Prisão de Lula acelera conservadorismo na América Latina, diz jornal
Reportagem do The Wall Street Journal destaca a ascensão de grupos evangélicos e a insatisfação crescente com a ilegalidade
atualizado
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A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva marca uma nova baixa para o socialismo da América Latina e acelera a tendência conservadora no continente, segundo reportagem especial do The Wall Street Journal, nesta segunda-feira (9/4). Com a foto de um outdoor no qual aparece uma propaganda do pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL-RJ), a publicação destaca a ascensão de grupos evangélicos e a insatisfação crescente com a ilegalidade como fenômenos que lideram a guinada à direita no país.
De acordo com o jornal, a esquerda brasileira, “antes vista como moralmente superior”, ficou manchada por seus laços com o governo da Venezuela e pelo escândalo de corrupção na Petrobras, que desencadeou a Operação Lava Jato. Isso teria dado espaço para a parcela mais conservadora da população “sair do armário”, diz a publicação, citando o professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas Matias Spektor.
“Pautas conservadoras a favor de leis que restringem o acesso a armas, reduzem a maioridade penal de 18 para 16 anos e a proibição do aborto até em casos de estupro estão ganhando força no Congresso”, diz a reportagem. O movimento deixa os cidadãos liberais preocupados, uma vez que o Brasil está entre os países com maior desigualdade do mundo, tem racismo enraizado e só começou a avançar em direitos das mulheres e minorias recentemente, segundo o jornal.A tendência conservadora na América Latina teria começado com o afastamento do socialismo desde o fim do boom das commodities liderado pela China. “Com o esvaziamento dos cofres dos governos, a chamada ‘maré rosa’ das lideranças de esquerda começou a baixar, iniciando pela eleição de 2015 na Argentina, que teve Mauricio Macri, empresário de centro-direita, como vencedor”, salienta a reportagem.
No Brasil, a ascensão do conservadorismo estaria traduzida na figura de Bolsonaro, cristão devoto que “se candidata à Presidência com uma plataforma pró-armamento, antiaborto e contra direitos dos homossexuais” e tem cerca de 20% das intenções de voto. A matéria ressalta a comparação frequente do pré-candidato à figura de Donald Trump. “Assim como o presidente americano, Bolsonaro é pai de cinco e agora casado com sua terceira esposa, mas faz campanha como defensor da família tradicional”, diz o texto.
“Seus comentários – inclusive dizer a uma deputada que ela não era bonita o suficiente para ser estuprada – são vistos como sinal de honestidade”, afirmou o The Wall Street Journal. “Em seu sétimo mandato como deputado federal, Bolsonaro continua imune aos principais escândalos do país”.