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Renan usa poema de Castro Alves para criticar “patriotismo” de Bolsonaro

Relator da CPI da Covid-19 destaca, em capítulo dedicado aos povos indígenas, que “facção radical” sequestrou símbolo nacional

atualizado

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Edilson Rodrigues/Agência Senado
Renan Calheiros_CPI da Covid
1 de 1 Renan Calheiros_CPI da Covid - Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) usou trecho do poema O Navio Negreiro, de Castro Alves, no relatório enviado aos senadores da CPI da Covid-19 para criticar, na acusação de genocídio dos povos indígenas, a instrumentalização da bandeira brasileira por aliados do presidente Jair Bolsonaro.

No capítulo dedicado aos indígenas, o relator apresenta algumas pesquisas para corroborar sua tese e destaca que a bandeira pertence a todos os brasileiros, independentemente de convicções políticas, raças ou credos. “Mas a facção radical autoproclamada dona do patriotismo, que sequer conseguiu fundar um partido político – o que não é particularmente difícil no Brasil –, sequestrou esse símbolo nacional como se ele refletisse não um país, mas a sua ideologia ultraconservadora”, diz.

Após a crítica direta, o relatório traz críticas em poema: “Existe um povo que a bandeira empresta/ P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!… /E deixa-a transformar-se nessa festa / Em manto impuro de bacante fria!… /Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,/ Que impudente na gávea tripudia? / Silêncio. Musa… chora, e chora tanto / Que o pavilhão se lave no teu pranto! …”, diz a primeira estrofe do trecho VI de O Navio Negueiros, e segue:

“Auriverde pendão de minha terra, / Que a brisa do Brasil beija e balança, / Estandarte que a luz do sol encerra / E as promessas divinas da esperança… / Tu que, da liberdade após a guerra, / Foste hasteado dos heróis na lança / Antes te houvessem roto na batalha, / Que servires a um povo de mortalha!…”

Após o poema, o parlamentar usa da licença poética para continuar criticando: “A conclamação a morrer de pé na pandemia, zombando do luto alheio e das cautelas recomendadas pela ciência, fez da bandeira, injustamente, a mortalha de milhares de brasileiros. Precisamos colocar as coisas nos seus devidos lugares. Verdadeiros patriotas são os que defendem e edificam o país ao qual pertencem, não os que incitam divisões e ódios sectários, insensíveis às mortes alheias”, afirma.

“Usar o patriotismo como justificativa para esbulhar terras, suprimir identidades e buscar a integração forçada é negar aos indígenas seu justo lugar como parte de um povo soberano, unido na diversidade”, acrescentou.

Castro Alves (1847-1871) é um dos principais poetas do Romantismo brasileiro. Ele ficou conhecido como Poeta dos Escravos por seus poemas com críticas sociais e de cunho abolicionista.

Veja o relatório:

Relatório final da CPI da Covid-19 by Metropoles on Scribd

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