“Sem uma boa reforma política, estamos aí para mais 4 anos”, diz Bolsonaro
Presidente fala explicitamente da possibilidade de concorrer à reeleição em 2022, revertendo posição anunciada durante toda a campanha
atualizado
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Em 20 de outubro do ano passado, na reta final do segundo turno das eleições presidenciais que o conduziriam ao Palácio do Planalto com 57,7 milhões de votos, o então deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) falou novamente em um de seus motes na campanha: eleito, “uma das primeiras medidas” seria propor uma reforma política, para, entre outras coisas, “acabar com a releição e diminuir em 15%, 20% o número de parlamentares” no Congresso. Chegando aos seis meses de mandato, o agora presidente já fala explicitamente na possibilidade de deixar para lá aquela promessa e concorrer a mais quatro anos em 2022.
Ontem, Bolsonaro aproveitou a viagem a São Paulo no feriado de Corpus Christi para reabrir a porta da reeleição. Primeiro, em Eldorado, cidade onde foi criado, e para onde foi visitar a mãe e outros familiares, saiu-se com essa: “Meu muito obrigado a quem votou e a quem não votou em mim. Lá na frente, todos votarão, tenho certeza”, afirmou, indicando que o tema “novo mandato” ganha espaço na mente do agora presidente, mesmo sem ter completado nem 20% do mandato para o qual foi eleito. O discurso foi transmitido ao vivo nas redes sociais pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.
Afagos evangélicos
Mais tarde, já na capital paulista, usou a ida a um tradicional evento da comunidade evangélica – estrato social que o escolheu majoritariamente em 2018 -, a tradicional Marcha para Jesus, para reiterar a posição, ainda mais explicitamente.
“Se tiver uma boa reforma política, eu posso até, nesse caldeirão, jogar fora a possibilidade de reeleição. Posso fazer isso aí. Agora, se não tiver uma boa reforma política e se o povo quiser, estamos aí para continuar mais quatro anos”, declarou, cercado por líderes evangélicos que o estimulavam defendendo que ele fique oito anos na presidência.
O presidente havia sido recebido no palco do evento, pouco antes, entre vaias e gritos de “mito” pelo público que acompanhava a maratona de shows de música gospel.
Em seu discurso, Bolsonaro fez inúmeras menções a Deus, repetiu que, embora o Estado seja laico, ele é cristão e agradeceu o apoio dos evangélicos ao seu governo. “Quem achava que sucumbiriamos logo no início perdeu. Porque nós temos a verdade e um povo maravilhoso ao nosso lado que são vocês”, afirmou Bolsonaro. “Vocês foram decisivos para mudar os destinos dessa pátria maravilhosa chamada Brasil.”