Vítimas de assédio na Caixa repudiam fala de Bolsonaro: “Estarrecedor”
Em entrevista ao Metrópoles, presidente da República disse que não viu “nada contundente” no depoimento das vítimas
atualizado
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Servidoras da Caixa Econômica Federal que acusam o ex-presidente da estatal Pedro Guimarães de assédio sexual divulgaram, nesta terça-feira (25/10), uma nota em que repudiam as falas do presidente Jair Bolsonaro (PL) em entrevista ao Metrópoles. Na ocasião, o chefe do Executivo afirmou que não viu “nada contundente” nos depoimentos das vítimas.
Em nota, a defesa das servidoras classifica o posicionamento do mandatário da República como “estarrecedor”.
“Deveria ser motivo de tristeza que condutas como apalpar seios e nádegas, beijar e cheirar pescoços e cabelos, convocar funcionárias até seus aposentos em hotéis sob pretextos profissionais diversos e recebê-las em trajes íntimos, além de constantes convites para ‘massagens’, ‘banhos de piscina’ ou idas a ‘saunas’ sejam naturalizados e tidos, repetimos, como ‘não contundentes’ pelo chefe do Poder Executivo”, diz o texto.
As colaboradoras da Caixa que acusam o ex-gestor prosseguem dizendo que “é motivo de indignação e revolta que as vítimas tenham sua palavra posta em dúvida em contribuição ao processo de revitimização que um presidente da República deveria ter compromisso combater”.
“Por fim, em respeito à voz das vítimas reproduzimos integralmente parte de sua manifestação: ‘Seria contundente, senhor presidente da República, se o fato ocorresse com sua esposa ou filha? Acreditamos que sim. Pois saiba que além de mulheres, também somos esposas, filhas, mães e profissionais que foram abusadas, lesadas e agredidas pela conduta de alguém que deveria ser líder, mas que optou por ser algoz”, diz a nota da defesa.
“E, assim como em suas duras e desprezíveis palavras, fomos desacreditadas e relegadas à nossa própria sorte pela instituição que deveria garantir nossa integridade. Mas não nos calamos e não iremos nos calar. A verdade, apenas a verdade, é suficientemente contundente para fazer justiça e para que outras mulheres não sofram o mesmo que nós”, finalizam as vítimas no posicionamento.
“Nada contundente”
Em entrevista ao Metrópoles, o candidato à reeleição foi questionado se acredita que as acusações são verdadeiras. “Não vi nenhum depoimento mais contundente de qualquer mulher… Vi depoimentos de mulheres que sugeriram que isso [assédio] poderia ter acontecido. Está sendo investigado”, afirmou.
Um dia após o caso ser revelado, Bolsonaro trocou o comando da Caixa. No lugar de Pedro Guimarães, o presidente nomeou Daniella Marques para a chefia do banco público.
“Desconheço a vida particular dele. Eu conheço enquanto presidente da Caixa. Fez um excelente trabalho lá dentro. Agora, comigo, tudo é potencializado. Virou um incêndio enorme em poucas horas. Chamei, conversei com ele e optei pelo afastamento, que foi prontamente aceito por ele. Não contestou. E ele está respondendo. Não faço parte do Poder Judiciário”, disse.
Denúncias de assédio sexual
Em junho deste ano, um grupo de funcionárias decidiu romper o silêncio e denunciar as situações pelas quais passaram. Todas elas trabalham ou trabalharam em equipes que servem diretamente ao gabinete da presidência da Caixa.
Cinco concordaram em dar entrevistas para o colunista Rodrigo Rangel, desde que suas identidades fossem preservadas. Elas disseram que se sentiram abusadas por Pedro Guimarães em diferentes ocasiões, sempre durante compromissos de trabalho.
As mulheres relataram toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites heterodoxos, incompatíveis com o que deveria ser o normal na relação entre o então presidente do maior banco público brasileiro e as funcionárias sob seu comando.
A iniciativa dessas mulheres levou à abertura de uma investigação, que está em andamento, sob sigilo, no Ministério Público Federal.