Staff dos Bolsonaro doou até 100% do salário para campanhas da família
O clã arrecadou, apenas de 12 funcionários comissionados, ao menos R$ 25.132 nas eleições de 2016 e 2018
atualizado
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A fidelidade da equipe dos Bolsonaro vai além das relações hierárquicas entre o titular de um mandato eletivo e os assessores. Comissionados com o carimbo da família e então assessores ligados ao clã do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), fizeram doações para as campanhas tanto do titular do Palácio do Planalto como para Flávio Bolsonaro (PSL), senador eleito pelo Rio de Janeiro; Eduardo Bolsonaro (PSL), deputado federal reeleito por São Paulo, e para a reeleição do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC).
As investidas para manter os integrantes da família no poder deram certo. Ao todo, 12 funcionários e assistentes de familiares doaram parte dos seus salários nas últimas campanhas disputadas por eles. Mas as contribuições não se restringiram à ligação entre auxiliares e titulares do mandato: alguns doadores preferiram direcionar a ajuda para os parentes do chefe direto.
A secretária parlamentar Alessandra Ramos Cunha, por exemplo, conhecida como assessora do então deputado federal Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, doou R$ 1.500 para a campanha de reeleição do vereador carioca Carlos Bolsonaro.
A doadora foi nomeada no Congresso, em 2014, em cargo cuja remuneração é de R$ 2.541 mensais. Ou seja, passou a integrar o grupo oficial do patriarca da família dois anos antes de contribuir com o projeto político de um dos filhos do chefe.
O contracheque de dezembro de 2018 disponível no portal da Casa, entretanto, revela que o salário dela ultrapassou os R$ 10.000. Alessandra foi exonerada logo após Jair Bolsonaro ter assumido a principal cadeira da Praça dos Três Poderes.
Para a mesma campanha de Carlos Bolsonaro, Helen Cristina Gomes Vieira enviou R$ 600 a fim de ajudá-lo a custear o objetivo de reconquistar o mandato. Com ele eleito, a militante conquistou o cargo de secretária parlamentar – só que do então deputado federal Jair Bolsonaro. Para o trabalho, Helen recebia em torno de R$ 4.560 mensais. Ela também foi exonerada com a saída do atual presidente da República da Câmara.
Fiel escudeiro de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados desde 1988, Waldir Luiz Ferraz também foi generoso com a campanha para vereador do filho de Bolsonaro. Ele destinou R$ 600 para o herdeiro do clã em 2016. Em 2005, Ferraz ocupava um CNE-15 na Liderança do PP, então partido de Jair Bolsonaro. Atualmente, o aliado milita ao lado da família no diretório estadual fluminense do PSL, cujo comando hoje está nas mãos do primogênito do presidente, Flávio Bolsonaro.
No total, Carlos Bolsonaro arrecadou R$ 46.701 de todos os colaboradores da campanha de reeleição à Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Confira o histórico de doações de assessores ao clã:
Rumo a Brasília
Houve empenho também de parte da equipe de Flávio Bolsonaro para que o chefe alçasse voo mais alto: da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para o Senado Federal.
Assessora do deputado estadual, Valdenice de Oliveira Meliga manteve uma remuneração líquida na Alerj de R$ R$ 5.159 a fim de atender os pedidos do parlamentar na Liderança do PSL. Para a exitosa campanha de Flávio no ano passado, a comissionada doou R$ 5 mil ao caixa do comitê do parlamentar. Caso não juntasse economias, restaria à auxiliar a quantia de R$ 159,72 para passar o resto do mês somente com o salário.
Com a mesma determinação, apesar de valor bem mais modesto, dois outros colegas de gabinete também destinaram recursos para a empreitada do chefe rumo à Brasília. Fernando Nascimento Pessoa e Alessandra Cristina Ferreira de Oliveira integram a equipe de Flávio Bolsonaro na Alerj, recebem os mesmos R$ 5 mil de Valdenice, mas doaram, cada um deles, R$ 200 para ajudar na campanha do deputado estadual.
