Vaza Jato: OAS teria assumido obra escassa na Bolívia a pedido de Lula
De acordo com delação de Léo Pinheiro, compartilhada entre procuradores, ex-presidente teria feito repasse à campanha de Bachelet no Chile
atualizado
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O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro teria dito em delação premiada que a empresa assumiu uma obra deficitária na Bolívia para atender a um pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As informações constam em conversas vazadas entre procuradores da força-tarefa da Lava Jato, analisadas e divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo, em parceria com o site The Intercept Brasil.
Segundo Pinheiro, o petista queria evitar que a relação entre o Brasil e o governo de Evo Morales ficasse estremecida. O então presidente teria articulado um financiamento do BNDES no país vizinho e ainda prometido à OAS a obtenção de outro contrato para compensar o “projeto problemático”.
O empreiteiro teria dito a Lula que a obra seria deficitária. Mas, ainda segundo Pinheiro, o petista teria afirmado que Evo estaria disposto “a compensar economicamente a empresa, adjudicando um outro contrato em favor da OAS”.
Segundo o depoimento, a Bolívia retirou sanções impostas à Queiroz Galvão, que havia iniciado a obra, em 2003. Em seguida, teria autorizado a transferência do contrato e licitado um outro trecho no qual a OAS saiu vencedora.
O relato está em proposta de delação de Léo Pinheiro, que foi compartilhada entre os procuradores da Lava Jato. Ela foi fechada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e homologada neste mês pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Michele Bachelet
No Chile, a OAS tentava se fixar em 2013, quando já havia conseguido integrar um consórcio para a construção de uma ponte. Segundo a delação de Léo Pinheiro, a OAS temia perder o contrato com a mudança de governo, no ano seguinte. Michelle Bachelet, do Partido Socialista, tomaria posse em março de 2014.
Lula teria dito, segundo o relato, que conversou com o ex-presidente chileno Ricardo Lagos, também do Partido Socialista, que teria garantido que a construtora brasileira continuaria na obra.
O empreiteiro disse ainda que o petista pediu dinheiro da OAS para a campanha de Bachelet. Pinheiro informou ter determinado, então, o pagamento de 101,6 milhões de pesos chilenos, o que equivale a cerca de R$ 400 mil à época, “nos interesses da campanha de Bachelet”.
Outro lado
Em nota, a defesa de Lula disse que “a mentira negociada é a estratégia da Lava Jato para promover uma perseguição política contra o ex-presidente” e garantiu que o petista jamais solicitou ou recebeu qualquer vantagem indevida.
“A versão de Léo Pinheiro é desmentida por manifestação apresentada em 07/02/2017 pela empresa do próprio executivo — a OAS — no processo, afirmando que “não foram localizadas contratações ou doações para ex-presidentes da República, tampouco para institutos ou fundações a eles relacionadas”, informou.
Já o embaixador da Bolívia no Brasil, José Kinn, afirmou que não conhece as declarações de Léo Pinheiro. Segundo ele, a OAS disse estar fazendo “um sacrifício” e pediu que a Bolívia oferecesse outra obra, o que foi negado.