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Ruralistas pressionam governo por alternativa a fertilizante da Rússia

Estima-se que 80% do insumo usado nas produções agrícolas do Brasil venham do país envolvido na guerra com a Ucrânia

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Roque de Sá/Agência Senado
Zequinha Marinho
1 de 1 Zequinha Marinho - Foto: Roque de Sá/Agência Senado

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) cobrou do governo federal urgência na procura por novos países produtores de fertilizantes agrícolas. Há entre os congressistas que representam os interesses do setor um temor por uma crise de desabastecimento do insumo provocada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que começou em 24 de fevereiro e segue se agravando.

O vice-presidente da FPA no Senado Federal, Zequinha Marinho (PSC-PA), afirmou, em entrevista ao Metrópoles, ser “urgente que o governo se movimente para fechar acordos de exportação com outros fornecedores mundiais”. Só assim, segundo o senador, será possível conter os impactos gerados pela guerra no Leste da Europa.

A Rússia é responsável pela produção de 19% do mercado internacional de potássio, usado na composição de fertilizantes fosfatados – utilizados pelos produtores agrícolas brasileiros para aumentar a produtividade do solo.

Na última sexta-feira (4/3), o governo russo recomendou aos produtores locais que suspendessem as exportações dos fertilizantes em decorrência dos problemas de logísticas causados, em grande parte, pelas sanções impostas por governos ocidentais ao país, como, por exemplo, o fechamento do espaço aéreo russo, impedindo pousos e decolagens.

A recomendação partiu do Ministério da Indústria e Comércio do país.

Antes, Belarus também havia comunicado ao Brasil que não exportaria mais o fertilizante para os produtores nacionais. O país aliado da Rússia é responsável por quase 20% de todo o produto utilizado pelo agronegócio brasileiro. A interrupção decorreu de fechamento da fronteira do país com a Lituânia, também motivada pela guerra.

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A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito
A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local
Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km
Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia
Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país
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A relação conturbada entre Rússia e Ucrânia, que pode desencadear um conflito armado, tem deixado o mundo em alerta para uma possível guerra

Wolfgang Schwan/Anadolu Agency via Getty Images
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A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito

Agustavop/ Getty Images
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A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local

Pawel.gaul/ Getty Images
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Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km

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Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia

Andre Borges/Esp. Metrópoles
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Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país

Poca/Getty Images
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A Rússia iniciou um treinamento militar junto à aliada Belarus, que faz fronteira com a Ucrânia, e invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro

Kutay Tanir/Getty Images
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Por outro lado, a Otan, composta por 30 países, reforçou a presença no Leste Europeu e colocou instalações militares em alerta

OTAN/Divulgação
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Apesar de ter ganhado os holofotes nas últimas semanas, o novo capítulo do impasse entre as duas nações foi reiniciado no fim de 2021, quando Putin posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Os dois países, que no passado fizeram parte da União Soviética, têm velha disputa por território

AFP
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Além disso, para o governo ucraniano, o conflito é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Crimeia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos na região para incorporá-la a seu território

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Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida para desestabilizar constantemente o país e financiar grupos separatistas que atentam contra a soberania do Estado

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O conflito, iniciado em 24 de fevereiro, já impacta economicamente o mundo inteiro. Na Europa Ocidental, por exemplo, países temem a interrupção do fornecimento de gás natural, que é fundamental para vários deles

Vostok/ Getty Images
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Embora o Brasil não tenha laços econômicos tão relevantes com as duas nações, pode ser afetado pela provável disparada no preço do petróleo

Vinícius Schmidt/Metrópoles
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Em meio à troca de acusações, os Estados Unidos dizem que há uma ameaça "iminente" de Moscou a Kiev e enviaram mais de 8 mil soldados para a Europa Oriental

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Putin reconheceu oficialmente a independência de duas regiões da Ucrânia controladas por separatistas pró-Rússia. Poucas horas depois, anunciou o envio de soldados para Donetsk e Luhansk, com a suposta missão de pacificar a área

