PSol vai à PGR contra mudanças na Comissão de Mortos e Desaparecidos
A representação avalia que a decisão do presidente Bolsonaro é um “escárnio” com a história recente do Brasil
atualizado
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A bancada do PSol na Câmara apresentou nesta sexta-feira (02/08/2019) à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma representação contra a nomeação feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) de novos membros para a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, entre eles o coronel reformado Weslei Maretti.
De acordo com líderes do partido, a decisão tomada por Bolsonaro tem como objetivo impedir o funcionamento da comissão e representa “um escárnio com a história recente do Brasil e com as vítimas do regime militar”.
A substituição ocorreu após críticas dos antigos membros às declarações do presidente a respeito da morte de Fernando Santa Cruz, desaparecido desde 1974, após ser preso por agentes do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão de repressão da ditadura militar. Ele é pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, que vem recebendo críticas de Jair Bolsonaro.
Para o PSol, o presidente extrapola os limites de seu poder e não se conforma com as conclusões da comissão, que são baseadas em anos dedicados a pesquisas e estudos envolvendo especialistas na área.
“Isso configura abuso de poder do presidente, que o utiliza para atingir uma finalidade distinta daquela para a qual foi investido no cargo, para satisfazer um desejo pessoal que é descolado da realidade e, em última instância, para mentir para a população sobre o que efetivamente aconteceu durante a ditadura militar”, disse o líder do PSol, deputado Ivan Valente.
Representação PGR Comissão Sobre Mortos Final by Anonymous JoGhJ4o on Scribd
Comportamento nas redes
Ao apresentar a reclamação, o partido observou que Wesley Maretti já classificou várias vezes, em suas redes sociais e pronunciamentos, os participantes da guerrilha armada como “terroristas” e os militares do golpe de 1964 como “defensores da lei”.
Segundo o partido, o indicado de Bolsonaro tem “empatia com as crenças do presidente, incluindo a admiração pelo torturador coronel Brilhante Ustra”, referindo-se ao coronel do Exército Brasileiro que chefiou, na época da ditadura, o órgão de repressão.
A representação enviada à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, também condena a nomeação do deputado Felipe Barros (PSL-PR), que ocupa, por decisão de Bolsonaro, a presidência da comissão, no lugar do deputado Paulo Pimenta, líder do PT na Câmara.
“O Deputado Filipe Barros Baptista de Toledo Ribeiro também possui posição claramente incompatível com o objeto da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Para se ter uma ideia do grau de incompatibilidade, o Deputado comemorou o Golpe Militar de 1964 em suas redes sociais no último dia 31 de março, ignorando o sofrimento, a dor e a perda das vítimas do regime militar e de seus familiares, muitos dos quais têm nos trabalhos da Comissão a última esperança para encontrar os restos mortais de seus entes queridos”, destaca o texto.