PSL “infiel” se une ao PSol para desidratar reforma dos militares
Delegado Waldir tirou membro de comissão e passou a defender que militares de baixa patente tenham o mesmo reajuste que os oficiais
atualizado
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O racha no PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro e dono da segunda maior bancada na Câmara dos Deputados, já contamina as pautas do governo no Congresso Nacional. O presidente da Comissão Especial que debate a Reforma da Previdência dos militares, deputado federal José Priante (MDB-PA), encerrou uma sessão nessa quarta-feira (16/10/2019) exasperado ao ver o então líder do PSL na Casa, Delegado Waldir (GO), se unir à bancada do PSol em um esforço para aumentar o reajuste de praças e soldados, desidratando a economia prevista pelo governo. Horas depois, a liderança de Waldir seria desafiada pela ala da legenda ligada ao mandatário do país.
“Tem algo de errado acontecendo, né? Eu dei um tempo para eles [PSL] respirarem. Vou remarcar para a próxima terça-feira a retomada”, disse Priante, que aproveitou o início da sessão no Plenário da Câmara para ter a desculpa de encerrar o encontro da comissão após quase três horas de muito bate-boca acompanhado de perto por militares de todas as patentes.
O emedebista trabalha para cumprir a expectativa de economia feita pelo governo ao enviar o projeto. A promessa é de economia de R$ 97,3 bilhões em 10 anos com a reforma na aposentadoria dos militares. Como os reajustes previstos na reestruturação que está no mesmo texto devem custar R$ 86,65 bilhões no mesmo período, o saldo da economia fica em R$ 10,4 bilhões em 10 anos.
A reforma previdenciária dos militares sofre intensa pressão corporativa, pois, além de tratar de reajustes e restruturação para os membros das Forças Armadas, inclui policiais militares e bombeiros dos estados e do Distrito Federal. O Metrópoles já mostrou que o texto prevê que oficiais de alta patente podem alcançar um aumento de até 73%, enquanto um soldado não conseguirá reajuste superior a 12%.
A situação levou representantes de praças e soldados a se aliarem com partidos da esquerda, como o PSol, que defendem reajuste igualitário para todos os níveis da tropa.
A virada no comportamento do PSL ocorreu com uma troca de integrantes, que é uma prerrogativa da liderança do partido – cuja distância do governo só cresce. O deputado federal Vitor Hugo (PSL-GO), líder do governo na Câmara e defensor do texto idealizado pela equipe econômica, foi trocado pelo até então líder sem contestação do PSL na Casa, o deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO), que é um dos porta-vozes da ala radicalizada.
Segundo ele, Vitor Hugo não estava defendendo as bases das corporações. “A gente trouxe esse apoio para que a readequação das Forças Armadas contemple não apenas os generais, que merecem, mas também soldados, cabos e sargentos”, discursou.
Com essa posição, Waldir se aliou à bancada do PSol, que apresentou emenda ao texto igualando os reajustes de oficiais e praças. “Ele pode estar fazendo isso apenas para se contrapor ao governo, mas, para nós, não importa. Importa o fortalecimento da pauta, porque o texto do governo é muito injusto e não pode passar assim. É um texto que privilegia os oficiais”, disse o deputado federal Glauber Braga (PSol-RJ). Ainda não há uma estimativa de quanto essa mudança custaria em termos econômicos.
O líder do PSL revelou que recebeu uma ligação do ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, pedindo que ele mantivesse Vitor Hugo no colegiado, para que o relatório feito pelo deputado federal Vinicius Carvalho (Republicanos-SP) fosse votado logo, mas não cedeu.
“Eu defendo o que é justo. Vou defender o tratamento igualitário. Sou discípulo do presidente Bolsonaro e, se ele estivesse aqui [como deputado federal], estaria defendendo os 400 mil praças que existem nas Forças Armadas do Brasil”, concluiu o Delegado Waldir.
A comissão especial que trata da reforma da Previdência e da reestruturação da carreira dos militares volta a se reunir na próxima terça-feira (22/10/2019).