Senado aprova nome de Galípolo, primeiro indicado por Lula ao BC
Gabriel Galípolo vai assumir Diretoria de Política Monetária do Banco Central (BC). Senado também aprovou indicação de Ailton de Aquino
atualizado
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O plenário do Senado Federal aprovou, nesta terça-feira (4/7), os primeiros indicados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central (BC): Gabriel Galípolo, ex-secretário-executivo do ministro Fernando Haddad, e Ailton de Aquino, servidor de carreira da autoridade monetária.
Galípolo recebeu 39 votos favoráveis de senadores e dois contrários. Houve uma abstenção. Ele foi indicado para a Diretoria de Política Monetária, uma das mais estratégicas da instituição. O ex-número 2 de Haddad assumirá a tarefa de fortalecer a aproximação entre o governo e a autoridade monetária.
Já o servidor Ailton de Aquino foi aprovado com 42 votos favoráveis e 10 contrários, além de uma abstenção. Ele vai comandar a Diretoria de Fiscalização e será o primeiro negro a assumir uma diretoria no órgão.
Os indicados por Lula vão se juntar a outros seis diretores e ao presidente Roberto Campos Neto nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pela definição da taxa básica de juros, a Selic.
Pela manhã, os dois foram sabatinados pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) — veja destaques abaixo.
Com o aval do Senado, as nomeações deverão sair no Diário Oficial da União (DOU) nos próximos dias. Em seguida, tomarão posse de seus cargos.
A indicação de Galípolo custou sua saída do Ministério da Fazenda, onde estava desde janeiro de 2023 como braço direito de Haddad. Ele gozava de boa avaliação por sua capacidade de articulação com o Congresso.
Galípolo já é visto como possível nome a assumir a presidência da autoridade monetária quando Campos Neto deixar o comando da instituição, em dezembro de 2024.
Hoje, a relação de Lula com a cúpula do BC está estremecida pelas críticas do petista e de integrantes da base governista à resistência do presidente Campos Neto em baixar as taxas de juros no Brasil.
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O economista foi chefe da Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo em 2007, durante o governo do tucano José Serra (PSDB). De 2017 a 2021, foi presidente do Banco Fator, instituição financeira focada em parcerias público-privadas (PPPs) e programas de privatização. Também fez parte do conselho da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ele se aproximou do PT durante a campanha de 2022 e trabalhou na transição de governo.
Já Ailton de Aquino é um nome técnico. Servidor do Banco Central desde 1998, o advogado exerceu diversas funções na instituição. Ao ser sabatinado, ele defendeu a melhoria na comunicação do BC para a sociedade, que classificou como “hermética”, e a realização de concursos públicos para ampliar o quadro funcional do órgão.
Autonomia do BC
Na sabatina, os dois indicados falaram sobre a autonomia do BC, aprovada por lei em 2021. Galípolo frisou que foi determinada autonomia técnica e operacional e disse que “é óbvio que é o poder eleito democraticamente, na vontade das urnas, que determina qual é o destino econômico da nossa sociedade”.
“Não cabe aos diretores do Banco Central opinar ou dar qualquer tipo de diretriz sobre isso. A gente acata a legislação”, afirmou Galípolo.
Aquino disse que, como servidor de carreira, deixa a defesa da decisão política do Congresso. “Temos que respeitar e nos curvar ao que está na lei”, salientou.
A nova legislação fixou mandatos fixos de quatro anos para os diretores e o presidente do BC, que não coincidem com os mandatos do presidente da República. Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Campos Neto é o primeiro presidente da instituição não indicado pelo presidente da República de turno.
“Self-made man”
Em sua apresentação inicial aos senadores, Galípolo negou a alcunha de “self-made man”, expressão utilizada para descrever pessoas que construíram trajetória por méritos próprios.
“Sou um sujeito bastante avesso às narrativas do chamado ‘self-made man’, que é uma ideia cada vez mais recorrente no meio empresarial. Aliás, uma ideia cunhada no Senado americano, para descrever pessoas que construíram a trajetória por méritos próprios e não independente de condições externas ou, mais do que isso até, à revelia de condições externas”, iniciou o indicado.
Em seguida, ele citou o filósofo espanhol José Ortega y Gasset: “Eu tenho mais empatia por afirmação de um filósofo espanhol que dizia que eu sou eu e a minha circunstância e que se eu não tenho condição de salvar a minha circunstância, eu não tenho condição de salvar a mim mesmo”.
Ex-integrante do governo, Galípolo ainda ressaltou medidas adotadas nos últimos seis meses e afirmou que tem sido conduzido um debate “republicano e transparente” com o Parlamento. Segundo ele, as medidas implementadas até aqui valorizaram a moeda nacional, ajudaram nas projeções de déficit menor e de crescimento maior e impulsionaram a redução das taxas de juros futuros.
Galípolo ainda fez menção elogiosa ao presidente do BC, Campos Neto:
“Como bem colocou o presidente do Banco Central, Roberto Campos [Neto], se a gente seguir com premissas de um crescimento potencial de 1,5%, 1,6% e uma taxa de juros neutra de 4,5%, por mais sofisticados que sejam os modelos e os economistas que tratam dos modelos, a relação dívida-PIB não vai apresentar um bom comportamento”, colocou.
E continuou: “Como também disse o presidente Roberto Campos, a única solução é crescer. E, para crescer, é preciso seguir com agenda econômica que vem sendo enfrentada agora mesmo em conjunto pelo Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
Sobre a proposta de moeda comum no Mercosul, Galípolo disse que a ideia não é substituir moedas nacionais, mas facilitar as relações comerciais entre os países do bloco. Segundo ele, os planos estudados são para o longo prazo e visam evitar que o Brasil perca espaço na balança comercial de outros parceiros.
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“Círculo virtuoso”
Por sua vez, o indicado Ailton de Aquino citou em sua apresentação as alterações recentes nas expectativas de mercado, como o aumento na expectativa de crescimento do PIB e a queda na inflação projetada para o ano. “Percebo o advento de tempos melhores.”
“Esses movimentos demonstram o grau de confiança dos agentes econômicos e da população na gestão econômica do atual governo. Enfim, estou confiante de que estamos entrando num círculo virtuoso e que o Banco Central contribuirá na consolidação de um cenário mais alvissareiro para a economia e para a sociedade como um todo”, concluiu ele.