Protestos antirreforma da Previdência têm teatro, reza e greve de fome
Enquanto projeto que altera as regras para aposentadoria tramita na Câmara, movimentos sociais e sindicatos aumentam pressão sobre deputados
atualizado
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Em meio às articulações do Palácio do Planalto para a votação da reforma da Previdência, sindicatos de trabalhadores e movimentos sociais intensificam a pressão sobre parlamentares, em protestos na Câmara dos Deputados. As estratégias utilizadas pelos opositores às mudanças nas regras da aposentadoria vão desde greve de fome a performances artísticas. A expectativa do governo é que a discussão do texto no plenário da Casa tenha início ainda neste ano.
Um grupo de sete manifestantes ligados ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) está há mais de uma semana em greve de fome contra a proposta de reforma da Previdência. O ato teve início no dia 5/12, quando os trabalhadores fizeram a última refeição. Desde então, os camponeses, que comparecem todo dia à Câmara, ingeriram apenas água e soro de hidratação.
No oitavo dia de greve, os manifestantes, que recebem acompanhamento médico, começaram a apresentar dificuldades de locomoção e dores de cabeça e de estômago. “É uma situação extrema, onde você coloca seu bem-estar em jogo, utiliza o seu corpo e a sua saúde para protestar. Mas o que a gente vive hoje, no Congresso, com a reforma da Previdência, é uma situação extrema”, afirmou o porta-voz da coordenação do MPA, Bruno Pilon.Segundo Pilon, o protesto não tem previsão de término, podendo se estender ao limite suportado pelos manifestantes. “Mas, se necessário, as pessoas vão se retirar”, pondera. Além dos sete manifestantes no Congresso Nacional, outros agricultores entraram em greve de fome nos estados de Sergipe, Rondônia e Rio Grande do Sul. O argumento dos movimentos é que, apesar do discurso do governo – de garantia de benefícios aos trabalhadores rurais –, a proposta obrigará a contribuição mensal e individual dos pequenos agricultores.
O movimento recebeu, na tarde desta terça-feira (12/12), a visita do arcebispo metropolitano de Brasília, dom Sergio da Rocha. O religioso se reuniu em torno dos grevistas, conversou por alguns minutos e realizou uma bênção coletiva. O encontro foi acompanhado por deputados e senadores de partidos da oposição.
Pela manhã, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) organizou um “apitaço” em frente ao Anexo 2 da Câmara dos Deputados. O objetivo era protestar contra a audiência pública sobre reforma previdenciária na comissão mista de Orçamento, que contou com a presença do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, e do secretário da Previdência Social, Marcelo Caetano.
Teatro político
Os protestos contra as mudanças nas regras da aposentadoria, na Câmara dos Deputados, também registraram uma performance de integrantes da Escola de Teatro Político e Vídeo Popular. Na apresentação (veja o vídeo), cinco integrantes do grupo encenaram um deputado aprisionando trabalhadores. Os manifestantes caminharam pelo Salão Verde da Casa até o Anexo 2, onde se encontravam os trabalhadores rurais em greve de fome.
“Nós somos cidadãos que pagam a Previdência e têm escutado uma série de mentiras que têm sido ditas a respeito não só dessa reforma, mas de outras. Queremos massificar a resistência”, afirmou o coordenador do grupo, Rafael Villas Bôas. Apesar do reforço da segurança para o acesso ao Congresso Nacional durante a tramitação da reforma, os manifestantes afirmaram que não tiveram problemas em entrar na Câmara.