Teich diz que faltou estratégia do governo para adquirir vacinas
Ex-ministro da Saúde presta depoimento nesta quarta-feira à CPI que investiga ações do governo durante a pandemia
atualizado
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Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o ex-ministro da Saúde Nelson Teich afirmou, nesta quarta-feira (5/5), ter faltado ao Brasil definir “foco e estratégia” para aquisição de vacinas contra o novo coronavírus.
Segundo o oncologista, o país perdeu a oportunidade de antecipar a aquisição de imunizantes. “Acredito que sim [teríamos mais vacinas], se tivéssemos entrado nas compras de risco. Poderíamos ter adquirido doses em maior quantidade”, enfatizou.
“São duas coisas distintas: uma é o consórcio e outra é da fase em que você pode fazer a compra no risco, ou seja, se a vacina não der certo você perde. Mas isso envolve um grande volume de dinheiro colocado em risco, você precisa ter uma posição Brasil, não apenas Ministério da Saúde”, completou.
Assista à audiência:
“Falta de autonomia”
Antes, Teich afirmou ter deixado a pasta após perceber que não teria autonomia para desenvolver medidas de enfrentamento à crise sanitária.
“Sem liberdade para conduzir o ministério de acordo com as minhas convicções, optei por deixar o cargo”, disse Teich aos senadores. O ex-ministro afirmou que o desejo do governo de ampliar o uso da cloroquina o fez pedir demissão, o que “refletia uma falta de autonomia, de liderança”.
A Renan Calheiros, Teich afirmou que não participou da decisão sobre a produção de cloroquina, medicamento sem comprovação científica contra a Covid-19, pelo Exército brasileiro. Segundo ele, nenhuma decisão passou pelo Ministério da Saúde.
“Não participei disso, se aconteceu alguma coisa foi fora do meu conhecimento. Eu tinha uma posição clara em relação a qualquer medicamento, não sou a favor ou contra qualquer medicamento. Mas não fui consultado sobre isso”, respondeu.
Ele também negou ter conhecimento sobre a distribuição de remédios do Kit Covid a comunidades indígenas. “Nunca me foi passado de que estava havendo a distribuição de cloroquina. Se aconteceu sem eu saber, pode ter acontecido. Mas nunca com a minha orientação, minha orientação era contrária”, afirmou.
Nelson Teich negou, no entanto, que sofreu pressões do presidente para exercer o cargo. “Eu ia fazer o que tinha que fazer, fizesse ele [Bolsonaro] o que fizesse. Minha única questão era se eu teria autonomia. Não tinha coisa que ele fizesse que me pressionasse. É simples assim”, garantiu.
Sobre as medidas de isolamento adotadas durante a pandemia, Teich afirmou aos senadores que até mesmo o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello desconhecia a decisão do presidente Jair Bolsonaro de incluir academias, salões de beleza e barbearias como atividades essenciais à população, o que fez com que elas pudessem voltar a funcionar durante a emergência de saúde pública.
“Pazuello não sabia. Pela reação dele, ele não sabia também. Minha impressão é essa”, disse.