PSL é demonizado em grupos bolsonaristas no WhatsApp
Militância valoriza a imagem do presidente e prepara narrativa para justificar um possível desembarque da legenda
atualizado
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A temperatura da crise pública entre o presidente Jair Bolsonaro e o seu partido, o PSL, caiu vários graus após a série de eventos da última quarta-feira (09/10/2019), quando um rompimento parecia iminente. Nos bastidores, porém, a instabilidade persiste e contamina a militância. Em grupos de mensagens no WhatsApp que reúnem bolsonaristas, está em curso uma campanha de demonização da sigla e de valorização das críticas do presidente.
Muito populares durante a campanha de 2018, esses grupos reduziram sensivelmente a quantidade de material compartilhado desde a eleição, mas continuam ativos e indicam tendências de comportamento da militância. Desde que a crise estourou, a reportagem do Metrópoles monitorou o surgimento de postagens críticas ao PSL. São textos, memes e até mesmo vídeos destacando a importância de Bolsonaro em detrimento da sigla.
Veja alguns exemplos:
Em um vídeo com 10 minutos de duração que está sendo replicado, uma voz questiona: “Antes de 2018, você já tinha ouvido falar no PSL?” Com uma colagem de imagens do presidente em campanha, a narração segue: “O PSL, sem o Bolsonaro, não existe, é o típico aglomerado montado para fazer negócios”. Outro vídeo com a mesma estética diz que o partido, “insignificante antes de Bolsonaro, agora se digladia em uma batalha por poder que nada tem a ver com o Brasil que sonhamos”.
No material, também são usados discursos antigos de Bolsonaro contra o sistema partidário. Os deputados do PSL também não são poupados nas postagens. Algumas dizem que o presidente “carregou todos nas costas, inclusive os traidores que agora o atacam”.
Modo de funcionamento
Apesar de menos volumosos, os grupos da militância bolsonarista no WhatsApp continuam funcionando na lógica da campanha: praticamente não há diálogos e os espaços são usados como repositório de material de propaganda que pode ser útil na “guerra cultural” em outros ambientes virtuais, como os grupos da família ou do trabalho no mesmo aplicativo ou em redes sociais como o Twitter.
Boa parte do material divulgado é baseado em informações falsas ou distorcidas, mas dificilmente algum membro questiona a veracidade de algum post. Quando isso ocorre, normalmente o usuário é acusado de “esquerdista” por outros membros e acaba sendo expulso.
É possível ver que o método e os materiais de propaganda se repetem porque em cada grupo há muitos links para fazer parte de outros grupos, e a lógica se mantém.
Nesses espaços, há temas que são constantes, como os ataques a velhos inimigos, a exemplo do ex-presidente Lula, e assuntos que surgem como respostas a crises. Quando os incêndios na Amazônia estavam abalando o governo, por exemplo, eram comuns textos e vídeos com críticas a personagens como o presidente francês, Emmanuel Macron, que havia antagonizado com Bolsonaro. Agora é a vez do PSL.