“Poder eleito determina o destino econômico da sociedade”, diz Galípolo
Gabriel Galípolo e Ailton de Aquino passam por sabatina no Senado nesta terça-feira (4/7). Em seguida, serão analisados pelo plenário
atualizado
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A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal sabatinou, nesta terça-feira (4/7), os primeiros indicados pelo governo Lula (PT) ao Banco Central (BC): Gabriel Galípolo (Diretoria de Política Monetária) e Ailton de Aquino (Diretoria de Fiscalização).
A indicação de Galípolo foi relatada pelo senador Otto Alencar (PSD-BA). Já a de Ailton, pelo senador Irajá (PSD-TO). Ambos os senadores deram parecer favorável aos indicados.
Após a sabatina, os membros da comissão aprovaram as indicações — Galípolo recebeu 23 votos favoráveis e dois contrários, enquanto Aquino teve apoio de 24 senadores e apenas um voto contra.
Depois da sabatina, os nomes seguem, com urgência, para votação no plenário do Senado, última etapa para confirmá-los nos respectivos cargos.
Veja como foi a sabatina:
Autonomia do BC
Os dois indicados falaram sobre a autonomia do BC, aprovada por lei em 2021. Galípolo frisou que foi determinada autonomia técnica e operacional e disse que “é óbvio que é o poder eleito democraticamente, na vontade das urnas, que determina qual é o destino econômico da nossa sociedade”. “Não cabe aos diretores do Banco Central opinar ou dar qualquer tipo de diretriz sobre isso. A gente acata a legislação”, afirmou.
Aquino disse que, como servidor de carreira, deixa a defesa da decisão política do Congresso. “Temos que respeitar e nos curvar ao que está na lei”, salientou.
“Self-made man”
Em sua apresentação inicial aos senadores, Galípolo negou a alcunha de “self-made man”, expressão utilizada para descrever pessoas que construíram trajetória por méritos próprios.
“Sou um sujeito bastante avesso às narrativas do chamado ‘self-made man’, que é uma ideia cada vez mais recorrente no meio empresarial, aliás, uma ideia cunhada no Senado americano, para descrever pessoas que construíram a trajetória por méritos próprios e não independente de condições externas ou, mais do que isso até, à revelia de condições externas”, iniciou o indicado.
Em seguida, ele citou o filósofo espanhol José Ortega y Gasset: “Eu tenho mais empatia por afirmação de um filósofo espanhol que dizia que eu sou eu e a minha circunstância e que se eu não tenho condição de salvar a minha circunstância, eu não tenho condição de salvar a mim mesmo”.
Ex-integrante do governo, Galípolo ainda ressaltou medidas adotadas nos últimos seis meses e afirmou que tem sido conduzido um debate “republicano e transparente” com o Parlamento. Segundo ele, as medidas implementadas até aqui implementadas valorizaram a moeda nacional, ajudaram nas projeções de deficit menor e de crescimento maior e impulsionaram a redução das taxas de juros futuros.
O ex-secretário-executivo do ministro Fernando Haddad ainda fez menção elogiosa ao presidente do BC, Roberto Campos Neto:
“Como bem colocou o presidente do Banco Central, Roberto Campos, se a gente seguir com premissas de um crescimento potencial de 1,5%, 1,6% e uma taxa de juros neutra de 4,5%, por mais sofisticados que sejam os modelos e os economistas que tratam dos modelos, a relação dívida-PIB não vai apresentar um bom comportamento. Como também disse o presidente Roberto Campos, a única solução é crescer. E para crescer, é preciso seguir com agenda econômica que vem sendo enfrentada agora mesmo em conjunto pelo Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
Sobre a proposta de moeda comum no Mercosul, Galípolo disse que a ideia não é substituir moedas nacionais, mas facilitar as relações comerciais entre os países do bloco. Segundo ele, os planos estudados são para o longo prazo e visam evitar que o Brasil perca espaço na balança comercial de outros parceiros.
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“Círculo virtuoso”
Por sua vez, o indicado Ailton de Aquino citou em sua apresentação as alterações recentes nas expectativas de mercado, como o aumento na expectativa de crescimento do PIB e a queda na inflação projetada para o ano. “Percebo o advento de tempos melhores”.
“Esses movimentos demonstram o grau de confiança dos agentes econômicos e da população na gestão econômica do atual governo. Enfim, estou confiante de que estamos entrando num círculo virtuoso e que o Banco Central contribuirá na consolidação de um cenário mais alvissareiro para a economia e para a sociedade como um todo”, concluiu ele.
Quem são os indicados
O economista Gabriel Galípolo foi exonerado do cargo de secretário-executivo do Ministério da Fazenda em junho. O ex-número 2 de Fernando Haddad atuou como presidente do Banco Fator entre 2017 e 2021 e fez parte do conselho da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Caso seja aprovado pelo Senado, Galípolo vai ocupar a Diretoria de Política Monetária, do BC, uma das mais estratégicas do órgão.
Em maio, ao anunciar o nome de Galípolo para o BC, o ministro Fernando Haddad disse que a indicação pode favorecer a aproximação entre o governo e a instituição.
Hoje, essa relação está estremecida pelas críticas de Lula e de integrantes da base governista à resistência do presidente Campos Neto em baixar as taxas de juros no Brasil.
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Servidor do Banco Central desde 1998, o advogado Ailton Aquino Santos exerceu diversas funções na instituição. Ele deverá assumir a Diretoria de Fiscalização.