Ramos diz que tentou acertar “solução intermediária” para a PF com Moro
Ministro da Secretaria de Governo foi ouvido nesta terça-feira (12) no inquérito que apura suposta interferência de Bolsonaro na PF
atualizado
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O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, depôs nesta terça-feira (12/05) à Polícia Federal no âmbito do inquérito que apura uma suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na corporação. A oitiva do ministro ocorreu no Palácio do Planalto. No depoimento, ele afirmou que chegou a sugerir, por telefone, ao então ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro o que classificou como uma “solução intermediária” para o comando da PF.
“Que na tarde do dia 23 de abril, o depoente, por iniciativa própria e sem conhecimento do presidente Jair Bolsonaro, decidiu fazer uma ligação para o ex-ministro Sergio Moro com o objetivo de buscar uma solução para o impasse sobre a troca do diretor-geral. Que o depoente perguntou ao ex-ministro Sergio Moro se ele aceitaria uma solução intermediária em que fosse apresentada uma lista com outros nomes para que o depoente pudesse levar ao presidente da República para apreciação”, registra o depoimento.
Ramos informou que Moro teria respondido que indicaria “apenas o nome do delegado da Polícia Federal Disney Rossetti e que, além disso, não aceitaria mais ouvir falar em troca de superintendentes ou de diretor-geral”.
Isso teria ocorrido na véspera da demissão de Moro, quando vazou a inconformidade do ex-juiz com a insistência de Bolsonaro na troca do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.
Mudanças no fim do depoimento
Ramos primeiro afirmou que na reunião do dia 22 de abril “não foi mencionado pelo presidente que se não pudesse trocar o diretor-geral da Polícia Federal ou o superintendente da Polícia Federal no estado do Rio de Janeiro ele trocaria o próprio ministro” e que na presença dele, Ramos, isso “não foi dito” por Bolsonaro “na reunião de 22 de abril ou em qualquer outro momento”.
No fim do depoimento, entretanto, Ramos pediu duas retificações, nestes dois casos: que as afirmações assertivas fossem trocadas por construções menos categóricas: “que ele não se recorda” da referência às trocas na PF ou do ministro e “que não se lembra” se o presidente falou disso com ele na reunião ministerial ou em outro momento. Com isso, o ministro tentou evitar ser desmentido caso haja algum registro no vídeo, hoje em posse do Supremo Tribunal Federal (STF) e que pode ter sigilo levantado pelo ministro Celso de Mello.
A defesa de Sergio Moro afirmou ser contra as mudanças, por considerar que elas configurariam “alteração material”, mas elas foram consignadas mesmo assim.
O inquérito foi aberto após o agora ex-ministro da Justiça Sergio Moro delatar uma suposta tentativa de interferência política do presidente na corporação. Além de Ramos, os ministros Braga Netto (Casa Civil) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) também prestaram depoimento à PF.
Em comum, os três participaram da última reunião ministerial com Sergio Moro, em 22 de abril, cujas imagens e diálogos compõem parte do inquérito que investiga Moro e o presidente Jair Bolsonaro.