Racismo contra Vini Jr.: governo brasileiro cobra Fifa e diz que acionará MP da Espanha
Anúncio sobre ação do governo brasileiro foi feito pela ministra Anielle Franco. Vinícius Jr. sofreu ataques racistas, de novo, no domingo
atualizado
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A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou em coletiva de imprensa, na manhã desta segunda-feira (22/5), que o governo brasileiro acionou o Ministério Público da Espanha contra a Primeira Divisão da Liga de Futebol Profissional, conhecida como La Liga. A medida foi anunciada após mais um caso de racismo contra o atacante Vinícius Junior, do Real Madrid.
Em nota conjunta (veja mais abaixo), pelo menos cinco ministérios pedem providências por parte do governo espanhol, de entidades esportivas daquele país e da própria Fifa.
Segundo Anielle Franco, o governo “vai para cima das autoridades”. “Notificar e oficializar também, para que tenha resposta. Porque o histórico da La Liga não é bom, mas bem racista. Ontem mesmo, o próprio presidente [de La Liga] quis colocar o Vini como sendo culpado por ter vivido o racismo. Estamos aqui em conjunto com o governo, com muita seriedade e afinco”, disse a ministra.
“Quando a gente começou a pegar o histórico da La Liga, a gente viu que casos como esse já haviam ocorrido, e a La Liga não se posicionou. É inadmissível que o presidente culpe o Vinícius. Com o governo da Espanha, com a ministra da Igualdade [da Espanha], Irene [Montero], a gente vai, através do Ministério Público, notificar para que seja investigada La Liga e outros vários casos”, afirmou.
A pasta anunciou, no domingo (21/5), que iria notificar autoridades da Espanha e a La Liga, responsável pelo Campeonato Espanhol de futebol. O Ministério das Relações Exteriores também vai chamar a embaixadora da Espanha no Brasil, Mar Fernández-Palacios, para cobrar uma posição ante os atos criminosos contra o atleta.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, durante pronunciamento sobre a viagem ao Japão, que atitudes devem ser tomadas pela Fifa e pela Liga Espanhola para cessar os casos de racismo no futebol.
“Penso que é importante que a Fifa, a Liga Espanhola e as ligas de outros países tomem sérias providências, porque não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dentro do estádio de futebol”, declarou Lula.
Os ministérios das Relações Exteriores, da Igualdade Racial, da Justiça, do Esporte e dos Direitos Humanos e da Cidadania divulgaram uma nota conjunta em que repudiam os ataques a Vini Jr. Também pede a autoridades governamentais e esportivas da Espanha que tomem providências.
O documento também apela à Fifa, organização que toma conta do futebol mundial, à La Liga e à Federação Espanhola para aplicar as medidas cabíveis.
Veja a nota na íntegra:
“O governo brasileiro repudia, nos mais fortes termos, os ataques racistas que o atleta brasileiro Vinícius Júnior vem sofrendo reiteradamente na Espanha.
Tendo em conta a gravidade dos fatos e a ocorrência de mais um inadmissível episódio, em jogo realizado ontem, naquele país, o governo brasileiro lamenta profundamente que, até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo. Insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos. Apela, igualmente, à Fifa, à Federação Espanhola e à Liga a aplicar as medidas cabíveis.
O governo brasileiro tem atuado em cooperação com o governo da Espanha para coibir, reprimir e promover políticas de igualdade racial e compartilhar conhecimento e boas práticas para ampliar o acesso de pessoas afrodescendentes e imigrantes ao esporte com total intolerância a toda e qualquer prática discriminatória, com o apoio ao aperfeiçoamento das melhores práticas internacionais para promover a prevenção e o combate ao racismo, além de qualquer tipo de discriminação nas diferentes modalidades de esportes”.
Entenda o caso
Tudo começou quando o brasileiro estava driblando e foi atrapalhado por uma segunda bola em campo. Seus companheiros de equipe ficaram indignados com a situação, e a torcida do Valencia começou a hostilizar o Real Madrid.
Vini foi xingado por parte da torcida e apontou para o setor de onde partiam os gritos de “macaco”. O árbitro Ricardo de Burgos paralisou a partida. Revoltado, Vini apontou para um setor da torcida e afirmou que as ofensas vieram dali.
No fim do jogo, uma confusão entre vários jogadores dos dois times paralisou novamente o jogo. O camisa 20 do Real Madrid deu um tapa em um atleta rival após sofrer um mata-leão e recebeu cartão amarelo. A arbitragem usou o VAR no lance e trocou a punição para um cartão vermelho.