metropoles.com

População quilombola no Entorno do DF é vacinada contra Covid-19

Ministério da Saúde enviou 1.460 doses para o município destinadas à população de território tradicional pouco conhecido no Entorno do DF

atualizado

Compartilhar notícia

Divulgação: Prefeitura de Cidade Ocidental
quilombo goiás
1 de 1 quilombo goiás - Foto: Divulgação: Prefeitura de Cidade Ocidental

Goiânia – A um mês de completar 275 anos, o Quilombo do Mesquita, na Cidade Ocidental, Entorno do Distrito Federal, começou a receber vacinas contra Covid-19 destinada à sua comunidade na guerra contra a doença. A ação de imunização da comunidade tradicional está programada para seguir até o final de semana.

A secretária de Saúde de Cidade Ocidental, Luciane Bernardes, explica que o município recebeu do Ministério da Saúde 1.460 doses da vacina Coronavac junto com a orientação para que sejam aplicadas especificamente nos quilombolas. “A doença hoje está cada vez mais grave”, alerta.

6 imagens
Moradora do Quilombo do Mesquita recebe vacina contra Covid
Vacinação contra Covid no Quilombo do Mesquita, em Cidade Ocidental
O Quilombo do Mesquita, comunidade bicentenária situada a 50 Km de Brasília, corre o risco de ter território reduzido em mais de 80%.
Entrada do Quilombo do Mesquita, comunidade bicentenária
Acervo de memória da Comunidade Quilombola de Mesquita,
1 de 6

Área de vacinação contra Covid destinada a moradores do Quilombo do Mesquita

Divulgação: Prefeitura de Cidade Ocidental
2 de 6

Moradora do Quilombo do Mesquita recebe vacina contra Covid

Divulgação: Prefeitura de Cidade Ocidental
3 de 6

Vacinação contra Covid no Quilombo do Mesquita, em Cidade Ocidental

Divulgação: Prefeitura de Cidade Ocidental
4 de 6

O Quilombo do Mesquita, comunidade bicentenária situada a 50 Km de Brasília, corre o risco de ter território reduzido em mais de 80%.

José Cruz/Agência Brasil
5 de 6

Entrada do Quilombo do Mesquita, comunidade bicentenária

José Cruz/Agência Brasil
6 de 6

Acervo de memória da Comunidade Quilombola de Mesquita,

José Cruz/Agência Brasil

Desde o início da pandemia, ao menos 235 quilombolas já morreram no país por complicações da doença, entre os 5.266 casos confirmados, segundo monitoramento atualizado pelo Observatório da Covid-19 nos Quilombos. As estatísticas podem ser muito maiores, já que a maioria dos territórios não teve testagem nem registrou o motivo das mortes.

STF

Em Cidade Ocidental, a vacinação de quilombolas começou nessa segunda-feira (5/4), 41 dias depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir julgamento que obrigou o governo federal elaborar, em até 30 dias, plano nacional de enfrentamento da pandemia voltado à população tradicional.

Há exatamente um mês, o governador Ronaldo Caiado (DEM) mandou montar operação de guerra para vacinar quilombolas do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, nos municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás, no nordeste goiano.

A ação do governo ocorreu após a confirmação de que o coronavírus contaminou ao menos 14 kalungas que vivem no sítio histórico, afastado da cidade e localizado em uma região de difícil acesso e com infraestrutura precária.

Em Cavalcante, por exemplo, como mostrou a série Quilombos na Pandemia, do Metrópoles, obras inacabadas de quatro unidades básicas de saúde (UBS) aumentam a desolação de centenas de quilombolas em Cavalcante. Os casos continuam sob investigação do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO).

Veja, abaixo, vídeo da vacinação contra Covid em Cavalcante:

Mesquita

Muitos idosos, alguns centenários, ainda vivem no Quilombo do Mesquita, como mostrou a Agência Brasil. Eles mantêm viva a relação estreita com a terra e transmitem os relatos sobre a origem e história da comunidade aos mais jovens.

Segundo o testemunho oral, que está registrado nos relatórios da Fundação Palmares e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o quilombo nasceu depois de três escravas herdarem parte das terras do fazendeiro José Correia de Mesquita.

As propriedades da época haviam se desenvolvido em meio à busca pelo ouro, atividade econômica que predominou em Goiás no século 17 e entrou em decadência no final do século 18.

No entorno das propriedades surgiu a cidade de Santa Luzia, atual Luziânia, onde viviam, em meados de 1760, cerca de 13 mil negros escravizados e 3,5 mil pessoas livres que compunham a elite do município.

Libertas do regime escravocrata, as mulheres beneficiadas pela doação de Mesquita permaneceram no território onde formaram suas famílias e mantiveram as tradições do plantio e costumes da cultura negra. Elas também abrigaram nas terras herdadas negros escravizados que fugiam de outras propriedades da região.

Memória

O primeiro registro da terra ocorreu em 1746. O reconhecimento como quilombo, no entanto, chegou apenas em 2006, quando a Fundação Cultural Palmares concluiu os estudos antropológicos para delimitar a região. Hoje, o quilombo abriga na área rural 785 famílias que tentam manter as tradições deixadas pelos ancestrais. Outras 435 famílias quilombolas do Mesquita vivem em cidades do Entorno do DF.

A região se destaca pela produção artesanal da marmelada. O doce do marmelo, fruto típico da região, é uma das principais fontes de renda das famílias.

Há mais de 100 anos, a comunidade celebra todo mês de janeiro a tradicional Festa do Marmelo, que atrai de cinco a seis mil pessoas por ano. Os moradores relatam que o ex-presidente Juscelino Kubitschek foi um dos principais compradores de doces do quilombo.

Na área, também se planta milho, feijão, cana, mandioca, hortaliças, entre outras culturas, e são criados porcos, galinhas e gado.

Risco de passar fome

É exatamente a agricultura familiar que tem ajudado os quilombolas da região a diminuírem o risco de passar fome durante a pandemia da Covid-19.

Em Cidade Ocidental, até segunda-feira (5/4), já foram confirmados 4.186 casos de contaminação pela Covid-19, com 75 mortes. Outros 6 óbitos estão em investigação.

Nos 246 municípios goianos, a Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SESGO) confirmou 491.624 casos, com mais de 12 mil mortes registras no final da tarde de segunda.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?