Willer Tomaz se recusa a depor diante de jornalistas na CPMI da JBS
Alvo de delatores da J&F, ele alegou segredo de Justiça do inquérito e sigilo profissional entre advogado e fonte para pedir oitiva secreta
atualizado
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Sob o argumento de que seu inquérito transcorre em segredo de Justiça e alegando sigilo profissional garantido por lei entre cliente e advogado, Willer Tomaz se recusou nesta quarta-feira (4/10), no Congresso Nacional, a prestar depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da JBS e J&F na presença de jornalistas e demais convidados. O advogado solicitou à comissão que a oitiva fosse secreta e o pedido foi acatado por unanimidade.
Assim, por volta das 10h30, o presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDB/TO), transformou a reunião em reservada e determinou que fossem interrompidas as transmissões pela televisão, pela internet e pela emissora de rádio do Senado. Ficaram na Plenário 2 apenas os senadores e deputados da comissão, membros da secretaria e taquigrafia, o técnico de som, além de Tomaz e seu advogado. Foi para esse público que o advogado falou por cerca de duras horas.
Suspeito de envolvimento em um esquema criminoso para atrapalhar a Operação Greenfield, Willer Tomaz repetiu aos deputados o que já tinha contado ao Metrópoles no dia 27 de setembro. A reportagem apurou que o advogado voltou a afirmar inocência e a acusar o ex-procurador-geral Rodrigo Janot de ter armado contra ele.Entre os pontos expostos pelo advogado alvo da Lava Jato, está a acusação da existência de um acordo extrajudicial que teria sido firmado por integrante do MPF e os irmãos Batista anterior à delação oficial. Willer Tomaz negou ainda ter feito lobby e afirmou que os investigadores jamais encontrarão movimentações financeiras comprovando o cerne do pedido de sua prisão: o pagamento de mesada no valor de R$ 50 mil para o procurador da República Ângelo Goulart Villela.
Repercussão
Integrante da CPMI, o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF) considerou que o depoimento do advogado brasiliense irá “mudar o rumo da CPMI”. “A gente percebe uma omissão de informações por parte do Janot e do MPF pelo depoimento (de Willer Tomaz). Ele nos mostrou documentos comprovando negociações entre o MPF e os Batista (Joesley e Wesley) antes da delação”, disse o tucano.
Para o parlamentar, Willer Tomaz conseguiu provar que exercia atividade profissional junto à JBS, e não atuava como lobista, como sustentado pelo Ministério Público Federal. “E isso nunca foi citado no processo do Janot. São informações novas que, se ficarem comprovadas, podem sim dar um novo rumo à CPMI”, destacou Izalci.
Depois do depoimento, o relator da CPMI, deputado Carlos Marun (PMDB/MS), disse ter acreditado nas palavras do advogado. “Eu saio muito convencido da honestidade das informações fornecidas pelo Willer. O que está provado é que ele ficou mais de 70 dias preso, sem ser ouvido. Isso mostra que eles (Janot e MPF) queriam era derrubar o presidente Temer. A cada momento as peças se encaixam e mostram isso”, completou.
A fala do deputado Marun revoltou o senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP). “Eu fiquei constrangido, há pouco, quando entrei na sala de reuniões da CPMI da JBS e presenciei o que parecia um banquete entre amigos. O prato principal: a cabeça de Janot e a Operação Abafa contra a Lava-Jato”, alfinetou.