Procuradores da Lava Jato teriam vazado novidades para forçar delações
Mensagens contradizem o coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, que negou ter passado informações da operação
atualizado
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Procuradores da Lava Jato teriam usado vazamentos com o objetivo de manipular suspeitos, apontam mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil via fonte anônima. O intuito, segundo os próprios integrantes do Ministério Público, seria para intimidar alvos da força-tarefa em Curitiba para que eles fizessem delações.
Os diálogos colocam em xeque o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, que negou em entrevista à BBC Brasil que agentes públicos passassem informações da operação. “Agentes públicos não vazam informações — a brecha estaria no acesso inevitável a dados secretos por réus e seus defensores”, garantiu.
No entanto, em junho de 2015, o procurador Orlando Martello teria perguntado ao colega Carlos Fernando Santos Lima, “qual foi a estratégia de revelar os próximos passos na Eletrobras etc?”. Santos Lima teria dito não saber do que Martello falava, mas afirmaria: “Meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração.”
À época, os procuradores estavam debatendo estratégias para conseguir um acordo de delação com Bernardo Freiburghaus, apontado como operador de propinas da Odebrecht.
“Você tem interesse de publicar isso hoje ou amanhã, mantendo meu nome em off? Pode falar fonte no MPF”, teria dito Dallagnol à jornalista do Estadão em 21 de junho de 2015, após explicar detalhes da ajuda dos Estados Unidos para investigar Bernardo. A notícia foi manchete do jornal no dia seguinte.
Em outra ocasião, procuradores teriam falado em “vazamento seletivo” para a imprensa com a intenção de influenciar um suposto pedido de liberdade para o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
A assessoria de imprensa da Lava Jato negou que os procuradores tenham vazado informações no caso do Estadão e disse que a força-tarefa “jamais vazou informações sigilosas para a imprensa, ao contrário do que sugere o questionamento recebido”.