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Rogério Rosso: quem é o político que quer o segundo mandato-tampão

Seis anos após comandar o GDF por nove meses e deixar o governo local com apenas 29% de aprovação, Rogério Rosso pode chegar ao ápice da carreira política se for eleito, na quarta-feira (13/7), presidente da Câmara dos Deputados

atualizado

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Gustavo Lima/Câmara dos Deputados
rogerio rosso
1 de 1 rogerio rosso - Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados

Os olhos azuis de Rogério Rosso (PSD-DF) conquistaram os deputados e as deputadas da Câmara. Mesmo sendo um marinheiro de primeira viagem, ganhou muita visibilidade nos últimos meses. Tanto que hoje é o mais cotado para assumir a presidência da Casa na vaga de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou ao posto no dia 7. Naquele dia, Rosso anunciou que não se candidataria. No entanto, como na política o barco muda de direção conforme o vento, o discurso pegou a direção contrária nesta segunda-feira (11). E, se for eleito, precisará convencer os colegas de que tem capacidade para comandar a Câmara. Na última experiência de gestor — quando passou nove meses à frente do GDF, em 2010 —, naufragou.

Entre abril e dezembro de 2010, Rosso foi governador-tampão do Distrito Federal, após o então titular do cargo, José Roberto Arruda, ser preso e o vice, Paulo Octávio, renunciar devido ao escândalo da Caixa de Pandora. Nem mesmo os olhos azuis foram suficientes para seduzir a população, e Rosso deixou o Palácio do Buriti com apenas 29% de aprovação, segundo pesquisa Datafolha da época. O mesmo levantamento apontou que ele tinha a pior nota entre nove governadores avaliados: 4,9. À espera de um novo governo, o brasiliense virou o ano reclamando do lixo nas ruas e do mato alto nas regiões administrativas.

Provar que tem capacidade de organizar a Casa, devastada por uma grave crise institucional, pode se tornar tarefa ainda mais complicada se Rosso tiver que lidar com problemas domésticos. No fim de junho, uma das testemunhas do processo da Operação Caixa de Pandora afirmou que o delator do escândalo, Durval Barbosa, tem vídeos que comprometem o ex-governador-tampão. Até agora, no entanto, nenhuma dessas supostas gravações veio a público.

“Rosso sempre foi inexpressivo na política, mas se juntou com as pessoas certas e, como é esperto, educado e articulado, conseguiu crescer dentro da Câmara”, afirmou um deputado, que preferiu não ter o nome divulgado por temer retaliações, especialmente se Rosso for eleito presidente da Casa.

A curta carreira política é argumento para os críticos. “Rosso conseguiu boas articulações e tem apoio dos grandes líderes deste governo, mas todos sabem que tem uma relação com o Durval Barbosa”, conta um ex-integrante do alto escalão do GDF, que pediu anonimato.

As críticas, no entanto, se mesclam a elogios. O líder do PTB, por exemplo, é um dos apoiadores de Rosso na Câmara Federal.

O Rosso é equilibrado, conduziu muito bem a comissão do impeachment e acho que o nome agrada ao governo. Mas o governo não tem que se meter na sucessão na Câmara

Jovair Arantes (GO), líder do PTB na Câmara

Ascensão na política
Rosso tem 47 anos. Nasceu no Rio de Janeiro, mas se mudou para Brasília quando era bebê. Cresceu na Asa Sul, em uma família de classe média, e estudou em escolas públicas. Fez estágio na Fundação Nacional do Índio (Funai), formou-se em direito e concluiu uma especialização em marketing e direito tributário. Atuou como executivo nas empresas Mercedes-Benz, Catterpilar e Fiat.

Do universo automobilístico, aliás, veio o empurrãozinho para a carreira política. Ele se casou com Karina Rosso, filha de Roberto Curi, dono da rede Curinga dos Pneus, um dos empresários mais ricos de Brasília, que financiou as campanhas do genro.

