Prevendo parecer a favor da denúncia, Temer discute estratégias
Segundo aliados, Temer também demonstrou preocupação com uma possível morosidade dos parlamentares e “sangramento” do país
atualizado
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O presidente Michel Temer reuniu ministros de Estado e líderes do governo no Congresso na noite deste domingo (9/7), no Palácio da Alvorada, para garantir uma rápida tramitação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara da denúncia contra ele apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A avaliação feita no Alvorada é que o relatório do deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) será pela admissibilidade da denúncia de corrupção passiva contra o presidente.
A leitura ocorre na tarde desta segunda (10). Para reverter o parecer negativo, a ordem é completar as mudanças necessárias de deputados de partidos aliados. E com isso, ter uma margem de segurança na comissão.São necessários 34 votos para a aprovação do parecer – o colegiado é composto por 66 deputados.
Temer demonstrou preocupação e pediu empenho da base para que a CCJ rejeite a admissibilidade da denúncia por corrupção passiva feita pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, com base nas delações do Grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Embora a denúncia tenha de ir a plenário independentemente do posicionamento da CCJ, a vitória no colegiado tem peso político
O plano é investir na articulação da base para assegurar tanto na CCJ quanto no plenário os votos contrários à denúncia. “O presidente quer acelerar o mais rápido possível. O País não pode ficar sangrando”, disse o deputado Fausto Pinato (PP-SP), que participou da reunião. O governo quer encerrar as discussões até a próxima segunda-feira, véspera do recesso.
Além dos líderes partidários, participaram também do encontro os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral), Antonio Imbassahy (Governo) e Aloysio Nunes (Relações Exteriores) – os dois últimos do PSDB, sigla que hoje em São Paulo volta a discutir a permanência ou o desembarque do governo.
Rejeição
Se o parecer de Zveiter for pró-denúncia, aliados de Temer dizem ter os votos necessários para rejeitá-lo. “Não vou poder agradar a todo mundo, mas não vou fazer nada deliberadamente para desagradar a ninguém”, disse Zveiter à reportagem. Visto como um parlamentar descolado do Planalto, ele reiterou que seu voto será técnico, “totalmente isento” e de acordo com sua “consciência”. “Quem vai dar a solução para o problema e para a população é o plenário”, disse.
Zveiter não pediu mais prazos e cumprirá o acordo de finalizar a votação na CCJ dentro do prazo regimental de cinco sessões plenárias, o que frustrou a oposição. “Se ele votar com o governo, ele vai ficar desmoralizado”, afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
O líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), afirmou que a base está pronta para derrubar um parecer pró-denúncia. Ignorando o movimento que já fala em uma eventual substituição de Temer por Maia, Moura afirmou que o governo terá mais de 40 votos na CCJ e vitória folgada no plenário.
A nossa base está muito coesa, muito unida, e consciente de que não tem nada de maior gravidade no diálogo do presidente com o Joesley. Vencida esta etapa, nós iniciamos, com foco prioritário, o plenário
Deputado André Moura
Margem
Com a atual composição da CCJ, porém, o governo não teria os votos suficientes. Para ter uma margem folgada de 39 deputados, serão feitas mudanças na composição do colegiado. “Trabalhamos para ter uma maioria segura. É muito importante ganhar na CCJ”, disse o líder do PMDB, Baleia Rossi (SP).
Na avaliação da oposição, se o governo precisa trocar membros da comissão é porque a batalha no plenário “está perdida”. “Maioria produzida por substituições é falsa”, disse Alessandro Molon (Rede-RJ).
Para atrasar o cronograma da CCJ e forçar o desgaste do governo, a oposição pretende insistir na aprovação dos requerimentos para convidar Janot e promover o depoimento de Joesley e do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Os pedidos deverão ser indeferidos pelo presidente do colegiado, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG).
A votação do parecer ocorrerá na sexta-feira ou na segunda-feira. Após a CCJ, a denúncia vai para a análise do plenário da Câmara, onde o governo precisará de 172 dos 513 votos para derrubá-la.