Sete vezes em que Mourão divergiu ou teve que explicar Bolsonaro
Relembre ocasiões em que Jair Bolsonaro (PSL) e Hamilton Mourão “bateram cabeça”
atualizado
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Após o presidente Jair Bolsonaro (PSL) dizer que a democracia e a liberdade só existem “se as Forças Armadas quiserem”, o vice-presidente Hamilton Mourão veio a público para tentar minimizar o possível impacto da fala e deu uma interpretação própria ao discurso presidencial. Não foi a primeira vez que vice deu novas versões ou mesmo discordou de declarações presidenciais.
Relembre outros momentos em que Mourão revisou as falas do presidente.
1. Democracia e Forças Armadas
Em evento público com militares no Rio nessa quinta-feira (7/3), Bolsonaro afirmou que a democracia e a liberdade só existem “se as Forças Armadas assim o quiserem”. A declaração repercutiu negativamente e, horas depois, o vice-presidente esclareceu e tentou atenuar as palavras do chefe.
“Ele está sendo mal interpretado. O presidente falou que onde as Forças Armadas não estão comprometidas com democracia e liberdade, esses valores morrem. É o que acontece na Venezuela. Lá, infelizmente as Forças Armadas venezuelanas rasgaram isso aí”, disse.
Questionado se concorda com a afirmação de Bolsonaro, Mourão respondeu que, “se as Forças Armadas não são comprometidas com democracia e liberdade, elas não subsistem”.
2. Aborto
Enquanto o presidente e boa parte dos eleitores são contrários à descriminalização do aborto, o general Mourão defende que a decisão seja da mulher.
“A questão do aborto tem que ser bem discutida porque você tem aquele aborto onde a pessoa foi estuprada, ou a pessoa não tem condições de manter aquele filho. Talvez aí a mulher teria que ter a liberdade de chegar e dizer ‘preciso fazer um aborto'”, disse em entrevista ao jornal O Globo. “Minha opinião como cidadão, não como membro do governo, é de que se trata de uma decisão da pessoa”, afirmou.
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, já se posicionou contra o aborto também.
3. Nomeação de Ilona Szabó
Após reações negativas da sua base eleitoral, Jair Bolsonaro determinou que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, retirasse um convite à cientista política Ilona Szabó para integrar, como suplente, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Diretora do Instituto Igarapé, Ilona é contrária à flexibilização do porte de armas.
O vice-presidente, no entanto, lamentou a decisão de cancelar a nomeação. “Eu acho que perde o Brasil. Perde o Brasil todas as vezes que você não pode sentar numa mesa com gente que diverge de você. O Brasil perde. Não é a figura A, B ou C. Perde o conjunto do nosso país e nós temos que mudar isso aí”, afirmou Mourão ao jornal Valor Econômico.
4. Flexibilização da posse de armas
Uma das principais promessas de campanha de Bolsonaro, a flexibilização da posse de armas não foi vista com a mesma empolgação pelo general Mourão. “Esta questão eu não vejo como uma medida de combate à violência. Vejo apenas, única e exclusivamente como o cumprimento de promessa de campanha e que vai ao encontro aos anseios, em grande parte, de parte de eleitorado dele”, afirmou Mourão. As declarações foram dadas enquanto o presidente Bolsonaro participava do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
“Como o povo soberanamente decidiu por ocasião do referendo de 2005, para lhes garantir esse legítimo direito à defesa, eu, como presidente, vou usar essa arma”, disse Bolsonaro no dia em que assinou o decreto. “É uma medida para que o cidadão de bem possa ter sua paz dentro de casa.”
5. Embaixada do Brasil em Israel
Enquanto Bolsonaro estava internado, Mourão recebeu o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, e defendeu a posição que contraria manifestações. “O Estado brasileiro, por enquanto, não está pensando em nenhuma mudança de embaixada”, afirmou.
Os contrários à mudança alertam para os potenciais prejuízos para as exportações brasileiras para países árabes, que estão entre os principais importadores de carne bovina e de frango do País. O Brasil pode também receber pressão da comunidade internacional. Para a ONU, o status de Jerusalém deve ser decidido em negociações de paz.
Em dezembro, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou que a transferência da embaixada brasileira era uma questão de tempo.
6. Fechamento da embaixada da Palestina no Brasil
Ainda em relação ao conflito no Oriente Médio, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que pretendia retirar a embaixada da Palestina do Brasil. Isso ocorreu em agosto de 2018, durante a campanha eleitoral. “A Palestina não sendo país, não teria embaixada aqui. Não pode fazer puxadinho, se não daqui a pouco vai ter uma representação das Farc aqui também”, afirmou em referência às Forças Revolucionárias da Colômbia. “A Dilma negociou com a Palestina e não com o povo de lá. Você não negocia com terrorista, então, aquela embaixada do lado do Planalto, ali não é área para isso”, disse.
Em janeiro, Hamilton Mourão afirmou que os dois Estados, Israel e Palestina, são reconhecidos. “O resto tudo é retórica e ilação, aguardem”, disse o vice-presidente.
7. Renúncia de Jean Wyllys
No final de janeiro, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) anunciou a desistência de assumir seu terceiro mandato na Câmara e disse que tomou a decisão por sofrer ameaças e temer por sua vida. No dia que Jean saiu, Bolsonaro chegou a publicar uma mensagem de que aquele era “um grande dia”. Mais tarde, Bolsonaro disse que a mensagem não tinha referência com Jean, um desafeto declarado do presidente. Wyllys acusou Bolsonaro de homofobia em diferentes ocasiões e chegou a cuspir no presidente enquanto eram colegas na Câmara dos Deputados.
Mourão, por sua vez, afirmou que quem ameaça um parlamentar está cometendo crime contra a democracia. “Uma das coisas que é mais importante é você ter sua opinião e ter a liberdade para expressar sua opinião. Quer você goste, quer você não goste das ideias do cara, você ouve. Se gostou, bate palma. Se não gostou, paciência.”