“Salsichinha” late para deputado, que ameaça matar cachorro a tiros
Hildo Rocha (MDB-MA) alega que foi atacado por “matilha”, que incluiria rottweiler sem focinheira, mas nega ter ameaçado matar os cachorros
atualizado
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O que era para ser um momento de lazer e brincadeira com os bichinhos, no fim da tarde de domingo (5/4), no gramado localizado entre as quadras 202 e 203 Norte, apelidado pelos moradores de “campinho dos cachorros”, acabou rendendo um boletim de ocorrência por “ameaça” na Polícia Civil do DF.
De acordo com frequentadores do local, o deputado Hildo Rocha (MDB-MA), também morador dos arredores, saiu para caminhar e terminou ameaçando dar tiros nos cachorros que o perseguissem.
A confusão, segundo os vizinhos, teria começado com Babi, uma dachshund, popular “salsichinha”, que perseguiu o deputado, latindo contra ele.
O ataque foi levado a sério pelo parlamentar, que, segundo relatos, acabou não aceitando as desculpas da dona de Babi.
Segundo o boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil on-line, Rocha ameaçou voltar armado da próxima vez e dar tiros em cachorros da quadra que repetissem o “ataque” durante o momento de atividade física do parlamentar.
O Metrópoles teve acesso ao boletim registrado pela dona do cachorro, que aponta duas testemunhas.
A reclamante, que pediu para não ter o seu nome divulgado temendo represálias, informou, segundo o BO, que, “durante o horário do passeio dos cachorros da quadra e arredores, o dep. federal Hildo Rocha, que estava caminhando por perto, se assustou com os cachorros que ali brincavam e fez ameaça de, na próxima vez que comparecesse àquele local, iria levar sua arma e iria atirar nos cachorros que ali se encontrarem”, diz o documento.
“Após ser reconhecido por uma das frequentadoras do local, o referido Sr. refez seu caminho em direção a ela e exaltado e nervoso alegou que ela teria mandado seu pet morder o então deputado. O que não aconteceu e, no pouco que fora gravado por outras pessoas presentes, se é possível ver que todos os cachorros ali não apresentaram qualquer reação de raiva ou de fúria para cima de ninguém”, registra o BO.
“Depois de perceber que estava sendo filmado no local, e de ser puxado por sua esposa, o então deputado se retirou do local, deixando as demais pessoas assustadas com a atitude dele de ameaçar portar em público, por ciência e própria conveniência, arma de fogo e, ainda, alegar que iria usá-la. Após tentativas de acalmarem uma gestante do grupo, todos se dispersaram do local com medo”, finaliza o relato.
Discussão
Testemunhas contaram que, logo após as ameaças, outros moradores que estavam no campinho começaram a filmar a discussão entre o deputado e a dona da cachorrinha.
No vídeo, ao se ver reconhecido, Rocha ainda tentou dizer que não era deputado. “Quem disse que eu sou representante (do povo)?”
A dona de Babi disse reconhecer o deputado e citou o seu nome: “O senhor acha que não sei quem é o senhor?”. O deputado respondeu: “Sabe nada”.
Ela, então, disparou: “Deputado Hildo Rocha, MDB do Maranhão”, citou. “Lá dentro o senhor é uma pessoa e aqui o senhor é outra”, disse, enquanto o deputado se retirava do local.
O deputado então reclamou enquanto andava: “Por que você colocou o seu cachorro para me morder?”. Ela respondeu: “Nenhum lhe mordeu”.
Ele reclamou novamente: “Mas você botou para me morder”.
“Era um rottweiler”
O deputado, por sua vez, nega que tenha ameaçado voltar armado, mas confirma a perseguição. Rocha conta que também registrou um boletim de ocorrência depois da confusão. Na versão dele, no entanto, não se tratava de cães de pequeno porte, mas de uma “matilha, com uns 12 cachorros”.
“Eu estava fazendo a minha caminhada lá e veio um cachorro rottweiler, sem coleira, sem focinheira, acompanhado de vários outros cachorros. Era uma matilha de uns 12 cachorros soltos. Não me morderam porque eu corri”, alegou o deputado, que disse ter ficado muito assustado.
“Claro que me assustei. Um cachorro rottweiler daqueles, quem é que não tem medo?”, questionou o deputado ao falar com o Metrópoles.
Segundo ele, em nenhum momento disse que voltaria armado para matar os cachorros e que a única providência que tomou foi também registrar um boletim de ocorrência.
“Já tomei a providência que eu tinha que tomar. Registrei um boletim de ocorrência para que esse fato não ocorra com outras pessoas. Se fosse uma criança, teria morrido ali. Ainda bem que foi contra um adulto, com a experiência de 61 anos de idade que eu tenho. Se eu fosse uma criança de 8 anos de idade teria sido morto. Era um cachorro rottweiler”, disse o deputado.
Rocha afirmou que mandaria o boletim que registrou para a reportagem, mas não o fez até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.
Lei
Segundo o deputado, ele apontou em seu boletim de ocorrência, o artigo 11 da Lei n° 2.095, do Distrito Federal. Essa lei “estabelece diretrizes relativas à proteção e à defesa dos animais, bem como à prevenção e ao controle de zoonoses”.
O artigo citado pelo parlamentar diz que é proibida a permanência de animais soltos nas vias e logradouros públicos ou em locais de livre acesso ao público; e a permanência de qualquer animal em estabelecimento onde são fabricados, manipulados ou armazenados gêneros alimentícios.
Além disso, o dispositivo permite a permanência de cães nas vias e logradouros quando portadores de registro e conduzidos com coleira e guia por pessoas com tamanho e força necessários para mantê-los sob controle. Também permite cães de grande porte, “de raças destinadas à guarda ou ao ataque”, desde que usando focinheira quando em trânsito por locais de livre acesso ao público.
Rocha informou que não vai mais passar pelo campinho em suas caminhadas e que só agora entendeu porque outros moradores evitam passar pelo local.
“Não vejo pessoas passando por ali e, agora, já sei porque é. Uma vez, vi uma senhora gritando, desesperada, em baixo do meu prédio. Saí na janela para ver a mulher estava toda sangrando demais. Eu pensei que tinha sido briga, e o porteiro veio e me disse que foi o cachorro que a mordeu”, ressaltou.
“Perversidade”
Em nota, o Clube dos Dachshunds de Brasília informou receber com grande pesar a notícia das ameaças feitas pelo Deputado Hildo Rocha contra uma cadela da raça Dachshund.
“No momento em que enterramos mais de 300 mil brasileiros, no momento em que faltam leitos de UTIs, no momento em que o desemprego e os preços sobem em igual proporção, levando o país de volta ao mapa da fome, ameaçar um cão de morte à tiros é uma conduta desprezível e digna de toda reprovação moral”, afirmou.
“Os cães da raça Dachshund são leais, protetores, valentes (a despeito de pequenos) e inteligentes, atributos que todos desejaríamos ver mais representados no Congresso Nacional. Talvez por estas características que Pablo Picasso e Abraham Lincoln tenham escolhido esta raça como companhia.”, completou.
A organização se colocou à disposição para eventual pedido de desculpas ou retratação, ao reconhecer que há dias difíceis na vida de todos. “O que não aceitaremos nunca é que perversidade e maldade se alastrem”, finalizou.