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Presos da Lava Jato procuraram médium, tio de ex-BBB, na cadeia

O líder espiritual atendia empreiteiros, doleiros e políticos no Complexo Médico Penal em Curitiba. Em troca, eles pagavam “benfeitorias”

atualizado

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No segundo semestre de 2015, a advogada Isabel Kugler, presidente do Conselho da Comunidade do Complexo Médico Penal (CMP) de Curitiba, estava preocupada com a saúde espiritual do ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque, preso pela Operação Lava Jato desde novembro do ano anterior.

Para ajudar o empresário, Isabel recorreu à ajuda de um antigo colaborador de outros presídios do Paraná: o líder espiritual Frei Bonifácio. Ele, na verdade, era o sírio Nassib Abdo Abage Filho, dono de um tradicional antiquário em Curitiba, sede da operação, que havia feito fama na cidade com seus atendimentos mediúnicos.

“O ex-diretor da Petrobrás, que chegou à cadeia dizendo que não ficaria muito tempo ali, já tinha percebido que não sairia tão cedo e foi tomado por profundo abatimento. A melancolia do burocrata preocupou a advogada, que temia que ele desse cabo da própria vida. A dra. Isabel avaliou que estava fora do mundo terreno a ajuda a Duque”, relata o jornalista Wálter Nunes no livro A Elite Na Cadeia, O Dia a Dia dos Presos da Lava Jato, lançado na semana passada pela editora Objetiva.

O livro narra histórias dos empreiteiros, empresários, doleiros e políticos mandados para a prisão. Nassib continuou atendendo os “lavajatos” por um tempo, mas interrompeu as visitas para se dedicar à torcida de seu sobrinho Kaysar Dadour no reality show global Big Brother Brasil.

O recorte de tempo narrado no livro se inicia em novembro de 2014, quando o então juiz Sérgio Moro, responsável pela 13.ª Vara Federal de Curitiba, mandou prender executivos e empreiteiros como Renato Duque, ex-diretor da Petrobrás, Léo Pinheiro, dono da construtora OAS, Ricardo Pessoa, da UTC, Dalton Avancini, da Camargo Corrêa e o lobista Fernando Baiano, entre outros. Foi a 7.ª fase da Lava Jato, batizada de Juízo Final. “A Lava Jato vira Lava Jato ali, quando coloca um monte de rico dentro da cadeia”, conta Nunes.

Van
Em junho de 2015, os agentes da Polícia Federal bateram na porta da casa do nono homem mais rico do País, com uma fortuna pessoal estimada em R$ 13 bilhões, segundo a revista Forbes. Marcelo Odebrecht recebeu os agentes após sua série diária de braçadas na piscina semiolímpica, quando se preparava para tomar café da manhã. Ele só voltaria para casa dois anos e meio depois.

Logo que seus executivos foram atingidos pela Lava Jato, a Odebrecht teve de montar um esquema especial para atender a demanda de seus presos. Funcionários foram deslocados para Curitiba e um escritório na cidade foi alugado para servir como centro de apoio e logística. Advogados eram designados a pegar cartas escritas por Marcelo com instruções e repassar para o comando da empreiteira. Ele continuava despachando do cárcere.

A estrutura foi readaptada quando Marcelo e outros executivos foram transferidos da carceragem da PF para o Complexo Médico Penal. Como o presídio fica em São José dos Pinhais, cidade vizinha a Curitiba, a Odebrecht teve que adaptar uma van que ficava estacionada em frente ao complexo, servindo como base de apoio com lanches, refrigerantes e água para os parentes que saíam após as visitas.

Hierarq
Nunes narra a impressão inicial dos presos da Lava Jato – que imaginavam que logo sairiam dali -, a transferência da carceragem da Polícia Federal para o CMP e a relação entre delatores – e suas regalias – e delatados dentro da prisão. Também é relatado como era o convívio entre os homens mais ricos do País com acusados de contrabando, assassinato e estupro, entre outros delitos.

“O comportamento que eles tinham fora da cadeia eles continuaram tendo dentro dela. Por exemplo, o Fernando Baiano continua fazendo lobby, os empreiteiros continuam patrocinando coisas, os políticos continuam se organizando em bloco, por partido. A hierarquia que existia dentro das empresas também se mantém dentro da prisão”, conta Nunes. O livro narra algumas “benfeitorias” promovidas pelos empreiteiros no presídio: compra de produtos de higiene, pintura nas paredes e aparelhos de televisão.

Para Nunes, o livro mostra que a desigualdade entre ricos e pobres que há no Brasil é reproduzida na cadeia. A diferença entre as alas dos “lavajatos” e dos presos comuns chega a comover alguns dos empreiteiros da Odebrecht e da OAS, que bancaram cobertores e geladeira para a ala dos presos comuns. “A situação dos presos da Lava Jato não era confortável, mas era muito diferente da realidade dos outros internos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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