“Se há um mandante, é um comerciante”, diz Mourão sobre Dom e Bruno
Vice-presidente comparou o assassinato a crimes que ocorrem em periferias e disse que morte do jornalista inglês foi “dano colateral”
atualizado
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Dias após os corpos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira serem encontrados e identificados, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), disse que, se houver um mandante do assassinato, deve ser um comerciante da região.
Restos mortais foram localizados na semana passada no Vale do Javari, no Amazonas, após confissão de um dos suspeitos pelo crime. Entre sexta-feira (17/6) e sábado (18/6), os peritos criminais do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal (PF) confirmaram que os corpos eram de Dom e Bruno.
“Ninguém fica feliz com a morte estúpida como a que aconteceu do Bruno e do Dom. Agora, é uma região pobre, Atalaia do Norte é um município de 20 mil habitantes com carências inúmeras, vive de um pequeno comércio, de fundo de participação de município. Essas pessoas aí que assassinaram covardemente os dois são ribeirinhos”, iniciou Mourão nesta segunda-feira (20/6), ao chegar a seu gabinete na Vice-Presidência.
Segundo ele, são pessoas que vivem no limite. “Vivem da pesca. A pesca ocorre dentro dos rios, e os rios entram nas reservas indígenas”, prosseguiu.
“Vai aparecer se há um mandante. Mas, se há um mandante, é um comerciante da área que estava se sentindo prejudicado pela ação – principalmente do Bruno e não do Dom, né? O Dom entrou de gaiato nessa história, foi dano colateral”, continuou.
Mourão ainda disse que o assassinato aconteceu em momento de “quase emboscada” e o comparou a crimes que ocorrem em periferias das grandes cidades.
“Isso é um crime que aconteceu num momento quase que de uma emboscada. Um assunto que vinha se arrastando, vamos dizer. Na minha avaliação, deve ter ocorrido no domingo. Domingo essa turma bebe, se embriaga, mesma coisa que acontece aqui na periferia das grandes cidades”, comparou Mourão.
O general indicou que, mesmo no Distrito Federal, isso é comum. “Aqui em Brasília, a gente sabe, né? Todo fim de semana tem gente que é morta aí à facada, tiro… Das maneiras mais covardes, normalmente fruto de quê? Da bebida, né? Então, a mesma coisa deve ter acontecido lá”, afirmou.
O caso
Phillips, 57, e Pereira, 41, desapareceram em 5 de junho, no fim de um curto trajeto pelo rio Itaquaí. Pereira acompanhava Phillips em viagem de reportagem para um livro sobre desenvolvimento sustentável na Amazônia, mas o barco não chegou a Atalaia do Norte, conforme programado.
O desaparecimento foi comunicado às autoridades e à imprensa pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Lideranças indígenas atuaram nas buscas ao lado das autoridades.
O exame médico-legal, realizado pelos peritos da PF, indica que a morte de Dom Phillips foi causada por traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça. Foram identificados “múltiplos balins” (múltiplos projéteis de arma de fogo), ocasionando lesões na região abdominal e torácica. Ele foi atingido com um tiro.
A morte de Bruno Pereira foi causada, segundo os peritos, por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, “que ocasionaram lesões no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)”.