Por que, mesmo sem mudanças da Petrobras, o preço da gasolina varia?
Alterações no custo do barril do petróleo, cotação do dólar e até o comportamento do consumidor influenciam no valor final nas bombas
atualizado
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Depois de um período de queda no valor da gasolina, consumidores de capitais, como Brasília e Goiânia, passaram a perceber, nos últimos dias, aumento repentino no preço do insumo. A Petrobras não mexe no valor dos combustíveis desde 2 de setembro, no entanto, mesmo sem mudanças, é possível observar variações nas bombas: em alguns momentos, sobe, em outros, sofre redução.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em determinadas regiões, como o Norte e Nordeste, os preços variaram em cerca de R$ 2 na última semana. O estado com maior alteração foi o Amazonas, em que a diferença entre o valor mínimo e o máximo de revenda foi de R$ 5,01 para R$ 7 entre os dias 4 e 10 de setembro. Já o preço médio do combustível no país ficou em R$ 5,04. Ao longo do ano, a gasolina chegou a ser vendida por R$ 8 em algumas unidades da Federação.
A variação pode ser explicada por alguns fatores que influenciam diretamente no valor repassado ao consumidor. São eles: o preço do barril do petróleo, a cotação do dólar, custo do etanol anidro — cuja legislação obriga mistura de 27% por litro na composição da gasolina — e a margem das distribuidoras e revendedoras. Dessa forma, qualquer variação nesses componentes vai resultar em alteração no preço da gasolina.
“Se o preço do barril de petróleo cair, e o dólar também, em tese a gasolina poderia cair. Agora, se o preço do dólar cai, mas o álcool anidro sobe, você pode ter um efeito de aumento de preço, mesmo tendo queda do petróleo. Então, o valor dos combustíveis não é uma variável muito fácil para prever aqui no Brasil”, pontua o economista William Baghdassarian, professor do Ibmec Brasília.
O especialista aponta que outra razão para que os preços variem é o comportamento do consumidor. Ele dá o exemplo de uma pessoa que sempre abastece no mesmo posto. O distribuidor, então, “testa” diferentes valores para ver até quanto o cliente está disposto a pagar.
“Se você está disposto a aceitar um preço maior, eles vão testando até onde for. A consequência disso é que, às vezes, você consegue reduzir o preço do custo do combustível, mas mesmo assim o preço sobe. Por quê? Porque o cara testa.” A depender da demanda em algumas regiões, o valor também pode mudar.
Queda nos últimos meses
Parte dos fatores citados também pode explicar a tendência de queda dos últimos meses, segundo Felipe Queiroz, economista e pesquisador da Unicamp. Ele avalia que o teto na alíquota do ICMS sobre o preço dos combustíveis, aprovado pelo governo, contribuiu, mas não foi o principal fator. Para o especialista, o que, de fato, gerou impacto foi a redução na cotação do barril de petróleo e da taxa de câmbio.
“Durante os primeiros meses do ano, em decorrência do acirramento, da instabilidade política e do receio em relação à guerra [da Ucrânia], das expectativas em relação ao petróleo e, também, especialmente por conta do embargo à Rússia, a cotação do petróleo aumentou em demasia”, esclarece Queiroz.
O economista continua: “Porém, na medida em que a conjuntura foi se alterando, as sanções, que outrora foram feitas com maior ênfase à Rússia, não surtiram o efeito necessário e desejado, principalmente pela Otan. O que aconteceu foi que o barril preço do petróleo começou a recuar, e hoje está na casa dos noventa dólares”.
No mesmo sentido, a desvalorização do câmbio também afetou o preço pago pelos consumidores. “O processo de desvalorização da moeda doméstica tem se alterado. Então, o dólar e o euro estão na casa dos R$ 5”, lembra o pesquisador. “O resultado disso é que o preço praticado pela Petrobras no mercado do México está em paridade com a cotação do barril do petróleo no mercado internacional. Então, a nossa produção, o consumidor doméstico, paga uma conta que, em última instância, é dolarizada. Ou seja, além da cotação, é transferido pela taxa de câmbio”, explica.
Queiroz ressalta que a queda decorre principalmente de fatores externos, e não, necessariamente, das ações do governo.