#VazaJato: corregedor criticou Deltan mas não abriu apuração, diz jornal
Corregedoria-Geral do Ministério Público Federal e força-tarefa da Lava Jato não reconhecem mensagens publicadas
atualizado
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Apesar de ter criticado informalmente a conduta do procurador da República Deltan Dallagnol, além de ter ressaltado a gravidade de alguns atos dele, o então corregedor-geral do Ministério Público Federal (MPF), Hindemburgo Chateaubriand Filho, decidiu por não abrir uma apuração oficial contra o coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
O caso ocorreu em julho de 2017. Os diálogos foram obtidos pelo site The Intercept Brasil, e analisados desta vez em conjunto com o jornal Folha de S. Paulo e publicados na edição desta quinta-feira (08/08/2019).
“Só quero lhe dizer q liguei em consideração a vc é ao Januário [procurador Januário Paludo]. Como Corregedor, na verdade, não me competia fazer o q fiz”, afirmou Hindemburgo a Dallagnol. As mensagens são reproduzidas com a grafia encontrada nos arquivos originais.
Em seguida, Hindemburgo comentou que sua intervenção no episódio resultava do apreço que tinha por Deltan e saía da linha de atuação regular de um corregedor-geral, que é o fiscal máximo da atividade dos procuradores.
Os diálogos mostram que Hindemburgo e Dallagnol fizeram um acordo extraoficial em agosto de 2017. O trato previa que o procurador da República não apresentasse formalmente à Corregedoria a lista de empresas para as quais deu palestra remunerada, para evitar a repercussão negativa da eventual indicação dos contratantes.
Momentos antes da palestra, Deltan foi avisado que Hindemburgo estava muito irritado com o teor da divulgação e foi aconselhado a ligar para o fiscal dos procuradores. Após se falarem por telefone e trocarem mensagens, o coordenador da Lava Jato então fez duas alterações na publicação.
A palestra foi realizada à noite e na abertura do evento Deltan fez um agradecimento a Rosangela Wolff Moro, mulher de Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato em Curitiba e atual ministro de Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro.
“A entrevista foi transmitida ao vivo no facebook, de modo gratuito. Creio que isso também afasta qualquer preocupação em relação à repasse oneroso ou exclusivo de informações. Cuidamos para não citar nomes de investigados também”, escreveu Deltan no dia seguinte da palestra.
Hindemburgo, contudo, voltou a criticar a conduta de Deltan ao dizer que o tema havia sido abordado em uma reunião da qual tinha participado.
“Ao contrário de vcs [integrantes da Lava Jato], todos q se encontravam na reunião discordaram da atitude. É éramos vários. Além deles, recebi de outras pessoas tb em tom de severa crítica. Lembre-se q vcs falam na condição de interessados. O q eu lhe disse é q do jeito q estava apresentado o post, o anúncio era o da venda de informações em primeira mão sobre a lava jato. Era o mesmo q chamar uma entrevista coletiva e cobrar entrada, pouco importa a destinação do dinheiro. Isso para mim seria bastante grave, independentemente do q vcs pensam”, disse o corregedor-geral.
“Qd vc me explicou q era diferente do q o post literalmente dizia, apenas pedi q esclarecesse melhor. Confesso q li a modificação e, embora pense haver sido descaracterizada qualquer possível irregularidade, não acho adequado o tom q vcs adotam, mas isso é uma opinião pessoal minha”, comentou.
“PS: a faculdade cobra não pelo evento específico, mas pelo curso ministrado. Se cobrasse com a anuência de vcs pelo evento específico no qual fossem informar em primeira mão sobre a lava jato, seria totalmente irregular”, finalizou.
Após as críticas, Deltan reconheceu ter errado na elaboração do convite para o evento e fez agradecimentos ao corregedor-geral.
Outro lado
A Corregedoria-Geral do Ministério Público Federal afirma que o titular do órgão não precisa ter o distanciamento das partes típico da atividade dos juízes e pode manter contatos e receber informações antecipadas de procuradores.
A força-tarefa da Lava Jato diz que conversas e antecipações de informações ao corregedor-geral não são ilegais.
Ambos ainda destacam que os órgãos e os procuradores não reconhecem as mensagens publicadas e afirmam que o material tem origem ilícita e que, por isso, eles não se manifestam sobre o conteúdo específico.