Por que o Palácio Capanema é considerado uma joia da arquitetura
Edifício que está na lista do feirão de imóveis, do Ministério da Economia, é assinado por personalidades como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa
atualizado
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Rio de Janeiro – A inclusão do Palácio Gustavo Capanema na lista do “feirão de imóveis”, promovido pelo Ministério da Economia, gerou revolta entre políticos, representantes da Cultura, arquitetura e patrimônio histórico. Isso porque o edifício é considerado uma joia da arquitetura brasileira moderna.
O projeto tem assinatura de profissionais renomados, como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Carlos Leão, Jorge Machado Moreira, Afonso Eduardo Reidy e Ernani Vasconcelo.
“No contexto em que o MEC (como é popularmente conhecido) foi construído, não tinha, no mundo inteiro, nenhum prédio com as características que ele tem”, explica o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU-RJ), Pablo Benetti.
Com suas fachadas sul totalmente envidraçadas, foi a primeira edificação em tamanha proporção no mundo. A fachada norte do edifício abarca um conjunto de brise-soleil (dispositivo utilizado para impedir a incidência direta de radiação solar no interior) horizontal móvel, que também foi uma novidade no período.
“Em geral, todas as construções eram periféricas e com um pátio central. Ele acabou com isso, o pátio deu lugar a uma grande esplanada. Então, a inovação, o valor artístico se mede muito pela novidade no momento em que elas são concebidas”, explica Benetti.
O edifício foi construído sobre pilotis na esplanada que conta com jardins de Roberto Burle Marx e a escultura ‘Juventude’, de Bruno Giorgi. No térreo, painéis de Cândido Portinari revestem a parede com azulejos. Neste local, também está a obra ‘Prometeu e o Abutre’, de Jacques Lipchitz.
Devido à riqueza cultural que o imóvel carrega, passou a ser conhecido como “Palácio Cultura”, em 1970.
Algumas outras beldades podem ser encontradas no interior do icônico prédio, como: a ‘Moça em Pé’ e a ‘Moça Reclinada’, ambas de Celso Antônio, além de afrescos de Portinari que englobam o andar do gabinete do ministro.
No segundo pavimento, é possível apreciar a ‘Mulher’, de Adriana Janacópulos, ‘Jogos Infantos’ e ‘Ciclos Econômicos’, de Portinari, que agraciam partes do andar. No Salão de Conferências Gilberto Freyre, afrescos de Portinari embelezam as paredes, como ‘Escola de Canto’ e ‘Coro’.
“Portinari é um dos principais artistas que torna aquele lugar um museu a céu aberto. A própria estrutura do prédio já é, por si só, uma grande obra de arte da arquitetura”, afirma o memorialista e fundador do Instituto Rio Antigo, Daniel Sampaio.
O prédio também conta com móveis que foram desenhados por Oscar Niemeyer.
Para Benetti, o valor do imóvel é inestimável e as obras contidas nele são “uma poesia, uma linguagem muito brasileira”.
“O MEC é um objeto de fruição, ele não pode ser privatizado. É muito cinismo da parte de quem defende a iniciativa privada na conservação de bens patrimoniais que fazem parte da memória nacional”, defende o presidente da CAU-RJ.
Leilão
Para o fundador do Rio Antigo, é inimaginável um possível “feirão de imóveis” com o Palácio Capanema. “É difícil visualizar, porque é inestimável o valor dele para a sociedade, para a cultura e para a educação no país. Ele não é apenas um edifício, ele é um monumento histórico”, diz.
Por causa da repercussão negativa da inclusão do prédio no “feirão”, a expectativa é que Paulo Guedes oficialize nos próximos dias a exclusão do monumento da lista de imóveis a serem leiloados.
Na última semana, o ministro sinalizou o recuo a parlamentares. Em conversa com o deputado Alessandro Molon (PSB), Guedes afirmou que a ideia foi deixada de lado.
Na conversa com Molon, Guedes disse que não sabia que o edifício histórico estava na lista de endereços a serem vendidos, mas se comprometeu a suspender a venda.