Suíça promete enviar dados de novas contas de suspeitos da Lava Jato
País europeu também negou recurso de supostos envolvidos que pediam fim de compartilhamento de informações com o Brasil
atualizado
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Nos escritórios de Lausanne do Ministério Público da Suíça, um tema é recorrente: o Brasil. Se os suíços já revelaram importantes informações sobre ex-diretores da Petrobrás, Odebrecht, operadores, doleiros e, mais recentemente, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), investigadores próximos do caso afirmaram ao Estado que existem mais de cem contas congeladas e que ainda não tiveram seus nomes publicados. O volume de dinheiro movimentado poderia chegar a R$ 1 bilhão.
Para pessoas próximas à investigação, o processo e envio de dados ao Brasil vai continuar em 2016. No mês que vem, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve fazer uma viagem para Berna, no que acarretaria em novos anúncios sobre os resultados da cooperação entre os dois Ministérios Públicos.Os suíços iniciaram a investigação sobre os ex-diretores da Petrobrás ainda no final de 2013. Uma intensa colaboração foi iniciada com o Brasil e centenas de páginas de extratos bancários e informações começaram a ser enviadas ao País. Em novembro de 2014, os procuradores Orlando Martello, Deltan Dallagnol e Eduardo Pelella estiveram na Suíça à procura de documentos para as investigações da Operação Lava Jato. Para pessoas próximas ao caso, foi a capacidade de confiscar as movimentações de milhões de dólares nas principais praças financeiras suíças que permitiu a Lava Jato caminhar.
Do lado do Brasil, a delação premiada de diferentes atores também alimentou a busca na Suíça. A cada nova revelação, os investigadores brasileiros acionavam os suíços que, então, ampliavam as buscas. Fontes do MP do país europeu confirmaram ao Estado que a investigação ganhou tal dimensão que o “dossiê Petrobrás” foi dividido em mais de uma dezena de subcasos.
Apuração
Para os suíços, a constatação é de que a onda de revelações não vai se secar por enquanto. Se muitos dos nomes dos envolvidos já são conhecidos, os investigadores garantem que mais de cem contas já bloqueadas ainda não tiveram seus detalhes revelados e que a apuração ainda continua para traçar a origem do dinheiro e seu destino final. Segundo as investigações, diversos operadores criaram uma rede complexa de empresas de fachada, fundos abertos em paraísos fiscais e camuflaram seus nomes para dificultar a busca de informações.
Ainda assim, uma parte substancial desse volume inicial de dinheiro congelado já começou a ser devolvido ao País – valores em contas de suspeitos que concordaram em fechar acordos de delação premiada. Até o momento, cerca de R$ 390 milhões foram repatriados ao Brasil, incluindo cerca de R$ 189 milhões pertencentes ao ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco e outros R$ 89 milhões de Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento). No total, porém, os suíços confiscaram cerca de US$ 400 milhões (R$ 1,5 bilhão, ainda que nem todo o dinheiro tenha o direito de retornar ao Brasil, mesmo com as condenações).
Recursos debelados
Documentos confirmam iniciativas para tentar impedir a transmissão de dados relacionados à Operação Lava Jato ao Brasil. No dia 15 de julho, os juízes federais suíços Stephan Blättler, Patrick Robert-Nicoud e Nathalie Zufferey Franciolli, do Tribunal Federal Suíço, derrubaram uma ação de pelo menos três pessoas de reverter o congelamento de suas contas.
Os nomes não foram revelados. Os juízes federais suíços fazem referências à Petrobrás e à Lava Jato. Eles utilizam a letra D para se referir ao nome da empresa brasileira sob investigação.
“Várias pessoas dentro da empresa ‘D’, de suas filiais assim como partidos políticos e empresas com relação com a ‘D’ são alvos de uma investigação”, garantiu o julgamento. “Entre as pessoas está ‘E’ e seus dois filhos. ‘F’ e ‘A’ também são alvos da enquete brasileira”, confirma o documento.
Uma vez mais, as letras se referem a indivíduos sob suspeita, mas não representam suas iniciais. Eles tentaram impedir o congelamento de seus ativos na Suíça, sem sucesso.
Também em julho, os juízes federais suíços derrubaram mais um recurso de duas pessoas que acionaram a Justiça contra o bloqueio de seus bens, relacionados com a Lava Jato.
A investigação havia sido aberta em 4 de setembro de 2014 por lavagem de dinheiro. “No mesmo dia, foi solicitado ao banco D. SA de Genebra a produção da totalidade da documentação bancária relativa a conta n.º 1 aberta no nome de A. Corp, tendo B. como detentora de direitos econômicos”, indicou o documento. As letras D, A e B se referem a pessoas e empresas cujos nomes ainda não podem ser revelados. Mas não se referem a suas iniciais.
No dia 2 de março de 2015, tanto a A.Corp como B. “formaram um recurso”, que acabaria sendo derrubado.