Tradição e monarquia no apoio a Jair Bolsonaro
Diretores do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, herdeiros da antiga TFP, defendem união dos grupos conservadores em torno do governo
atualizado
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O uniforme, as bandeiras e os símbolos são os da antiga Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP). Os homens de cabelos grisalhos e roupas marrom e cinza carregam estandartes e distribuem panfletos no início da Avenida Paulista, longe dos carros de som. Era dia de manifestar apoio à pauta conservadora do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Entre eles estava um senhor de 78 anos, a grande referência do grupo. Trata-se de d. Bertrand Maria José Pio Januário Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orléans e Bragança, segundo na linha sucessória real e um dos líderes do movimento de restauração da monarquia.
Os militantes que o cercavam eram todos sócios ou diretores do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira. Eles são continuadores da obra da TFP, a sociedade que desde 1960 combatia o socialismo e a ameaça do comunismo no Brasil até a sua divisão, após a morte de seu fundador, Plínio Corrêa de Oliveira, o Doutor Plínio, em 1995. Centro difusor do pensamento conservador, o instituto é um dos suportes do atual governo. “Tomamos muito cuidado no sentido de não ser político, somos independentes da Igreja e do governo. O governo tem uma característica conservadora, mas há pontos que precisam ser reparados”, disse o empresário Adolpho Lindenberg, presidente do Instituto e herdeiro do legado tradicionalista de origem católica.
Na manifestação, ativistas do Instituto seguiram a cartilha de defesa do presidente Bolsonaro e críticas ao Centrão e à imprensa. “Movimentos internos querem dividir e desestabilizar a base do governo. A imprensa explora essa divisão interna”, disse o advogado Frederico Vioti, 48 anos, enquanto distribuía panfletos.
Além de d. Bertrand, o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), seu sobrinho, também discursou no carro de som do Nas Ruas. Ao Estado, o deputado eleito com 118 mil votos disse defender o parlamentarismo como primeira etapa para a restauração da monarquia. “Está se construindo um clima político para isso.”
Luiz Phillippe não encontrou resistência para entrar na política porque seu pai deixou a linha sucessória da família real. Antes de se candidatar, conversou com o tio, que apoiou sua decisão de buscar uma vaga no Parlamento pelo PSL. “Um verdadeiro patriota deve apoiar tudo o que Bolsonaro estiver fazendo de bom no sentido da restauração de nossos valores”, afirmou Bertrand.
Imagens
O príncipe estava à vontade no prédio em Higienópolis que preserva os quadros e a mobília do tempo em que o doutor Plínio atendia os visitantes na sala com a imagem de São Pio X. “Aqui não há nada a esconder”, disse o príncipe enquanto abria as portas de diversos cômodos e os exibia para a reportagem do Estado.
O leão – velho símbolo da TFP – continua lá, assim como as imagens marianas e os crucifixos. A sala de reunião do conselho da entidade mantém no centro uma coroa e na parede a efígie de seu fundador. A ala antiga do movimento não pode usar o nome tradicional da entidade no Brasil porque perdeu na Justiça a disputa por esse direito para o grupo dissidente, cujo chefe, João Scognamiglio Clá Dias, fundou a associação Arautos do Evangelho.
D. Bertrand estima em centenas o número de sócios do Instituto, todos atuantes na “ordem temporal”, inclusive nas eleições. “Muito mais do que uma eleição entre pessoas, a última campanha foi uma eleição entre dois modelos de Brasil. Um continuava a agenda do PT – e, a nosso ver, o PT é uma seita, pois o comunismo foi definido pelo papa Pio XI como uma seita e de fato é”, disse.
A outra agenda era a da “reconstrução do Brasil”. “A obra do PT nesses anos todos tinha um denominador comum: a destruição do que restava de cristandade no País”, concluiu a frase com os “erres” sibilantes, de consoante fricativa, soando levemente como francês.
O ataque ao Partido dos Trabalhadores se mistura às críticas a outro grupo de desafetos dos dois: o clero progressista, responsável pelas transformações pelas quais passou a Igreja desde o Concílio Vaticano II, nos anos 1960. Adeptos da missa tridentina, cuja liturgia em latim caracterizava o rito católico até sua modificação no papado de Paulo VI, os integrantes do Instituto não simpatizam com o papa Francisco, a quem acusam de ser próximo dos adeptos da Teologia da Libertação.
“A solução dos problemas atuais é o que está no lema do papa São Pio X: restaurar o homem em Cristo, pois a crise atual não é apenas uma crise econômica e política, ela é, fundamentalmente, uma crise moral e religiosa”, disse o príncipe. Lindenberg completou: “Queremos a restauração da civilização cristã, em clima de liberdade que nos permita lutar pela liberdade, ao contrário do que ocorria no lulismo. Queremos o nosso País de volta”.