Thereza Collor, a “musa do impeachment” em 1992, quer ser deputada
Pré-candidata pelo PSDB, ela desafia estigma do sobrenome e almeja entrar na vida pública
atualizado
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Em 1992, o Brasil era outro. Filmes como O Guarda-Costas lotavam as salas de cinema, e os brasileiros comemoravam o primeiro ouro olímpico no vôlei masculino. O ano também foi marcado pela ação da Polícia Militar na Casa de Detenção de São Paulo, naquilo que ficou conhecido como o Massacre do Carandiru. No campo político, a palavra “musa” era de uso corrente – e, por isso, hoje é quase impossível encontrar um registro sobre Thereza Collor em que a expressão “musa do impeachment” não apareça.
Ela ganhou essa alcunha quando o seu marido, o empresário Pedro Collor de Mello (que morreu em 1994), denunciou um esquema de corrupção que envolvia o próprio irmão, o então presidente Fernando Collor de Mello – e atual pré-candidato ao cargo pelo PTC. “Ser considerada musa foi uma honra. Mas você quer me lançar como musa da nova política agora, é?”
A musa de 1992, hoje, é pré-candidata tucana a uma vaga na Câmara Federal. “Não tenho medo. Sei que as pessoas vão ligar meu sobrenome ao impeachment do Collor. Mas tenho a ideia de uma campanha propositiva. Quero fazer parte do novo na política e do processo de renovação do Congresso”, afirmou ela.
Thereza quer ter no combate à corrupção sua principal bandeira de campanha. Apesar disso, ela não parece disposta ao enfrentamento. Diz não concordar, por exemplo, com as propostas mais polêmicas do deputado Jair Bolsonaro, mas evita fazer críticas severas ao pré-candidato do PSL à Presidência da República.
Ela também considera a pré-candidata Marina Silva (Rede) uma política ausente dos grandes debates nacionais, mas faz questão de completar que se trata de “uma pessoa maravilhosa”. Da mesma forma cuidadosa, ela defende a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser preso, mas sem se comprometer com alguma opinião mais incisiva.
Mesmo quando questionada sobre ser feminista ou não, ela prefere o meio termo. “Se você diz que feminista é quem defende a mulher através do diálogo, eu sou feminista. Agora, se você diz que ser feminista é brigar de forma intransigente, eu não sou. Quero o diálogo. Quero o que a mulher tem de melhor: sensibilidade e tato”, disse.
Thereza só deixa transparecer certa emoção ao falar sobre o ex-cunhado, o hoje senador Fernando Collor. Questionada sobre uma eventual nova candidatura de Collor à Presidência, ela provoca: “O presidente Collor tem o direito de querer (ser presidente), mas se naquela época ele teve problemas com um Fiat Elba, agora vai ser com uma Maserati, uma Ferrari. Achei que, com o tempo e a maturidade, ele poderia ter aprendido um pouco mais, mas cada um escolhe suas opções”, disse.
Sobre a possibilidade de dialogar com Collor caso seja eleita deputada, Thereza diz: “Por enquanto, eu não sou nada. Nesse momento, não posso dialogar com ninguém. Mas, se for necessário, investida de um cargo, não me negaria. Acima de tudo, sou uma pessoa educada e civilizada”.
Há 18 anos vivendo em São Paulo, Thereza será candidata pelo estado que adotou e não por Alagoas, onde já exerceu a função de secretária de Turismo. Ela não tem clareza de como irá financiar a campanha. Não fala em autofinanciamento, prefere acreditar que irá receber recursos do partido e de doadores.
Nos últimos meses, ela tem se aproximado da vida partidária. Thereza esteve presente no lançamento da pré-candidatura do prefeito João Doria ao governo de São Paulo. Na ocasião, foi anunciada pelo presidente estadual da sigla, Pedro Tobias. Ao ser convidada a falar, fez menções elogiosas ao PSDB e ao próprio Doria – que, segundo ela, deixou a Prefeitura atendendo a um chamado da sigla.
No fim da reunião, foi cercada por militantes que queriam uma selfie com a “ex-cunhada” de Collor, com a musa do impeachment de 1992. Ela não nega uma selfie, mas diz não ser fã das redes sociais. “Tenho uma vida discreta.”
Hoje, Thereza é casada com o empresário Gustavo Halbreich e garante viver com conforto. “Não preciso fazer da política uma bancada de negócios. Vou me candidatar porque gosto de desafios e acho que posso colaborar”, afirmou ela, que apresenta um leve tremor nas mãos. Thereza é portadora de um distúrbio neurológico de movimento chamado “tremor essencial”, que ocorre durante atividades simples e pode ser agravado por estresse ou cansaço.
Ela prefere se definir como humanista e diz não se enquadrar na direita ou na esquerda. “Sou humanista, quero dignidade e igualdade para as pessoas”, diz ela, que acrescenta não temer o peso do sobrenome Collor. “Minha vida foi exposta. Ele é parte da minha história. Não vou escondê-lo. O que eu espero é que as pessoas me conheçam.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.