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Rui Costa diz que Bolsonaro tratou miliciano como “ente querido”

O governador da Bahia foi cobrado pelo presidente a dar explicações sobre “execução” de chefe do Escritório do Crime

atualizado

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1 de 1 ruicosta - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), protagonizou embates com o presidente Jair Bolsonaro, principalmente após a morte do miliciano Adriano da Nóbrega, em uma operação policial no interior do estado, na qual o suspeito de chefiar o chamado Escritório do Crime no Rio de Janeiro foi morto com vários tiros. Em meio às suspeitas de que Adriano teria sido morto como queima de arquivo, Bolsonaro cobrou explicações do petista pelo que chamou de “provável execução primária” feita pela polícia da Bahia.

Em entrevista ao Metrópoles, o petista disse não entender o porquê de o presidente estar preocupado com a morte de um criminoso como se fosse um “membro de sua família”.

“Por que Bolsonaro e sua família estão envolvidos com alguém com uma lista de crimes tão extensa?”, questionou o governador.

“Achei e acho estranho um presidente da República Federativa do Brasil estar preocupado com um criminoso, um marginal que, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, responde por suspeita de participação direta ou indireta em mais de 100 homicídios. O que levaria um presidente da República a estar preocupado com as condições que levaram ao óbito esse marginal?”, questionou Costa.

“Um dia eu quero ter essa resposta para que todos possamos saber o que motivou, o que estimulou o presidente da República a tratar desse assunto como se fosse um ente querido de sua família que tivesse morrido nesta operação”, destacou Costa.

Morto no início do fevereiro em uma ação da polícia militar baiana, Adriano da Nóbrega era um dos criminosos mais procurados do país, com o mandado de prisão expedido desde janeiro do ano passado. Ele era acusado de comandar uma organização que atuava em assassinatos, grilagem de terras, agiotagem e pagamento propina em Rio das Pedras, na Muzema e em outras comunidades da zona Oeste do Rio de Janeiro.

O governador disse que as investigações sobre as circunstâncias da operação ainda não foram concluídas, mas ele já descartou a influência ou  a participação de agentes do Rio de Janeiro na operação.

“Não houve qualquer influência da policia do Rio. Foi uma operação realizada pelos policiais da Bahia. De tudo que eu ouvi e conversei com responsáveis, não encontrei nenhuma fragilidade na apresentação que foi feita”, disse Costa.

Segundo o governador, as investigações estão sendo conduzidas no sentido de identificar os passos e as relações de Adriano durante os meses que antecederam sua morte e que ele morava no interior da Bahia.

“Eu determinei uma apuração, o Ministério Público também tem processo de apuração aberto. Nosso objetivo é tentar identificar durante esses meses, ou o período que o criminoso esteve na Bahia. Identificar com quem ele teve contato, quem foram as pessoas com quem ele estava dialogando. Identificar se ele estava praticando crimes na Bahia. Temos que ver se ele estava tentando montar um esquema de milícia na Bahia ou se ele estava fazendo algum tipo de lavagem de dinheiro no estado”, disse o governador.

Ligações
A análise do conteúdo dos celulares Adriano usava podem desvendar os últimos interlocutores do miliciano durante o tempo que esteve no estado, e quem o teria ajudado na fuga do Rio de Janeiro. Um mês após a morte do chefe do Escritório do Crime, os aparelhos ainda não foram periciados e continuam sob tutela do Ministério Público do Rio de Janeiro, apesar de a perícia já ter sido autorizada pela Justiça.

A expectativa é que nas próximas semanas o material seja enviado ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), do governo do Rio, para ser analisado por peritos oficiais. Rui Costa disse que tem procurado não interferir na investigação na Bahia e aguarda os resultados do Ministério Público que tem uma linha totalmente independe. “Da mesma forma que não vou interferir em, como governador, no trabalho de um médico, não vou interferir no trabalho da polícia”, disse.

As ligações do ex-capitão com o clã Bolsonaro são identificadas de forma pública. A mãe de Adriano e a ex-mulher dele eram nomeadas no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Segundo as investigações as duas mulheres são suspeitas de participarem do suposto esquema de “rachadinhas” que vigorava na Alerj, pelo qual funcionários devolvem parte dos salários ao parlamentar.

Na época, Flávio Bolsonaro também homenageou duas vezes o miliciano, sendo uma delas com a Medalha Tiradentes, a maior honraria concedida pela Alerj.

 

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