Teich será pressionado sobre compra de vacinas e cloroquina na CPI da Covid
Ex-ministro será questionado sobre início de conversas com farmacêuticas para compra dos imunizantes e discordância sobre tratamento precoce
atualizado
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O ex-ministro da Saúde Nelson Teich presta depoimento, nesta quarta-feira (5/5), aos 18 senadores, entre titulares e suplentes, que integram a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. A oitiva do oncologista foi remarcada após o também ex-ministro Eduardo Pazuello cancelar a ida ao Senado Federal, alegando que teve contato com pessoas infectadas pela Covid-19.
Conforme estabelecido pelo cronograma votado e aprovado pelo colegiado, Teich será a segunda autoridade ouvida pela comissão, que iniciou os trabalhos de forma oficial na semana passada. O primeiro depoente foi Luiz Henrique Mandetta, que prestou esclarecimentos aos senadores por mais de seis horas nesta terça-feira (4/5).
Se o primeiro depoimento foi longo e com muitas perguntas, a expectativa é de que a oitiva de Teich seja mais sucinta e com menos intervenções da base aliada do governo federal. Na sessão de terça, senadores governistas pressionaram Mandetta, que se tornou opositor declarado ao governo federal após ter saído da pasta.
As investidas desta vez, porém, devem ocorrer em menor proporção, uma vez que Teich comandou o Ministério da Saúde por apenas 29 dias. Até mesmo o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), preparou menos perguntas para fazer nesta sessão – serão 36 questionamentos, contra 45 feitos a Mandetta pela relatoria.
A tendência é de que os senadores cobrem de Nelson Teich informações sobre a insistência do Palácio do Planalto em apoiar o uso de medicamentos sem eficácia no chamado “tratamento precoce da Covid-19”.
Foi a discordância entre o então ministro e a equipe do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o uso dos remédios que motivou sua saída da pasta. Na ocasião, ao deixar o governo, o oncologista disse que “não mancharia sua história por causa da cloroquina”.
Outro assunto que estará no radar dos senadores é a compra de vacinas contra o novo coronavírus, iniciada justamente durante a gestão de Teich. Os parlamentares querem saber com quais farmacêuticas o governo federal negociava à época e quantas doses de vacinas seriam adquiridas.
Foi também nesse período que o país passou a registrar o primeiro crescimento vertiginoso no número de casos e mortes de pacientes com Covid-19. Teich será confrontado sobre quais medidas adotadas ou negligenciadas contribuíram para a explosão de infecções no Brasil.
O que disse Mandetta
Primeiro “alvo” da CPI, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta depôs aos senadores por mais de seis horas. Durante a oitiva, Mandetta se posicionou de forma crítica às escolhas do Planalto para combater a crise sanitária global. Ele, inclusive, defendeu que “410 mil vidas o separam” do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) até agora.
Mandetta explicou que, quando conversava com Bolsonaro e explicava a situação, o presidente demonstrava entender e dizia que colaboraria, mas o tempo passava e o presidente seguia fazendo aglomerações.
Em pronunciamento aos senadores, o ex-ministro da Saúde afirmou que sempre se baseou na preservação da vida e na ciência para tomar decisões. Ele alegou ainda que sempre defendeu a imunização da população e que “houve discordância” com o presidente Bolsonaro sobre a política de isolamento social para conter o vírus.
Outro ponto importante de seu depoimento foi quando comunicou aos parlamentares que Bolsonaro havia sido alertado sobre as projeções que indicavam 180 mil mortos no país ao fim do ano. “Alertei sistematicamente, mostrei as projeções”, pontuou no depoimento.
O ex-ministro também assumiu ter discordado de Bolsonaro sobre as medidas para garantir o isolamento social. “Houve discordância. Nunca tive discussão áspera, mas sempre coloquei as recomendações de maneira muito clara. Sempre as fiz de acordo com o que é preconizado para doença infecciosa epidêmica”, completou.
Ele ainda acusou o governo federal de tentar alterar a bula da hidroxicloroquina para recomendar seu uso em pacientes com a doença. Segundo Mandetta, a sugestão ocorreu durante reunião ministerial e Bolsonaro possuía um “assessoramento paralelo” ao adotado pelo Ministério da Saúde, com base nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Coube a Mandetta e ao diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, impedir a investida de Bolsonaro. “Estive dentro do Palácio do Planalto, quando fui informado que era para participar de uma reunião com vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina. Barra Torres disse que isso, não. Havia um decreto presidencial para que fosse sugerido mudar a bula da cloroquina na Anvisa para coronavírus”, completou.