“Só me arrependo de não ter mais dinheiro para oferecer”, diz Assumção
O deputado ofereceu R$ 10 mil para matarem um assassino da filha
atualizado
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O deputado estadual Capitão Assumção (PSL) não se abala com a repercussão que gerou ao oferecer R$ 10 mil para quem matar o assassino de uma mulher na frente da filha na madrugada de quarta (11/09/2019), em Cariacica, no interior do Espírito Santo. Ao contrário, ele se empolga. “Não tiro uma vírgula. Só me arrependo de não ter mais dinheiro para oferecer”, disse o deputado ao Estadão.
No mesmo dia do assassinato, Capitão Assumção foi à tribuna da Assembleia e lançou o desafio. “‘Quero ver quem é que vai correr atrás para prender esse vagabundo’, disse, apontando para uma foto da mulher executada reproduzida no telão do plenário. “Dez mil reais do meu bolso para quem mandar matar esse vagabundo. Ele não merece estar vivo, não.”
Ele seguiu. “Tem que entregar o cara morto, aí eu pago. Vagabundo que tira vida de inocente, vai usar o sistema para ser beneficiado? A gente tem que parar com isso de achar que preso é gente boa. Preso vai para lá porque fez maldade contra o cidadão. Não pode estar vivo uma praga dessa, não. É um custo muito alto para o cidadão.”
O deputado havia compartilhado o discurso em sua conta no Facebook e no Instagram. Contudo, as duas plataformas excluíram o material nesta sexta, 13. Ele ainda foi bloqueado pelo Facebook, e está impedido de fazer publicações pelo prazo de 30 dias.
Natural de Ecoporanga, a 305 quilômetros da capital Vitória, Lucínio Castelo de Assumção já foi deputado federal pelo PSB entre os anos de 2009 e 2011. Ele assumiu o cargo após a renúncia do deputado Neucimar Fraga.
Atualmente, Capitão Assumção exerce seu primeiro mandato de deputado estadual, eleito em 2018 com 27.744 votos.
“Eu cheguei aqui na Assembleia por essa indignação do brasileiro. Eu represento na Assembleia a voz do brasileiro indignado com a forma como o cidadão é tratado”, acredita Assumção.
Ao fazer seu lance de R$ 10 mil, o deputado se referia à morte de Mayara Oliveira Freitas, de 25 anos, dentro de casa, na quarta, 11, no bairro de Antônio Ferreira Borges, em Cariacica.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a Polícia Militar foi acionada para atender a uma invasão de residência seguida de tiros. O caso é investigado pela Polícia Civil.
Para a diretora de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil/Espírito Santo Flávia Brandão, violência não se combate com violência. “De um representante do Poder Legislativo espera-se mais responsabilidade, e não o incentivo à barbárie. Esse deputado deve primeiramente respeitar as leis e a Justiça, além de trabalhar para aprimorar os mecanismos de segurança pública existentes.”
“Estamos vivendo a barbárie faz tempo. Nós vamos é dar proteção ao cidadão”, afirma Capitão Assumção.
Confira a entrevista do deputado ao Estadão:
Houve muitas críticas à sua fala no plenário. O sr se arrepende?
DEPUTADO CAPITÃO ASSUMÇÃO: Não tiro uma vírgula. Só me arrependo de não ter mais dinheiro para oferecer. O povo não aguenta mais. Se você fizer uma pesquisa, verá que a maior parte da população está indignada com a forma como o bandido tem tratado o cidadão brasileiro, e a forma como o Estado tem tratado o bandido. Acredito que é preciso uma mudança de ótica, na qual o cidadão seja protegido.
Bandido não é cidadão?
CAPITÃO ASSUNÇÃO: Eu acredito que essa ótica tem que ser mudada. Transgrediu as normas, tem que ser colocado no limbo. É pária. Não está contribuindo em nada para o desenvolvimento do Brasil. Qual o sentimento de cidadania que o bandido tem? Vilipendiar o cidadão que trabalha?
O sr. diz que o brasileiro está indignado. Tem essa percepção a partir do quê?
CAPITÃO ASSUMÇÃO: Eu cheguei aqui na Assembleia por essa indignação do brasileiro. Eu represento na Assembleia a voz do brasileiro indignado com a forma como o cidadão é tratado. O cidadão não pode comprar um celular que é roubado. Qual a garantia que é dada ao cidadão? E o que acontece com o bandido quando é preso? Há uma sorte de condições benéficas para ele. Tem que acabar essa ótica de que bandido é alguém que não teve oportunidades. A maior parte dos brasileiros não teve oportunidade, mas optaram pelo caminho do bem. Por que bandido tem que ser diferente?
O sr. incentivou que alguém mate o responsável pelo assassinato. Não teme que um inocente morra?
CAPITÃO ASSUMÇÃO: A probabilidade é mínima. Existe, mas é muito irrestrita. Com certeza vão chegar à autoria desse crime. Essa moça perdeu a vida aos 25 anos de idade, na frente da filha de 4 anos. Toda semana ela saía para trabalhar em um telemarketing, e pagava para alguém tomar conta da criança. Essa menina viu a mãe saindo de casa num carro, e acha que era um carro de passeio. Mas não era, era o carro do IML. E ela está lá, chorando, esperando a mãe voltar.
Mas isso apenas nesse caso específico. Não teme que a população queira fazer Justiça com as próprias mãos?
CAPITÃO ASSUMÇÃO: Se você quiser, te passo um número de WhatsApp no qual as pessoas compartilham muitos vídeos. Elas estão indignadas, se defendendo e defendendo umas às outras da melhor forma que encontram. Nem arma o cidadão tem hoje para se defender. Ele está largado à sorte. Vê lá, muita quantidade de cidadãos revoltados que querem resolver essa situação. Isso é uma inoperância do Estado que durante muito tempo só soube proteger os bandidos.
O sr. fala em inoperância do Estado. A solução é facilitar o acesso às armas pela população?
CAPITÃO ASSUMÇÃO: Não que ela vá querer ter uma arma, mas que seja permitido que possa comprar quando queira. Essa ótica tem que mudar. É o seguinte: quando o bandido for preso ou perder a vida em confronto com policial, esse bandido não tem que ter nem uma nota de jornal. Até nota de jornal é tendenciosa. Quando morre um bandido, o jornal diz: ‘Jovem baleado’. Não, tem que acabar isso. O povo está cansado dessa história de que o bandido é um pobre coitado.
Incentivar isso não vai aumentar a violência e as mortes de pessoas inocentes?
CAPITÃO ASSUMÇÃO: Estamos vivendo a barbárie faz tempo. Nós vamos é dar proteção ao cidadão. Dê arma aos cidadãos e veremos os números de homicídio despencarem.