Porcentagem de negros na pobreza e miséria dobrou em 5 anos no Brasil
Entre 2012 e 2017, a taxa de pessoas brancas nessas situações manteve-se a mesma. Dados são de estudo da ActionAid
atualizado
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A porcentagem de pessoas negras em situação de pobreza e extrema pobreza dobrou nos últimos 5 anos. Enquanto isso, a taxa de brancos na mesma situação manteve-se inalterada. Os dados fazem parte de um relatório organizado pela ONG ActionAid, com base em informações da PNAD Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo será lançado em novembro e o Metrópoles teve acesso aos resultados preliminares.
Em 2012, 2% da população de pretos e pardos estavam na extrema pobreza e 3% na pobreza — somando 5% no total, nas duas categorias. No ano passado, 5% dos negros estavam na extrema pobreza e 5% na pobreza, com total de 10%.
Já entre as pessoas brancas, em 2012, havia 1% na pobreza e 1% na miséria. O total permaneceu idêntico cinco anos depois, em 2017.
“É preciso refletir sobre esse crescimento atingindo exclusivamente a população negra. O agravamento da crise poderia ter se refletido também na [população] branca, mas isso não ocorreu”, afirma o economista e pesquisador da Action Aid Chico Menezes.
A próxima etapa da pesquisa feita pela ONG consiste em entrevistar pessoas que entraram para a faixa de pobreza ou miséria para compreender as razões do problema.
“Um aspecto que possivelmente ajuda a explicar a questão é que a construção civil parou no Brasil nos últimos dois anos e a população trabalhadora desse setor é, predominantemente, negra. Grande parte dessas pessoas ficou sem renda”, avalia Chico Menezes.
Em abril de 2018, o IBGE lançou um módulo de dados sobre a renda dos brasileiros. A ActionAid usou microdados dessa base referentes ao período de 2012 até dezembro de 2017. O levantamento completo será publicado em novembro e representará uma radiografia dos problemas do país relacionados a pobreza, fome, educação, cidades e direitos das mulheres.
É a primeira vez que a entidade internacional organiza uma pesquisa nesse formato. A intenção é que essa se torne uma prática anual. “A nossa conclusão é que o país está andando para trás”, afirma Chico Menezes.
Pobres, assassinados e presos
Negros são a maioria da população brasileira (53,6%), segundo o IBGE. Também são a maioria entre os que têm menor renda. Estima-se que três em cada quatro pessoas entre os 10% mais pobre do país sejam pretas ou pardas.
A violência também afeta essa parcela da população de maneira diferente. O Atlas da Violência 2017, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelou que, atualmente, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras.
Outro dado que chama atenção: das 726.712 pessoas encarceradas no Brasil em 2017, mais da metade era jovens de 18 a 29 anos e 64% eram negros. A situação é ainda mais grave no Acre, onde 95% dos presos são negros. No Amapá, são 91% e, na Bahia, 89%.