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Transição: agro cobra “paz no campo” enquanto PT dialoga com MST

Sem espaço na transição, entidades esperam que novo governo mantenha política de paz no campo em vez de incentivar movimentos como MST

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Michael Melo/Metrópoles
Atividade agrícola no Brasil (agronegócio)
1 de 1 Atividade agrícola no Brasil (agronegócio) - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Setor responsável por quase 30% do produto interno bruto (PIB) e com reivindicações como a “paz no campo” e melhoria da infraestrutura das cidades para escoar melhor suas produções, o agro também tem suas expectativas em relação ao novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)No entanto, ao longo da transição de governo, as entidades representativas do setor pouco dialogaram com representantes do futuro governo.

Não houve espaço para que isso ocorresse de forma mais deliberada. Por outro lado, o lugar foi garantido ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outras entidades ligadas aos pequenos produtores e à agricultura familiar.

E é justamente essa aproximação do futuro governo com o MST que preocupa as grandes entidades do agro. Quando elas falam em “paz no campo” é no sentido de que haja um controle efetivo de ocupações de terra.

Mas o estranhamento de Lula com o agronegócio, aliás, não vem deste período pós-eleitoral. O distanciamento está relacionado com a grande proximidade do setor com o presidente Jair Bolsonaro (PL). O agro não só ajudou a financiar a campanha dele em 2018 como apoiou declaradamente o governo.

Por seu lado, Bolsonaro não escondeu a preferência pelo setor, inclusive em assuntos onde o agro era colocado em conflito com pautas ambientais.

Nesse contexto, como era de se esperar, na campanha deste ano, a escolha novamente foi clara: o agronegócio caminhou com Bolsonaro.

E isso, obviamente, não passou despercebido por Lula.

“Fascismo”

Durante a campanha, Lula criticou duramente o setor, o associando ao fascismo. “O agronegócio, sabe, que é fascista e direitista [é contra o meio ambiente]”, disse em entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, na reta final do primeiro turno. Em setembro, a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), declararam apoio à reeleição de Jair Bolsonaro (PL). 

Ao Metrópoles, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado Sérgio Souza (MDB-PR), afirmou que o grupo ainda não sentou para conversar com o PT. “Não houve conversa”, mas deve ocorrer no futuro. “Acreditamos que o governo eleito entende a importância do setor para o desenvolvimento do país, e por esse motivo, deverá assumir compromisso com as pautas do setor”, disse. 

Apesar do posicionamento das principais entidades, o vice-presidente da FPA, o deputado Neri Geller (PP-MS), foi voz destoante e declarou apoio a Lula. Agora, o Progressistas é cotado para ocupar o Ministério da Agricultura. 

O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que também faz parte da FPA e preside o Parlamento Amazônico (Parlamaz), também ressaltou à necessidade de paz no campo. “O agro realmente quer a paz no campo acima de tudo. O agro não quer mais invasões de terra. Penso que o presidente Lula não cometerá o erro de diminuir a segurança de quem vive no campo”, declarou ao site.

Em nota, a Abag explicou que espera ações concretas no novo governo do PT em relação ao setor. “A manutenção de uma política de recursos para continuidade do desenvolvimento tecnológico, apoio a mecanismos de financiamentos para custeio e investimento destinados ao produtor rural; salienta-se também forte empenho para aumento significativo dos recursos a serem empregados na infraestrutura de transporte da safra e a armazenagem de estoques reguladores, suprimento sustentável de fertilizantes, segurança jurídica no campo, combate à criminalidade dentro do meio rural, campanhas de combate às injustas críticas recebidas pelo competente agronegócio brasileiro, interna e externamente”, completa o documento.

MST e o novo governo

Enquanto há falta de diálogo com o FPA, as conversas com o MST se mantêm. O coordenador nacional do MST, Alexandre Conceição, explicou que conversas foram feitas com o alto escalão do novo governo, Aloísio Mercadante e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB).

“Nós dialogamos com o presidente Lula e com o PT desde o impeachment de Dilma Rousseff. Nós falamos com Aloisio Mercadante sobre um plano e uma plataforma dos movimentos do campo unitário que tem como base a distribuição de terra, a comercialização de alimentos saudáveis, a retomada da desapropriação de terras”, disse.

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