Graças à deputada distrital Liliane Roriz, uma das melhores amigas da mulher, entrou na política, em meados de 2002. Ao cair nas graças do clã Roriz, Rosso atuou na campanha de Joaquim Roriz. Ao ser eleito para o quarto mandato no GDF, Roriz deu início também à trajetória política de Rosso, oferecendo a ele o cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico do DF.

Casa no Lago Sul, eleitorado em Ceilândia
Rosso aprendeu rápido com a cartilha rorizista e entrou no caminho do populismo. Ao ser nomeado administrador de Ceilândia, em 2004, comprou um imóvel na região administrativa para se mostrar mais próximo dos moradores. Apesar disso, não deixou a casa onde morava com a família, no Lago Sul. Naquele período, fez da região mais populosa de Brasília sua base eleitoral.

Dois anos depois, chegava a hora de testar a popularidade. Em 2006, pelo PMDB, Rosso disputou, pela primeira vez, uma vaga na política. Tentou entrar na Câmara dos Deputados, mas os 51 mil votos não foram suficientes para abocanhar uma cadeira no Congresso. No entanto, ficou com uma vaga de suplente. Na mesma disputa, Roriz foi eleito senador e continuou as articulações para favorecer o pupilo.

Graças ao prestígio de Roriz, José Roberto Arruda, então eleito governador do DF, nomeou Rosso na Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). No órgão, conheceu Durval Barbosa, que presidiu a companhia e, mais tarde, tornou-se o delator do esquema conhecido como Caixa de Pandora.

Confusão no PMDB
O escândalo da Caixa de Pandora, aliás, deu um novo gás à carreira política de Rosso. Com a saída de Arruda e a renúncia de Paulo Octávio, então vice-governador, a Câmara Legislativa fez uma eleição indireta para escolher um governador-tampão, em abril de 2010. Nas negociações internas, Tadeu Filippelli (PMDB) negociou o nome de Rosso entre os distritais e conseguiu emplacar o aliado no GDF, com 13 votos dentro da Câmara.

Os meses no Buriti fizeram o governador-tampão tomar gosto pelo cargo, e a ideia de disputar a eleição para permanecer no posto máximo do Executivo distrital não foi demovida nem pela avaliação negativa do eleitorado nem pela perspectiva de confrontar aliados.

Como a coligação para disputar o GDF já estava montada entre PT e PMDB, com Agnelo Queiroz (PT) e Tadeu Filippelli, Rosso mudou de lado e subiu no palanque da candidata do clã Roriz, Weslian (PSC), esposa do patriarca da família. A atitude despertou a ira dos correligionários, e Rosso foi obrigado a deixar o PMDB.

Nova fase no PSD
Em 2012, Rosso entrou em um novo partido, ao ser convidado para o PSD, de Gilberto Kassab. Em 2014, conquistou 93.653 votos — a segunda maior votação do DF para a Câmara dos Deputados. Logo depois, se tornou líder do PSD na Casa. Com boa articulação entre os peemedebistas Eduardo Cunha e Michel Temer, tentará a sorte nesta quarta-feira (13), quando está marcada a eleição para a presidência da Câmara.

Caso seja eleito para o cargo, será o segundo mandato-tampão de Rosso. Antes de confirmar a candidatura, o deputado disse que, independentemente do perfil, o novo chefe da Casa terá muito trabalho.

Temos que garantir a governabilidade na Câmara. Quem quer que seja o novo presidente deverá trabalhar com humildade e simplicidade

Rogério Rosso (PSD-DF), deputado federal

Rock pesado
Rosso, que, além de político habilidoso, é um roqueiro nato — toca baixo, guitarra, piano e tem um estúdio em casa — é fã de heavy metal. Mas precisará mudar o ritmo e sambar para conseguir imprimir uma marca na Câmara dos Deputados. “O momento é de se trabalhar pelo consenso e união”, resume o parlamentar do DF.

 

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