Caso Genivaldo: Torres cobra mesma reação à morte de policiais no CE
Ministro relativizou morte de Genivaldo após abordagem da PRF e disse que deputados deveriam reagir da mesma forma sobre caso no Ceará
atualizado
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O ministro da Justiça, Anderson Torres, tentou minimizar o assassinato de Genivaldo de Jesus dos Santos, ocorrido em Sergipe, pelas mãos da Polícia Rodoviária Federal (PRF), citando a morte de dois policiais militares ocorridas em Fortaleza (CE), duas semanas antes do episódio.
Ao ser cobrado pela investigação e punição dos responsáveis pelo caso, Torres relativizou o crime e lamentou não ter visto, por parte dos parlamentares da comissão Comissão de Direitos Humanos da Câmara, durante a audiência pública, a mesma indignação quando os agentes de segurança morreram.
Torres lembrou que a Justiça já avaliou o caso dos policiais que abordaram Genivaldo e negou pedido de prisão dos agentes.
“Em relação à prisão ou não dos policiais, essa decisão já foi avaliada pela Justiça Federal, que negou a prisão.”A reação da comissão em relação a esse fato, nós entendemos, respeitamos, tanto que estou aqui sem ser convidado.
“A gente precisa medir as coisas. A gente precisar dar o mesmo valor a todas as vidas no Brasil. Na semana anterior morreram dois policiais rodoviários federais e não vi essa reação aqui, não foi convocado aqui para poder falar sobre isso. Cada um tem sua visão. Eles foram assassinados, têm família. Enfim”, disse o ministro, que apontou que milhares de abordagens são realizadas pela PRF, sem resultar em mortes, como a de Genivaldo.
Com isso, Torres adotou a mesma estratégia usada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) nas últimas semanas.
“Eu lamento o ocorrido há duas semanas, aproximadamente, com dois policiais rodoviários federais, que ao tentar tirar um elemento da pista, ele conseguiu sacar a arma de um deles e executou dois”, disse o presidente em maio, referindo-se ao caso ocorrido na capital cearense. Na ocasião, um homem conseguiu roubar a arma de um dos agentes e atirou neles, mas acabou morto por um terceiro policial que passava no local.
Sobre o assassinato de Genivaldo, que segundo familiares tinha problemas mentais, Bolsonaro disse: “Não podemos generalizar tudo que acontece no nosso Brasil. A PRF faz um trabalho excepcional para todos nós, em momentos difíceis, são os primeiros a chegar. Vamos respeitar a dor de todo mundo e volta tudo à normalidade rapidamente.”
Genivaldo foi morto após uma abordagem violenta de policiais rodoviários federais, que improvisaram uma “câmara de gás” dentro de uma viatura. Ele havia sido sido abordado sob a justificativa de estar andando de moto, sem capacete.
O argumento usado pelo presidente da República e o ministro da Justiça foi endossado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que exibiu cenas de conflito entre a PRF e criminosos no Rio de Janeiro, no qual aparece um policial baleado.
Deputados criticam Anderson Torres
A deputada Fernanda Melchionna (PSol-RS) criticou a postura do ministro da Justiça sobre o caso Genivaldo.
“Deixo minha solidariedade a família do Genivaldo. Não foi um fato ou uma imagem de alguém reagindo, a imagem que nós vimos é alguém agonizando sendo assassinado. As familiares do Raimundo Bonifácio, do Márcio Almeida, que também são servidores da Polícia Rodoviária Federal e perderam a vida em função, então também tem responsabilidade do estado”, ponderou a parlamentar.
“Nós queremos deixar claro que existe uma tentativa primeiro de de minimizar o que não é um fato, é um assassinato. Eu não generalizo e nunca generalizei, conheço os servidores da Polícia Rodoviária Federal e luto junto com o sindicato por porque tem gente trabalhando com colete vencido, por curso de formação de direitos humanos que a gestão de vocês acabou com concurso público porque vocês estão terceirizando área de fiscalização nas fronteiras, o que implica também e piora na qualidade do serviço”, disse a deputada.
No início da sessão, Torres tratou a morte de Genivaldo como um “caso isolado”. O ministro elogiou o trabalho da PRF e apontou a instituição como “uma das melhores do mundo”.
“Em relação ao fato que nós viemos aqui tratar, eu gostaria de dizer que é grave, um fato em que todas as medidas legais foram adotadas. Até o momento, tudo está correndo bem, tudo está em andamento, a Polícia Rodoviária Federal imediatamente instaurou o inquérito policial, no qual estão sendo realizados todos os procedimentos de perícia de oitiva das pessoas, enfim, tudo que o que a autoridade policial entende pertinente”, disse Torres.
O diretor geral da PRF, Silvinei Vasques, também esteve na audiência. Vasques apresentou números da PRF e disse que a instituição “não compactua” com crimes como o que ocorreu em Sergipe e não aprova o tipo de ação usada.
“A gente não compactua com aquilo que aconteceu em Sergipe. Nunca foi ensinado em nenhuma escola da PRF. Na nossa universidade, em nenhum curso da instituição, não ocorreu qualquer tipo de orientação para aquele procedimento. A instituição realmente entende que aquele fato é grave e vai trabalhar pra devida apuração”, disse o diretor.
Dom e Bruno, assunto proibido
Durante a audiência, deputados apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), se mobilizaram para impedir que parlamentares falassem sobre o desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. Para evitar o assunto, a tropa bolsonarista tentou tumultuar a audiência. O deputado José Medeiros (PL-MT) interrompeu a fala da deputada Talíria Petrone, gerando bate boca e ameaças.
Os requerimentos de convocação foram apresentados pelos seguintes parlamentares Túlio Gadêlha (Rede-PE), Talíria Petrone (PSol-RJ), Vivi Reis (PSol-PA), Erika Kokay (PT-DF), João Daniel (PT-SE), Leonardo Monteiro (PT-MG), Marcon (PT-RS), Rogério Correia (PT-MG), Vicentinho (PT-SP) e Bira do Pindaré (PSB-MA).
Na terça-feira (14/5), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, anulou, por meio de ato da Mesa, a decisão tomada pelos deputados da comissão de convocar o ministro e o diretor da PRF. Os dois, contudo, decidiram comparecer, mesmo sem a obrigação legal.