Parlamentar de São Paulo
Deputado federal reeleito pelo PSL-SP – com a maior votação para a Câmara dos Deputados na história do país, registre-se –, Eduardo Bolsonaro arrecadou R$ 218.330 para a campanha em 2018, conforme declarou à Justiça Eleitoral. O então candidato à reeleição recebeu R$ 25.337 de financiamento coletivo.
Por meio da vaquinha on-line, ao menos quatro servidores da Câmara dos Deputados ligados ao parlamentar fizeram doações para ele na época (confira comprovantes abaixo). Os valores são tímidos se comparados com os salários de cada um que consta no site da Casa.
Carlos Eduardo Guimarães doou R$ 50, conforme registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele é secretário parlamentar de cargo SP-25, cuja remuneração é de, ao menos, R$ 7.849, segundo a Câmara. Na função de secretário SP-19, na qual recebe, ao menos, R$ 4.816, Elias de Araújo Macedo contribuiu com o mesmo valor.
O atual secretário de Comunicação Social da Presidência da República, Floriano Barbosa de Amorim Neto, doou R$ 50 para o então candidato à reeleição. Amorim ficou lotado no gabinete de Eduardo até 4 de janeiro de 2019, antes de ascender ao Planalto.
Assistente técnico de gabinete na Representação do PSL na Câmara, Ana Maria Ribeiro Portes colaborou na campanha de Eduardo com R$ 25. O deputado atuou como líder do PSL na Casa entre meados de outubro e dezembro de 2018. De acordo com a folha de pagamento de dezembro do ano passado, a servidora de nível CNE-15 recebeu R$ 3.007 líquidos, mais R$ 982 de auxílios e R$ 1.861 da gratificação natalina.
Doadores na Esplanada
Há também os casos de quem não ocupava um cargo de confiança nos gabinetes dos Bolsonaro, mas que acabou contemplado com funções estratégica após o engajamento financeiro nas campanhas eleitorais.
Para a campanha presidencial, Priscilla Roberta Gaspar de Oliveira destinou a quantia de R$ 200. Menos de três meses depois, a doadora foi contemplada com a função de Secretária Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, posto que renderá à aliada da família e ligada à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, a renda mensal bruta de R$ 11.179.
Na mesma esteira, o advogado Gustavo Bebianno Rocha, que ocupou a presidência nacional do PSL, destinou R$ 10.000 para as contas do comitê político da campanha presidencial. Ao tomar posse, Jair Bolsonaro acomodou o aliado como secretário-geral da Presidência da República, ocupando a cadeira do deputado licenciado Ronaldo Fonseca (sem partido-DF), o qual esteve à frente do órgão durante o fim do mandato do ex-presidente Michel Temer (MDB).
O outro lado
A reportagem acionou todos os políticos citados. O Palácio do Planalto afirmou que não comentaria as ligações políticas entre os assessores comissionados e os respectivos mandatários, incluindo o presidente da República. A orientação da Secretaria de Comunicação da Presidência da República foi direcionar os questionamentos para os próprios filhos de Jair Bolsonaro.
Acionados pelo Metrópoles, contudo, Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro não se manifestaram até a última atualização desta matéria.
O presidente da República teve as contas de campanha aprovadas com ressalvas pelo TSE. Os filhos que disputaram as eleições de 2018 também obtiveram o mesmo resultado nos julgamentos do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), no caso de Eduardo, e do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), onde os registros financeiros de Flávio foram apreciados.
Em nota enviada ao Metrópoles, o TSE explicou que as únicas proibições para doação de campanha são recebimento de dinheiro ou estimável em moeda, inclusive por meio de publicidade, de pessoas jurídicas, de origem estrangeira e pessoa física que exerça atividade comercial decorrente de permissão pública. As vedações constam no artigo 33 da Resolução TSE nº 23.553/2017.