Um 1º turno marcado por facadas: das traições ao atentado à democracia
Infidelidades rondaram as campanhas de Ciro e Alckmin. Bolsonaro foi alvo de um ataque a faca durante ato eleitoral
atualizado
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A campanha presidencial chega ao fim neste sábado (6/10), marcada por facadas em sentido figurado e uma literal. Traições políticas e um atentado à democracia ganharam destaque na corrida pela Presidência da República em 2018. Os sinais de infidelidade rondaram as candidaturas de Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Jair Bolsonaro (PSL) foi alvo de um ataque a faca durante ato eleitoral.
O pedetista tentou atrair das mais diversas maneiras o apoio de vários partidos, entre eles PSB, PCdoB e Centrão (bloco formado por PP, DEM, PRB e Solidariedade). As negativas dos socialistas e dos comunistas se deram por interferência do PT.
Ciro passou semanas em negociação com o PSB. Inicialmente, a legenda vivia a expectativa de uma possível candidatura de Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o que não se concretizou. O partido passou, então, a ser cortejado pelos demais presidenciáveis.
Após uma série de idas e vindas, o PSB decidiu, em congresso nacional, adotar a neutralidade na corrida presidencial. Sacrificou a candidatura em Minas Gerais, de Marcio Lacerda, e em troca o PT rifou Marília Arraes, em Pernambuco, favorecendo o socialista Paulo Câmara, em um clima de traições internas nas duas legendas.
A postura dos dois partidos ocorreu sob a interferência da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, contra Ciro Gomes. O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, até que tentou, mas não conseguiu convencer as demais lideranças da sigla a apoiar a candidatura do pedetista.
O ex-governador do Ceará também tentou atrair o apoio do PCdoB. O partido, no entanto, já havia lançado a pré-candidatura de Manuela D’Ávila à Presidência e tem uma aproximação histórica com o PT em disputas pelo Planalto. No final, a deputada estadual gaúcha acabou virando vice na chapa encabeçada pelo petista Fernando Haddad.
Traição à própria vice
O comportamento do PT na corrida presidencial também foi alvo de queixas da candidata a vice de Ciro Gomes, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO). Fiel à ex-presidente Dilma Rousseff (PT) durante o processo de impeachment em 2016, a pedetista esperava um sinal positivo do partido na eleição deste ano.
Antes do não na corrida presidencial, o primeiro golpe do PT contra Kátia ocorreu ainda em abril, quando ela se lançou ao governo do Tocantins em eleição suplementar. O PT do estado rejeitou apoio à senadora e decidiu compor chapa com o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB). A direção nacional petista interferiu na decisão e determinou que o diretório tocantinense apoiasse Kátia Abreu, mas o racha na relação com ela já estava grande.
Centrão
O bloco, após semanas de negociação, negou o apoio a Ciro Gomes e fechou aliança com a candidatura de Geraldo Alckmin. A base, no entanto, nunca foi segura ao tucano. Membros dos partidos que compõem o Centrão já vinham mantendo proximidade com a campanha de Jair Bolsonaro. Entre os dissidentes originais, estavam o deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS) e o senador Magno Malta (PR-ES).
Além de políticos de outros partidos, Alckmin também foi questionado dentro do próprio PSDB. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, declarou que, caso haja um segundo turno entre o petista Fernando Haddad e Jair Bolsonaro, seu apoio seria para o ex-prefeito de São Paulo.
As declarações de FHC foram consideradas inapropriadas pelos tucanos no momento em que Alckmin lutava para crescer nas pesquisas. Enquanto isso, Haddad consolidava-se em segundo lugar e Alckmin patinava em seus 5% ou 6%, em quarto lugar.
Além disso, o ex-presidente do PSDB Tasso Jereissati pontuou equívocos cometidos pelos tucanos nos últimos anos. As declarações, feitas em entrevista, foram bastante exploradas por Haddad em respostas sobre os erros do PT no primeiro turno. Agora, Jereissati entra no rol de políticos a serem afagados pela campanha petista.
Jereissati enfatizou que os tucanos erraram ao questionar o resultado das eleições em 2014, após vitória da petista Dilma Rousseff sobre Aécio Neves. Equivocaram-se também, segundo o senador cearense, ao apoiar e entrar no governo de Michel Temer e, ainda, ao aprovarem aumentos sucessivos de despesas para o governo num momento em que Dilma lutava para diminuir gastos, referindo-se às chamadas “pautas-bomba” no Congresso.
Some-se a isso o pedido de apoio de João Doria, ex-prefeito de São Paulo, à candidatura de Jair Bolsonaro. O movimento foi lido como sintoma claro de racha entre os tucanos. Para os petistas, foi uma “facada pelas costas” ao presidenciável do PSDB na reta final do primeiro turno.
Atentado a Bolsonaro
Em 6 de setembro, o candidato do PSL foi alvo de um atentado durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). O acusado, Adélio Bispo dos Santos, foi rapidamente identificado por apoiadores do postulante ao Planalto e preso em seguida. Ele foi transferido para presídio federal de segurança máxima em Campo Grande (MS).
Em relatório, a Polícia Federal concluiu que o suspeito agiu sozinho e de forma premeditada. Com base em informações do delegado regional de combate ao crime organizado em Minas Gerais, Rodrigo Morais Fernandes, o agressor já tinha ameaçado Bolsonaro de morte. Os alertas foram feitos via Facebook.
De acordo com os investigadores, Adélio Bispo chegou a Juiz de Fora vindo de Florianópolis (SC), em 19 de agosto, com o pretexto de conseguir emprego. Trabalhou como garçom por quatro dias em um restaurante da região. Quando soube da ida de Bolsonaro à cidade mineira, ele teria começado a planejar o crime, conforme detalhou o delegado.
Enquanto esteve em Juiz de Fora, Adélio se hospedou em uma pousada, onde a PF apreendeu um computador, quatro celulares e dois chips de telefone. No notebook – que tinha informações de 2017 –, a polícia encontrou projetos de cunho político.
Durante a carreata do presidenciável, Adélio estava em meio à multidão o tempo todo, tentando conseguir acesso ao candidato, o que veio a ocorrer na Rua Halfeld, onde o suspeito se aproximou o suficiente para esfaquear o político na altura do abdômen. A faca usada no crime foi periciada e os exames encontraram vestígios do DNA de Jair Bolsonaro na arma.
Um segundo inquérito está em andamento. O prazo para conclusão é de 30 dias, podendo ser prorrogado. Nessa diligência, serão trabalhados: dados telemáticos (mensagens trocadas em aplicativos) e telefônicos (conexão e contatos nos últimos cinco anos), correio eletrônico (1.600 mensagens e análise de seis contas) e extratos bancários.
O ataque a Jair Bolsonaro fez a Polícia Federal reforçar as equipes de segurança de outros presidenciáveis: Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva (Rede) e Alvaro Dias (Podemos) passaram a contar com a proteção de até 25 agentes federais.