PSDB decidirá até o meio-dia se troca relator de denúncia contra Temer
Líder do PSDB na Câmara afirmou esperar, ainda, que Bonifácio de Andrada renuncie à relatoria do processo na CCJ
atualizado
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Após a recusa do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), em indicar um novo relator para a denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) e da confirmação do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) de que não deixará a função, o líder do PSDB na Casa, deputado Ricardo Tripoli (PSDB-SP), afirmou que decidirá até o meio-dia desta quarta-feira (4/10) se manterá ou não o tucano na comissão. O prazo foi anunciado após uma reunião da bancada do partido na Câmara na noite desta terça (3/10).
A retirada de Bonifácio, que é membro suplente da comissão, dependerá de sua decisão em renunciar ou não ao cargo de relator das acusações apresentadas pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente. Mesmo após Andrada ter reiterado que só deixará a relatoria a pedido do presidente da CCJ, Ricardo Tripoli (foto em destaque) diz que “ainda torce” para que o deputado reconsidere sua posição.
O líder dos tucanos na Câmara afirmou que, ainda na noite desta terça (3), interlocutores e e lideranças do partido no Congresso Nacional, incluindo o senador Aécio Neves (PSDB-MG), conversariam com Bonifácio. “Eu espero que ele reflita. Amanhã vai fazer uma semana, espero que seja suficiente”, comentou Tripoli.
O prazo para análise da denúncia na CCJ terá início após a entrega das defesas de Temer e dos ministros Moreira Franco (Secretaria da Presidência) e Eliseu Padilha (Casa Civil) na comissão. A previsão é que os documentos sejam protocolados nesta quarta (4). A partir de então, o colegiado terá o limite de cinco sessões do plenário – ainda prorrogável – para a análise do parecer do relator.O líder pontuou que a decisão de aguardar pela manifestação de Bonifácio foi tomada pela maioria da bancada e que, caso o tucano não reconsidere a relatoria, “todas as possibilidades existem”. A reunião entre os membros do PSDB na Câmara durou cerca de três horas e contou com a presença de 37 deputados. Entre eles, lideranças dos chamados “cabeças pretas”, grupo de parlamentares mais novos que defendem o desembarque da sigla do governo Temer.
“Falta de ética”
Tripoli afirmou que o partido foi “pego de surpresa” com a indicação realizada pelo presidente da CCJ. O líder havia feito um apelo a Rodrigo Pacheco para que não nomeasse um relator da sigla, que votou dividido na primeira denúncia contra Temer. Na CCJ, dos sete deputados tucanos, cinco votaram a favor do prosseguimento do primeiro processo. Assim, Tripoli classificou como “falta de ética” Pacheco não ter consultado a liderança do PSDB antes de indicar Bonifácio de Andrada a relator.
Durante a sessão da CCJ desta terça (3), o presidente da comissão reiterou sua escolha e afirmou que teve de “abstrair” questões político-partidárias na decisão. “Se fosse do PMDB, seria do partido do presidente; se fosse do PT, era oposição; se fosse do DEM, é o partido da linha sucessória. E assim por diante todos os partidos teriam suas limitações”, explicou Pacheco.
Acirrar os ânimos
A indicação de Bonifácio de Andrada como relator da segunda denúncia contra Temer foi novamente criticada por tucanos titulares da CCJ durante a reunião desta tarde. Coordenador da bancada do PSDB no colegiado, o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE) afirmou que, com a decisão de Rodrigo Pacheco em manter Bonifácio na relatoria, a análise dos deputados da sigla sobre a denúncia deixará de ser “exclusivamente jurídica” para se tornar, também, política.
Isso se torna um problema político que vai contaminar todo o processo de análise dessa relatoria. Vou fazer um alerta ao governo que agora comemora essa escolha: o governo tirou a possibilidade de parte da bancada fazer uma análise exclusivamente jurídica para fazer uma verificação política. Só serviu para acirrar os ânimos. E eu não sei aonde isso é favorável ao governo.
Betinho Gomes (PSDB-PE), na CCJ
Segundo o deputado, a escolha do relator seria uma tentativa do Planalto de “cristalizar” a divisão do partido e constranger os parlamentares tucanos na Casa. Gomes disse lamentar que Bonifácio esteja “servindo de instrumento” para a pauta governista. Na primeira denúncia contra o presidente, o relator votou contra a instalação da investigação.