Ricardo Barros é ligado a empresa que negocia compra de R$ 5 bilhões da CanSino
Belcher intermedia compra de 60 milhões de doses do imunizante chinês. Negociação foi apoiada por pessoas próximas ao presidente Bolsonaro
atualizado
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O líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), envolvido nas suspeitas de corrupção na negociação da vacina indiana Covaxin, mantém ligações com a Belcher Farmacêutica, que intermedia a compra de 60 milhões de doses da CanSino, imunizante chinês.
O Metrópoles apurou que a empresa tem sede em Maringá (PR), base eleitoral de Barros e onde ele foi prefeito. A Belcher pertence a Emanuel Ramalho Catori e Daniel Moleirinho Feio Ribeiro, este último filho de Francisco Feio Ribeiro Filho, que é próximo a Ricardo Barros.
Ribeiro Filho foi presidente da Urbanização de Maringá (Urbamar), empresa ligada à prefeitura, quando o prefeito era Ricardo Barros, no mandato entre 1989 e 1992. Quando Cida Borghetti, esposa de Barros, foi governadora do Paraná, o empresário assumiu cargo no Conselho de Administração da Sanepar, a empresa de saneamento paranaense, em 2018.
O Ministério da Saúde negocia a compra de 60 milhões de doses da CanSino, no valor de R$ 5 bilhões. A negociação foi intermediada pela Belcher Farmacêutica, e apoiada por empresários próximos ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como Carlos Wizard e Luciano Hang.
Em junho, o Ministério da Saúde assinou uma carta de intenções com a farmacêutica. O acordo previa o pagamento de US$ 17 por dose – valor mais alto negociado pelo governo até o momento para uma dose de vacina contra a Covid-19. O contrato ainda não foi fechado e nenhum valor foi pago.
A Belcher é investigada pela Polícia Federal por desvios de verbas na compra de testes para diagnóstico da Covid-19 pelo governo do Distrito Federal.
As investigações revelaram que a empresa teria fornecido propostas fictícias em um processo de dispensa de licitação.
O Metrópoles tenta contato com os citados. O espaço está aberto para manifestações.
CPI vai investigar negociação
Nos próximos dias, a CPI da Covid deve começar a investigar a negociação para a compra da vacina chinesa.
Na semana passada, a CPI iniciou uma nova linha de investigação, dessa vez voltada para apurar denúncias de corrupção no processo de negociação da Covaxin.
A comissão apura por que o governo agilizou os trâmites na compra da vacina indiana. Segundo um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério da Saúde levou 97 dias para fechar o contrato, enquanto demorou 330 dias para ter um acordo com a Pfizer.
Além disso, de acordo com documentos do TCU, a Covaxin foi a segunda mais cara negociada pelo governo federal, custando US$ 15 a unidade. O valor é quatro vezes maior que o da vacina da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a AstraZeneca, por exemplo.
O contrato entre o Ministério da Saúde e a Precisa Medicamentos para compra da Covaxin foi o único acordo do governo que teve um intermediário sem vínculo com a indústria de vacinas – o que foge do padrão das negociações e contratos de outros imunizantes.
O Ministério da Saúde firmou um contrato de R$ 1,6 bilhão para a compra de 20 milhões de doses. O valor ainda não foi pago, mas está empenhado (reservado para desembolso), e as doses não foram importadas para o Brasil.
O presidente Jair Bolsonaro foi alertado sobre as supostas irregularidades. Durante sessão da CPI na noite dessa sexta-feira (25/6), o nome do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR) foi citado em depoimento do deputado Luís Miranda (DEM-DF).
Segundo Miranda, Barros foi mencionado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como o “dono do rolo” no processo de negociação da Covaxin.