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Bolsonaro aumenta ritmo de saidinhas apesar de pandemia do coronavírus

Assim como o presidente, apoiadores ignoram o isolamento social recomendado pela OMS e se aglomeram por onde o chefe do Executivo passa

atualizado

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia do novo coronavírus em 11 de março. Mesmo assim, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aumentou o ritmo de passeios ao ar livre, fora da agenda, que costumam aglomerar simpatizantes. Nas ocasiões, nem Bolsonaro nem apoiadores costumam usar máscara protetora.

As aglomerações vão na contramão do que orienta a própria OMS e o Ministério da Saúde, hoje comandado por Nelson Teich, que recomendam o isolamento social.

Levantamento do Metrópoles mostra que, após ser declarada a pandemia da Covid-19, Bolsonaro deixou o Palácio do Planalto, local de onde trabalha, ou o Palácio da Alvorada, sua residência oficial, sete vezes. Em fevereiro, foram cinco saídas fora da agenda. A pesquisa teve como base dados da mídia entre 1º de fevereiro e 24 de abril.

Segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde, o Brasil tem 3.670 mortes ocasionadas pela Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, e 52.995 casos confirmados.

O Metrópoles entrou em contato com o Palácio do Planalto e com o Ministério da Saúde, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Relembre  as saídas do presidente
De acordo com o recorte utilizado no levantamento, a primeira saída do presidente fora da agenda oficial, feita antes da pandemia do coronavírus ser declarada, foi em 8 de fevereiro, um sábado. Na data, Bolsonaro participou de um evento religioso, realizado no Estádio Mané Garrincha.

“É muito bom estar entre amigos. Estou aqui porque acredito no Brasil, e nós estamos aqui porque acreditamos em Deus. O Brasil mudou. Palavras antes proibidas começaram a se tornar comuns: Deus, família, pátria. Somos um só povo, uma só raça”, declarou na ocasião.

Em 13 de fevereiro, Bolsonaro fez um intervalo durante o expediente no Palácio do Planalto, e foi almoçar em um boteco na Vila Planalto, região administrativa de Brasília.

O almoço não constava na agenda do presidente e surpreendeu até mesmo assessores próximos dele, que não sabiam dizer, com precisão, onde o chefe do Executivo tinha ido comer.

Bolsonaro foi acompanhado pelo general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Ele ainda atendeu a pedidos de pessoas que estavam no local e posou para fotografias.

Em um domingo, 16 de fevereiro, o presidente foi ao jogo do Flamengo contra o Athletico Paranaense, que valia título da Supercopa do Brasil. A partida ocorreu no Estádio Mané Garrincha e terminou com vitória  de 3 x 0 do time carioca sobre o clube paranaense.

O chefe do Executivo compareceu à partida acompanhado do vice-presidente, Hamilton Mourão, ministros e o deputado federal Helio Lopes (PSL-RJ).

As duas últimas saídas de Bolsonaro antes de declarada pandemia do coronavírus foram feitas durante o feriado de Carnaval, quando o presidente viajou para a unidade do Exército no Guarujá, em São Paulo.

Na primeira ocasião, em 22 de fevereiro, Bolsonaro fez uma caminhada, foi a uma padaria e a dois supermercados. O presidente parou para conversar e, de praxe, tirar fotos com apoiadores.

Em 24 de fevereiro, o presidente fez um passeio de motocicleta no Guarujá, na Baixada Santista. Detalhe: Bolsonaro cometeu uma infração de trânsito ao sair sem que o capacete estivesse preso ao pescoço.

Segundo a Resolução nº 453 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), de 2013, “é obrigatório, para circular nas vias públicas, o uso de capacete motociclístico pelo condutor e passageiro de motocicleta, motoneta, ciclomotor, triciclo motorizado e quadriciclo motorizado, devidamente afixado à cabeça pelo conjunto formado pela cinta jugular e engate, por debaixo do maxilar inferior”.

Apesar disso, a prefeitura de Guarujá informou à época que não multaria o presidente pela infração de trânsito.

Quatro dias depois de a Organização Mundial da Saúde declarar pandemia do novo coronavírus, Bolsonaro descumpriu a recomendação de isolamento e participou de uma manifestação a favor do governo, em 15 de março.

Inicialmente, o presidente percorreu, de carro, o lado oposto da Esplanada dos Ministérios, retribuindo os acenos de manifestantes. Logo depois, Bolsonaro entrou no Palácio do Planalto, onde cumprimentou dezenas de apoiadores, tocando nas mãos deles.

Em 29 de março, o presidente circulou pelo Distrito Federal. Depois de deixar o Palácio da Alvorada, seguiu para um posto de gasolina, onde tirou fotos com frentistas, e conversou com algumas pessoas que estavam por lá. Ele ainda visitou uma farmácia, uma padaria e um supermercado no Sudoeste, região administrativa do DF.

Depois, o presidente se dirigiu ao Hospital das Forças Armadas (HFA), onde ficou por aproximadamente 20 minutos. O chefe do Executivo ainda foi ao centro de Ceilândia, cidade mais populosa do Distrito Federal, e também ao centro de Taguatinga.

Nas ruas, a presença do presidente provocou aglomerações, contrariando as orientações das autoridades de Saúde.

Em 9 de abril, logo após encerrar o dia no Planalto, o presidente quebrou o isolamento social e foi a uma padaria na 302 Norte, em Brasília. A presença de Bolsonaro provocou uma aglomeração no local, como de costume.

Acompanhado do filho e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, o presidente comeu um sonho e tomou refrigerante. O chefe do Executivo não usou máscara enquanto esteve no local.

No dia seguinte, Bolsonaro deixou o Alvorada e foi novamente ao HFA, à farmácia e conversou com apoiadores. Na ocasião, o presidente foi flagrado limpando o nariz com o braço e em seguida cumprimentando uma idosa.

Em 11 de abril, durante visita à obra de um hospital de campanha federal em Águas Lindas (GO), o chefe do Executivo também fez fotos e abraçou apoiadores. Ele estava na companhia do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e do governador Ronaldo Caiado (DEM).

O presidente Bolsonaro voltou a provocar aglomeração de apoiadores em frente ao Palácio do Planalto em 18 de abril.

No local, o presidente permaneceu por cerca de 50 minutos na rampa do Planalto, conversando com seguranças e acenando para alguns poucos apoiadores que estavam na grade do local de trabalho de Bolsonaro.

Questionado por jornalistas se teria algum compromisso no local, o chefe do Executivo disse que foi ao Planalto para “ver o movimento”.

Passado quase uma hora da presença do presidente no Planalto, Bolsonaro desceu a rampa e conversou com apoiadores, dessa vez, aglomerados em um número bem maior. Algumas pessoas usavam máscaras, mas a maioria estava sem a proteção.

Nesse dia, o presidente voltou a atacar adversários, e disse que “políticos” que apoiam medidas de isolamento contra o novo coronavírus e oferecem ajuda financeira a estados têm o objetivo de “abalar a Presidência”.

“O Brasil está mergulhando no caos. Quero crer que não seja uma vontade desses políticos, que não vou nominar aqui, que querem abalar a Presidência”, alfinetou. “Não vão me tirar daqui.”

Na última e mais recente aparição contrariando recomendação de autoridades da Saúde, Bolsonaro não só participou, mas discursou durante ato em Brasília que defendia uma intervenção militar.

Essa foi a maior aglomeração onde Bolsonaro esteve desde que o Brasil adotou medidas a favor do isolamento.

Do alto de uma caminhonete, o presidente disse que ele e seus apoiadores não queriam negociar nada e voltou a criticar o que chamou de “velha política”.

“Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder.”

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