Vazamento: Deltan sondou se condenado pela Lava Jato poderia ser solto
Novos diálogos mostram que o procurador da República queria saber se o desembargador absolveria operador de propinas da Petrobras
atualizado
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Em novas conversas divulgadas pela revista Veja em parceria com o site The Intercept Brasil, o coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol teria conversado com o desembargador João Pedro Gebran Neto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que julgaria casos da Lava Jato em segunda instância.
Na ocasião, os procuradores discutiam se fechariam acordo de delação premiada com o operador do esquema de pagamento de propinas na Petrobras Adir Assad. Enquanto isso, Gebran preparava voto para a apelação de um dos processos de Assad, condenado pela Lava Jato pelo então juiz Sergio Moro a 9 anos e 10 meses de prisão por lavagem de dinheiro, corrupção e formação de quadrilha.
“Tenho dúvidas [da delação]. Tem que ver o que ele fala… pelo o que você disse, ele não falava nada. O Gebran tá fazendo o voto e acha provas de autoria fracas em relação ao Assad”, disse Dallagnol.
As provas que teriam sido consideradas fracas pelo desembargador eram depósitos feitos em nome de ex-empresas de Assad para ele próprio. À época, o operador do esquema informou que havia vendido as companhias. No entanto, ele já não era mais o dono, mas continuou a receber dinheiro.
Em uma outra conversa, o procurador Carlos Augusto da Silva Cazarré teria informado aos procuradores que o processo estava prestes a ser julgado em segunda instância. Dallagnol, então, pediu a ele que sondasse se os desembargadores absolveriam Assad.
“Cazarré, tem como sondar se absolverão Assad? Parece que o Gebran tava tendendo a absolver… se for esse o caso, talvez fosse melhor pedir para adiar/agilizar o acordo ao máximo para garantir a manutenção da condenação”, disse Deltan no chat Telegram.
O procurador Cazarré respondeu: “Olha, quando falei com ele, há uns dois meses, não achei que fisse [fosse] absolver… Acho difícil adiar”.
A revista procurou Gebran, que respondeu os questionamentos por e-mail. “Em relação ao réu Adir Assad (ou qualquer outro réu), trata-se de questão processual e que somente autoriza manifestação nos autos, pelo que nunca externei opinião ou antecipei minha convicção sobre qualquer processo em julgamento”, afirmou.
Entenda
Desde o mês passado, o site The Intercept Brasil e veículos parceiros têm divulgado uma série de conversas vazadas que mostram uma suposta colaboração entre o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e procuradores da Lava Jato em Curitiba. Nos diálogos, Moro teria criticado e orientado a atuação dos integrantes da força-tarefa, além de reclamado de delações que poderiam ser fechadas.
Até agora, o ministro tem negado que as conversas apresentem qualquer tipo de irregularidade e diz que não é possível garantir a autenticidade nem a veracidade dos diálogos.