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Redes sociais e ministros já encarnam projeto de Bolsonaro para 2022

Com grupos atuantes no Facebook, aliados de presidente repetem estratégia que ajudou a elegê-lo em 2018 e articulam reeleição

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Alan Santos /PR
Jair BOlsonaro recebido por multidão
1 de 1 Jair BOlsonaro recebido por multidão - Foto: Alan Santos /PR

Frequentador assíduo do Palácio do Planalto, o deputado Hélio Lopes (PSL-RJ) engrossou o coro da reeleição do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais. Ao responder à jogadora de vôlei de praia Carol Solberg, que gritou “Fora Bolsonaro” após ganhar medalha de bronze, o deputado escreveu #BolsonaroAté2026em sua conta no Twitter, com 295 mil seguidores.

Somente no Facebook, plataforma utilizada pelo presidente para postar suas lives semanais, mais de 30 grupos estão ativos defendendo a reeleição dele. “Bolsonaro 2022”, por exemplo, tem quase 170 mil seguidores; “Bolsonaro Presidente 2022” tem 106 mil, “Fechados com Bolsonaro 2022” atinge 68 mil e “Somos 57 milhões de Bolsonaro 2022”, 53 mil. Nas demais mídias sociais não é diferente: existem inúmeros grupos de apoiadores no WhatsApp e no Twitter.

O movimento das redes foi um dos principais condutores da vitória de Bolsonaro na campanha de 2018 pelo Palácio do Planalto. Agora, a dois anos da próxima disputa, aliados do presidente já articulam a renovação do projeto de poder. O post de Hélio Lopes revelou alguns desses grupos de apoio nas redes e, entre eles, #BolsonaroAté2026 vem ganhando cada vez mais adeptos.

O deputado, porém, desconversa quando questionado sobre o tema, dizendo que é “muito cedo para falar de reeleição”. Na prática, porém, a construção da nova candidatura de Bolsonaro segue em ritmo acelerado. No dia 29 de agosto, por exemplo, o ministro das Comunicações, Fabio Faria, publicou no Twitter uma mensagem acompanhada da foto de Bolsonaro em uma inauguração de obra no Rio Grande do Norte. Nela, Faria escreveu que o presidente está “crescendo e impondo sua agenda de campanha”.

Ao Estadão, o ministro afirmou, depois, que se referia ao cumprimento de promessas feitas em 2018. “A pessoa promete na campanha, se elege e cumpre. A ordem é essa. As promessas do próximo mandato ele fará na campanha de 2022. E entregará após a eleição”, disse Faria.

A construção do projeto da reeleição passa pela disputa municipal de novembro. Em São Paulo, por exemplo, Bolsonaro apoia a candidatura do deputado Celso Russomanno (Republicanos) para a sucessão do prefeito Bruno Covas (PSDB). O acordo com Russomanno – hoje em primeiro lugar, com 26% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo – foi definido depois do movimento desencadeado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), padrinho de Covas. Doria ajudou a fechar o acordo com o MDB. Com isso, o vereador Ricardo Nunes (MDB) se tornou vice de Covas.

A estratégia deixou evidente para Bolsonaro que o PSDB, o MDB e o DEM estarão unidos na disputa pela presidência da Câmara, em fevereiro de 2021, e podem compor uma aliança ainda maior em torno de Doria na corrida ao Planalto, em 2022. O governo começou a agir, então, para rachar o MDB. O publicitário Elsinho Mouco, que trabalhou como marqueteiro do ex-presidente Michel Temer e do partido, cuidará agora dos programas de rádio e TV de Russomanno.

Popularidade

As últimas pesquisas com a avaliação do governo animaram o Palácio do Planalto. Levantamento do Ibope feito entre os dias 17 e 20 de setembro indicou que 40% dos brasileiros consideram a administração Bolsonaro ótima ou boa, 11 pontos a mais do que em dezembro de 2019. O índice é o maior desde o início do mandato.

“Minha crescente popularidade importuna adversários e grande parte da imprensa, que rotulam qualquer ação minha como eleitoreira. Se nada faço, sou omisso. Se faço, estou pensando em 2022”, afirmou o presidente, no dia 28. Era uma referência à briga sobre como financiar o Renda Cidadã, programa que vem sendo desenhado para substituir o Bolsa Família.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, também embarcou no projeto da reeleição. Em recente reunião com deputados, Guedes disse que o Renda Cidadã era “dinheiro na veia do povo”, como mostrou o Estadão. Na sexta-feira, porém, diante do mau humor do mercado e de novas divergências com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, Guedes comprou mais uma briga. “Você furar o teto (de gastos) para fazer política, para ganhar eleição (…), isso é irresponsável com as futuras gerações”, criticou o chefe da equipe econômica.

O crescimento de Bolsonaro ocorreu na esteira da liberação do auxílio emergencial, que, mesmo com o valor reduzido pela metade (de R$ 600 para R$ 300), será pago até dezembro – daí a preocupação do Planalto do que pode ser feito para injetar “dinheiro na veia” sem ferir o ajuste fiscal.

Depois da ajuda mensal, a aprovação do governo aumentou no Nordeste, antigo reduto do PT e região mais atendida pelo benefício. “Com certeza o eleitorado vai reconhecer isso nas próximas eleições. A política de transferência de renda será importante para o presidente em 2022”, disse o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), que recentemente viajou com Bolsonaro para Coremas, na Paraíba.

Roteiro

Mesmo com a pandemia do coronavírus, Bolsonaro voltou a fazer viagens pelo país, normalmente às quintas e sextas-feiras, e, ao menos uma vez por semana, tem escolhido uma cidade do Nordeste. As cerimônias de inauguração de obras pelo País têm sido vistas por seus adversários como agendas pré-eleitorais em um ano politicamente importante, com disputas para prefeituras e Câmaras de Vereadores em novembro.

“O presidente está fazendo duas viagens por semana e a tendência é manter o cronograma. Espero consolidar bem a base e que a agenda de reformas dê certo para terminar bem o governo”, disse o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), recusando-se a falar sobre 2022. “Não estou autorizado a falar sobre isso. Estão todos olhando para eleições municipais e 2022 está longe.”

O time de articuladores políticos, porém, já está em ação para preparar a disputa. Na construção do projeto de 2022 estão, além de Fábio Faria, os ministros-generais Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e os chamados “tocadores de obras”, como Rogério Marinho e o titular da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.

Faria e Marinho têm como ativo o fato de serem oriundos do Congresso e representantes do Nordeste. Ao ministro das Comunicações, por exemplo, é atribuído o feito de ter amenizado os conflitos diários do presidente com a imprensa e os demais poderes. Marinho, por sua vez, ajuda Bolsonaro a se aproximar dos Estados nordestinos com “entregas” de sua pasta.

Braga Netto assumiu o posto de “gerente da Esplanada” em março e é o pai do Pró-Brasil, programa que aposta no investimento público para retomada econômica no pós-pandemia. Secretário de Assuntos Estratégicos (SAE), o almirante Flávio Rocha, por sua vez, é apontado como um dos auxiliares mais influentes no gabinete presidencial.

Ao grupo político se junta também Fábio Wajngarten, o secretário executivo do Ministério das Comunicações que continua com gabinete no segundo andar do Planalto. Wajngarten tem forte ligação com a colônia judaica, com os evangélicos e com o bispo licenciado da Igreja Universal, deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP).

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