testes feitos.
No Brasil, conforme a plataforma de monitoramento da situação indígena na pandemia do novo coronavírus, mais de 35 mil se infectaram com a doença, afetando 158 povos e matando 840.
Controle de doenças
A Sesai se baseou em dados do portal de monitoramento do novo coronavírus para definir onde o atendimento deveria ser intensificado. Para Suellen Viana Guajajara, secretária-executiva do conselho distrital do Maranhão, foi preciso organizar uma logística multidisciplinar para que os atendimento fossem mais eficientes. “As enfermeiras são responsáveis por separar os casos mais críticos para que possamos demandar aos consultórios”
De Juruá, a missão partiu para a aldeia de Morro Branco, também município do Grajaú. Na entrada da comunidade, a veterinária do Exército, tenente Ludmila Silva Vicente Sobrinho, coordenou o trabalho de controle de zoonoses com os animais da aldeia. “Essas doenças comuns da área podem acometer tanto os animais como os homens: leishmaniose, raiva e algumas verminoses”, exemplificou. A população local se organizou para levar os animais para avaliação e para tomar vacinas.
Barreira sanitária
Na aldeia de Morro Branco, o impacto da Covid-19 foi comedido devido a uma barreira sanitária montada no começo da pandemia. O agente de saúde da Sesai, Francisco Bento Lopes Guajajara, 46 anos, disse que, no início, os aldeões ficaram preocupados com a chegada da doença à cidade e a proximidade da região com a área urbana. “Com a reunião das lideranças, os caciques daqui formaram uma barreira sanitária”. O agente trabalha auxiliando famílias da região e levando orientação aos indígenas de prevenção contra outras doenças.
Maria Melia Bernardo Oliveira Guajajara, 39 anos, foi uma das seis indígenas que testaram positivo para a Covid-19 durante a operação. Moradora da região do Bananal da Aldeia Nova, disse que a chegada do coronavírus foi repentina e os indígenas passaram a evitar a cidade.
Ao deixar Bacurizinho, a missão partiu para a aldeia Planalto, onde militares deram início à perfuração de um poço artesiano.
“Algumas aldeias são demarcadas em regiões de difícil acesso e distantes de recursos hídricos. Com isso, carecem de água própria para consumo”, explica Carlos Colares, assessor técnico da Sesai.
Eudes de Souza Silva Guajajara 29 anos, da Aldeia Três Pedras, próxima à Aldeia Planalto acompanhava a perfuração. De acordo com o indígena, a falta de água era uma dificuldade para a população. “A água que trazíamos era de jumenta, na bicicleta, no bujão. Apenas para beber de noite”, lembra. Em julho deste ano, o presidente Jair Bolsonaro chegou a vetar a obrigatoriedade do fornecimento de água potável, por parte do governo federal, aos povos originários do Brasil. O argumento usado era o de que a lei criava despesa obrigatória sem apontar a fonte do recurso.