Alexei NikolskyTASS via Getty Images)
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Como resposta, a União Europeia e os Estados Unidos proibiram transações econômicas com bancos e entidades que financiam o aparato militar da Rússia. As medidas atingem políticos russos, bancos, o setor de defesa e de mercados de capitais

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O Ministério das Relações Exteriores russo informou que evacuou os últimos diplomatas em serviço no país vizinho. Para a chancelaria de Putin, os diplomatas russos correm risco de sofrer violência

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Sob risco de invasão, o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, pediu mais armas aos países do Ocidente. Ele defendeu que essa seria uma forma de resistir contra a Rússia

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Crise de desabastecimento

Diante dos anúncios, produtores brasileiros temem que o atual estoque de fertilizantes não seja suficiente para a próxima safra. De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), o montante atual disponível é capaz de suprir a demanda do setor apenas pelos próximos três meses.

As más notícias ligaram um alerta no setor, que cobra ações rápidas do Executivo para contornar o que caminha para se tornar uma crise, uma vez que o país é o quarto maior consumidor global de fertilizantes. Estima-se que 80% de todo suprimento do Brasil venha de fora do país.

“Ainda é cedo pra falar em desabastecimento. É, sem dúvida, um risco, mas o governo tem atuado para evitar a queda brusca no fornecimento de fertilizantes e os impactos disso tudo na produção de alimentos”, defendeu o congressista.

Mesmo que as medidas ainda sejam recentes, já foi possível sentir o impacto da guerra no bolso, ao menos para os produtores nacionais. “O preço já estava bem mais alto por conta dos embargos comerciais a Belarus. No Pará, por exemplo, uma tonelada de cloreto de potássio, que até pouco tempo atrás custava US$ 350, passou a valer US$ 900”, destaca Marinho.

O parlamentar afirma que, além de Rússia e Belarus, países como Canadá, Israel, Jordânia, Alemanha, Espanha, Chile e Reino Unido também produzem e exportam potássio, usado como matéria-prima para a maioria dos fertilizantes. “Precisamos buscar junto a esses países acordos que garantam minimamente o fornecimento dos insumos agrícolas”, cobra o senador.

Cenário pessimista

A avaliação do vice-presidente da FPA é de que a “atual situação tende a piorar”. “Os produtores já manifestaram preocupação com queda substancial na exportação de insumos agrícolas, podendo impactar na próxima safra. Se não buscarmos novos parceiros comerciais, isso afetará no avanço da produção agrícola”, alerta.

O senador acredita que “muito pouco” poderá ser feito pela Frente Parlamentar da Agropecuária para contornar o problema de desabastecimento. “Provocamos e realizamos audiências públicas no Senado para discutir o tema recentemente. Na ocasião, o governo apresentou o andamento do Plano Nacional de Fertilizantes, documento que deverá ser apresentado nos próximos dias”, disse.

“Incentivar a produção nacional de insumos é a melhor saída. O governo, por meio do seu Serviço Geológico Brasileiro, precisa estimular a exploração de minerais estratégicos, como cobre, cobalto, lítio, grafita e nióbio, além dos agrominerais, como fosfato e o potássio”, prosseguiu o senador.

Plano nacional

Na quinta (3/3), o presidente Jair Bolsonaro (PL) que o governo federal lançará, neste mês, um programa nacional para estimular a produção brasileira de fertilizantes.

Antes, o chefe do Executivo já havia externado preocupação com o tema. “Eu vou avisar um ano antes: por questão de crise energética, a China começa a produzir menos fertilizante. Já aumentou de preço, vai aumentar mais e vai faltar. A cada cinco pratos de comida no mundo, um sai do Brasil. Vamos ter problemas de abastecimento o ano que vem”, indicou o mandatário do país.

O senador governista avalia que, apesar do cenário pessimista que se apresenta, Bolsonaro “tem se mostrado sensível ao problema dos insumos”.

“O presidente já ressaltou que o país corre risco da falta do potássio ou aumento do seu preço, destacando que a segurança alimentar exige tanto do Executivo como do Legislativo medidas que permitam a redução da dependência externa de fertilizantes e defensivos”, completa.

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