Testemunhas confirmam que ex-mulher de Bolsonaro relatava ameaça
Brasileiros que conviveram com Ana Cristina Valle na Noruega dizem que ela costumava repetir: “Minha cabeça vale R$ 50 mil”
atualizado
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Cinco brasileiros que vivem na Noruega e conviveram com Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro (PSL), confirmaram à Folha de S.Paulo, nessa quarta-feira (26/9), o relato que consta em documento oficial do Itamaraty, redigido em 2011.
O registro diplomático consta que ela afirmou ao vice-cônsul daquele país que havia sido ameaçada de morte pelo ex-marido e que por isso havia fugido do Brasil.
O caso foi revelado pela Folha, nessa terça (25). Logo após a publicação da reportagem, Ana Cristina divulgou vídeo nas redes sociais no qual negava ter falado sobre o assunto com a embaixada brasileira, rechaçava ter sido alvo de qualquer ameaça e defendia Jair Bolsonaro, atacando a imprensa.
Dos cinco brasileiros que aceitaram falar com a reportagem, quatro disseram que só o fariam sob anonimato, com medo de represália. Uma decidiu se identificar. Simone Afonso ainda reside na Noruega e conta que conheceu Ana Cristina em 2009, quando ela deixou o Brasil.
“Ela tentou asilo político aqui, o que foi negado pelo departamento de imigração local. Dizia que estava sendo ameaçada pelo ex-marido, o Jair Bolsonaro, que ele havia tirado a guarda do filho dela”, contou Simone Afonso.
“Todo mundo aqui em Oslo sabe que o discurso dela era: estou aqui por medo do meu ex-marido”, continuou. “E se você quiser, a gente pode fazer uma lista de pessoas daqui que sabem dessa história”, disse.
Fragilizada
As outras quatro testemunhas relatam o caso da mesma forma. Segundo elas, Ana Valle, como é conhecida por lá, chegou à Noruega muito fragilizada e se aproximou de um grupo de brasileiros.
Segundo os relatos dos brasileiros, ela costumava repetir que a “minha cabeça vale R$ 50 mil”. Como não tinha fluência na língua local e falava com dificuldade o inglês, Ana dependia das pessoas que acabara de conhecer.
Simone Afonso contou que Ana chegou a morar na casa de um brasileiro em Oslo. Fernando Xavier, disse ela, teria alugado um quarto para a ex-mulher de Bolsonaro até que ela se estabelecesse no país.
Em suas redes sociais, Xavier compartilhou a reportagem da Folha dessa terça (25) sobre o caso. “Olha as verdades surgindo do teatro de vampiros!!!! (sic) Chegou ameaçada e ficou anos sem ver o filho!!!”, escreveu. “Eu sou testemunha e muitas outras pessoas da sociedade de Oslo!!!”
Uma das pessoas ouvidas pela Folha disse que, em maio de 2018, Ana Cristina esteve no país afirmando que iria disputar uma vaga de deputada federal pelo Podemos.
Disputa judicial
Quando ainda morava no exterior, a ex-mulher de Bolsonaro contou aos brasileiros detalhes da disputa judicial que travou com o ex-marido pela guarda do filho do casal, Renan.
Uma das pessoas com as quais a Folha conversou disse ter enviado para Ana Cristina, no Brasil, a certidão de nascimento com a qual ela conseguiu tirar o filho do país sem a autorização de Bolsonaro. Foi isso o que levou o deputado a mobilizar o Itamaraty.
A ex-mulher do presidenciável usou um documento antigo, anterior ao reconhecimento da paternidade. Nele, apenas seu nome constava como responsável pelo menino. Essa mesma pessoa diz que presenciou a ligação do vice-cônsul que consta no telegrama reservado arquivado no Itamaraty.
Ana Cristina foi procurada para comentar os relatos, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem. No vídeo publicado na terça (25) para rebater a reportagem da Folha, ela disse que estava indignada. “Venho aqui muito indignada desmentir a suja Folha de S.Paulo, que publica que o Jair me ameaçou de morte. Nunca”.