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Por que o real é a moeda mais desvalorizada em relação ao dólar

Economistas detalham fatores internos e externos que levaram moeda a perder valor em 2024. Para o próximo ano, perspectiva é de mudança

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1 de 1 Imagem colorida de RPessoa segurando cédulas de real - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O real é a moeda mais desvalorizada entre as 20 mais negociadas no planeta, em 2024. A cotação do dólar em 1º de janeiro deste ano era R$ 4,85 e, na quinta-feira (19/12), fechou valendo R$ 6,12. Economistas explicam que um conjunto de fatores internos e externos contribuíram para esse cenário.

Em um ano, o real perdeu 20,88% do valor que tinha em relação ao dólar. Outras quatro moedas fecham o ranking das mais depreciadas no período: peso mexicano (-16%), lira turca (-17,27%), rublo russo (-12,56%) e won sul-coreano (-9,97%).

Veja o desempenho das moedas em relação ao dólar:

O primeiro ponto para entender a desvalorização do real, explicam os economistas, é o fato de que ela é composta por uma perda de valor da moeda nacional. Elencam ainda a valorização do próprio dólar, que se fortaleceu neste ano, e a inflação dos Estados Unidos, que também contribuiu para esse panorama.

No início do ano, houve sinalização de redução mais célere na taxa de juros, mas isso não se confirmou. Os juros elevados nos Estados Unidos fazem com que haja fluxo de dólar para o país. Em contrapartida, nações pobres e emergentes tendem a ter menos moeda estrangeira circulando. A menor oferta eleva o preço, e isso afetou praticamente todo o mundo, mas principalmente as economias menos consolidadas.

A desvalorização do real tem questões internas como contribuintes. Até o início do segundo semestre, os fatores climáticos pesaram no Brasil. Eles influenciaram a ocorrência de uma safra menor no período 2023/2024. Como a exportação de commodities é uma das formas que o Brasil tem de receber dólares, isso também contribuiu com a depreciação do real.

A favor do real, há a expressiva reserva cambial do Brasil, ou seja, uma quantia de dólares que o Banco Central pode levar ao mercado para elevar a oferta e abaixar o preço da moeda estrangeira. Em novembro, as reservas somavam US$ 363 bilhões. O montante é importante para a proteção contra ataques especulativos.

Pacote fiscal

No fim deste segundo semestre, influenciou o cenário a novela do governo federal para a realização de um corte de gastos. Em setembro, a administração federal começou a dar sinais do anúncio da restrição de despesas. No entanto, a demora em fechar o pacote de medidas e as desconfianças sobre o texto em si foram deixando o mercado nervoso e, com isso, o dólar foi subindo.

“O governo anuncia que vai fazer cortes, que realmente se necessitava, para efeito do cumprimento do arcabouço fiscal. Quando você demora a fazer essa comunicação, se você lembrar, foi em setembro que a ministra (do Planejamento, Simone Tebet) começou a dizer que ia ter cortes. E o negócio foi durando até novembro”, salienta o economista Cesar Bergo, professor de mercado financeiro da Universidade Nacional de Brasília (UnB).

O anúncio do pacote foi feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em 27 de novembro. Como a medida veio acompanhada de uma ampliação na faixa de isenção do imposto de renda para salários de até R$ 5 mil, o mercado reagiu mal. Apesar de o ministro prometer compensação, o mercado interpretou a medida como redução na arrecadação.

Enquanto o governo debatia internamente o pacote fiscal, os Estados Unidos elegeram o republicano Donald Trump para a presidência a partir de 20 de janeiro de 2025. A sinalização de Trump de uma política protecionista e de deportação de imigrantes ilegais elevou a expectativa de dólar mais caro. As duas medidas podem resultar em um aumento da inflação, o que forçaria o Federal Reserve, o banco central americano, a subir as taxas e a atrair de dólares para o país.

Mesmo com a aprovação do pacote de corte de gastos, que previa inicialmente economizar R$ 70,5 bilhões em dois anos, o dólar segue pressionado. Há desconfiança do mercado sobre os resultados a serem alcançados com a medida.

Economista da Fundação Getulio Vargas, Carla Beni divide a responsabilidade do contexto de dificuldade na aprovação das medidas fiscais e da oportunidade para um ataque especulativo com os parlamentares.

“O Congresso fez operação tartaruga, não quer transparência nas emendas parlamentares, está pedindo mais parcelas do orçamento, e também o Judiciário, com o lobby contra a redução dos supersalários (uma das medidas do pacote fiscal)”, contextualiza Beni.

E o dólar em 2025?

Para o próximo ano, a expectativa é que haja acomodação no primeiro semestre e maior tranquilidade a partir do segundo semestre. A taxa Selic elevada, que está em 12,25% e poderá bater 14,25% nos primeiros meses do ano, deve atrair dólares para o Brasil e, assim, fazer a moeda estrangeira reduzir o valor.

No espectro da safra 2024/2025, há perspectiva de crescimento em relação ao período anterior. A exportação das commodities tende a materializar a entrada de dólares no país.

“Para o segundo semestre, vejo uma economia em situação melhor, desde que o governo faça o dever de casa com relação à política fiscal”, resume Bergo.

Por outro lado, as medidas a serem adotadas por Donald Trump na economia levam à expectativa de elevação do dólar. Ele afirmou que taxaria o Brasil, o que dificultaria nossas exportações.

Beni considera que as ações prometidas por Trump podem vir a ser efetivadas, mas não de forma abrupta. “É possível que ele faça, sim, esse movimento, mas numa intensidade muito menor do que aquilo que foi anunciado. Mas com muito alarde midiático, porque ele é um homem midiático”, frisa.

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