Saraiva diz ter sido convidado por Ramagem, em 2019, para assumir PF do RJ
Delegado da PF afirmou em depoimento que o ainda presidente da Abin é que lhe fez o convite, em nome de Bolsonaro – não Moro ou Valeixo
atualizado
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O delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva prestou depoimento no inquérito que apura suposta tentativa de interferência na corporação pelo presidente Jair Bolsonaro e afirmou que Alexandre Ramagem – que na época já era o presidente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) – o convidou para ser superintendente no Rio de Janeiro ainda no segundo semestre de 2019.
Ramagem falaria em nome de Bolsonaro. Saraiva comunicou ter aceitado. Mas a nomeação nunca saiu. Na oitiva, que terminou no início da noite desta quarta-feira (13/05), o delegado da PF relatou ter sido cobrado, em encontro no Aeroporto de Manaus, pelo então ministro da Justiça Sergio Moro: “Saraiva, que história é essa de você no Rio de Janeiro?”
O episódio ocorreu no primeiro momento em que vazou a intenção de Bolsonaro de substituir o então diretor-geral da PF Maurício Valeixo, em agosto de 2019, que acabou não acontecendo após resistência de Moro.
O delegado então teria relatado ao ministro como ocorrera o convite por Ramagem. Moro teria sido extremamente “correto e digno”, e dito apenas que “estava sabendo” dos fatos.
O depoimento de Saraiva, hoje superintendente da PF no Amazonas, revela que Ramagem já interferia na PF em nome do presidente muito antes de ser nomeado (e posteriormente barrado pelo Supremo Tribunal Federal) para a Direção-Geral da corporação – o que só ocorreu formalmente no fim de abril.
O delegado da PF sustentou, contudo, que nenhum dos convites que recebeu “se revestia de nenhuma missão ou intenção pontual e específica de interesse” de quem o sondava. E negou ter qualquer amizade ou relação pessoal próxima com o presidente Jair Bolsonaro.
Outras sondagens
Alexandre Saraiva contou também que o primeiro contato que teve com Bolsonaro, então presidente eleito, ainda no fim de 2018, foi para um convite – mas a uma área completamente diferente. Bolsonaro teria ouvido falar do delegado ao perguntar para policiais que faziam sua segurança se conheciam alguém com experiência na área ambiental. O nome do superintendente da PF no Amazonas surgiu e um encontro foi marcado.
Nesta reunião, na casa de Bolsonaro em um condomínio na Barra da Tijuca, o presidente eleito teria, após conversa de cerca de duas horas, o convidado para ser o novo ministro do Meio Ambiente. E ele teria aceitado. Mas esta nomeação também nunca saiu.
Uma terceira sondagem infrutífera relatada pelo delegado federal teria sido feita pelo próprio Moro. O então ministro o queria, afirmou no depoimento, como presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai).