Redes: uso político de internação cria ambiente raivoso para Bolsonaro
Medição da AP Exata aponta que menções negativas ao presidente subiram 10 pontos percentuais nos dois primeiros dias de hospitalização
atualizado
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A rejeição ao uso político da hospitalização do presidente Jair Bolsonaro, feita por apoiadores do governo, contou com forte reação negativa nas redes sociais nesta semana.
Levantamento realizado pela empresa AP Exata, de menções no Twitter, aponta que, antes da internação, Bolsonaro contava com um índice de 37% de menções positivas, média que vem se mantendo nos últimos meses, após perder a dominância nos primeiros meses deste ano.
A partir da última quarta-feira (14/7), as menções negativas ao presidente disparam de 63%, para 71%, e chegando a 73% na quinta-feira (15/7), dia em que o entorno do presidente passa a explorar com mais afinco seu estado de saúde.
Além de demonstrar que internação não foi um bom negócio para causar comoção nas redes, o levantamento apontou que, a partir da sexta-feira, o assunto perdeu relevância, visto que houve a notícia de que não seria necessária uma nova cirurgia.
Foi na quinta que o presidente publicou nas redes sociais uma série de mensagens na qual ele relembra a facada que tomou na campanha em 2018, ataca partidos de oposição e membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19.
“E daí?”
De acordo com o diretor da empresa e responsável pelo levantamento, Sérgio Denicoli, nos dois primeiros dias de internação, houve picos de menções negativas ao presidente, acompanhado de um ambiente bastante raivoso, com o predominância das frases ditas por Bolsonaro que demonstraram descaso com as vítimas da Covid-19.
“As pessoas rejeitaram o aproveitamento político da internação. Além disso, houve um ambiente muito raivoso para Bolsonaro, com as pessoas repetindo as narrativas que ele fez durante a Covid-19. As pessoas replicaram a insensibilidade que ele demonstrou perante as vítimas”, avaliou Denicoli, com base na plataforma de monitoramento dos presidenciáveis.
A plataforma também analisa o caráter das menções, avaliando sentimentos como confiança, tristeza, raiva, alegria, antecipação, surpresa, desgosto e medo.
“A internação do presidente durante a semana mostrou que Bolsonaro perdeu a capacidade de criar comoções no país, como havia ocorrido no episódio do atentado à faca, em 2018. Desta vez, a tentativa do uso da condição de saúde do presidente para atacar a esquerda e tentar comover o país não surtiu o efeito desejado pelos estrategistas do governo. As redes, majoritariamente, rejeitaram a vitimização, o que fez as menções negativas ao presidente subirem exponencialmente, atingindo picos de 73% no Twitter”, analisou Denicoli.
“A oposição considerou todo o episódio uma farsa para distrair o público das revelações da CPI da Pandemia e não mostrou compaixão. Eles reforçaram que o clã Bolsonaro estaria fazendo aproveitamento político da saúde do presidente e utilizaram frases ditas por Bolsonaro durante a pandemia, para comentar o episódio. ‘E daí?’, ‘não sou coveiro’, ‘chega de frescura, de mimimi’, ‘vai ficar chorando até quando’ e ‘tem que deixar de ser maricas’ foram as mais usadas”, concluiu.
Muitos opositores disseram torcer pela recuperação do presidente, para que ele “seja preso” e “pague” pelo que consideram crimes cometidos.
“Bolha”
As medições apontaram que apenas convertidos ao bolsonarismo se sentiram tocados, o que fez com que o sentimento de tristeza crescesse cerca de dois pontos ao longo da semana. O pedido de orações pelo presidente foi muito compartilhado somente entre os apoiadores.
Antes, segundo Denicoli, Bolsonaro apresentava uma boa capacidade de comover pessoas fora do Bolsonarismo, fenômeno que não se observou neste episódio de internação.
“Os sentimentos de medo e tristeza dominaram os posts que mencionaram Bolsonaro e a confiança caiu abruptamente”, avaliou.