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Preso pela ditadura, Eduardo Jorge era filho de militar reitor na PB

Perseguido pela repressão nos anos de chumbo, vice de Marina defende o desenvolvimento sustentável e se mostra otimista com a democracia

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Marcelo Camargo/Arquivo Agência Brasil
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1 de 1 EJ EJ - Foto: Marcelo Camargo/Arquivo Agência Brasil

Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho tinha 20 anos quando foi preso em 1969 por atuar no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), organização armada de oposição à ditadura. Na época, o jovem cursava medicina na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e vivia uma situação singular: o pai dele, Guilardo Martins Alves, era reitor da instituição de ensino e capitão-médico do Exército.

Naqueles tempos libertários, o conflito de gerações entre Eduardo Jorge e o pai se dava em casa e na universidade. Mais que reitor da UFPB, o militar desempenhava o papel de representante do governo na repressão à comunidade acadêmica. Sob seu comando, dezenas de professores e alunos foram punidos por atividades contrárias à ditadura.

Perto de completar 69 anos e candidato a vice-presidente da República na chapa de Marina Silva (Rede), Eduardo Jorge é filiado ao Partido Verde (PV) e, desde a atuação no movimento estudantil na Paraíba, nunca deixou a militância. No total, são cinco décadas de ativismo político. Para se ter uma comparação do que significa esse tempo, sua concorrente na disputa presidencial, a candidata a vice do petista Fernando Haddad, Manuela D’Ávila (PCdoB), tem 37 anos.

Por participar da luta contra a ditadura, ele ainda foi preso mais uma vez, em São Paulo, em 1972, e duas vezes processado com base na Lei de Segurança Nacional. Na capital paulista, especializou-se em medicina preventiva na Universidade de São Paulo (USP) e em saúde pública.

Trajetória consolidada
Entre a militância na Paraíba e a candidatura a vice-presidente, Eduardo Jorge consolidou uma bem-sucedida trajetória política, com destacada atuação no Congresso Nacional e em administrações da cidade de São Paulo. Ele exerceu um mandato de deputado estadual em São Paulo e quatro de deputado federal – um deles como constituinte (foto abaixo) –, todos pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Divulgação
Postulante a vice na chapa Rede-PV, Eduardo Jorge foi deputado constituinte pelo PT

 

Eduardo Jorge conseguiu influir em decisões importantes na elaboração da Constituição Cidadã de 1988, nas áreas de saúde, ambiental e Previdência social. Depois, assumiu a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo nas administrações de Luiza Erundina e Marta Suplicy, ambas no PT à época.

Divergências com o PT provocaram seu afastamento do partido. Em 2003, ele deixou a sigla e se filiou ao PV, onde permanece até hoje. Pelos verdes, voltou para a administração municipal e integrou as gestões de José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (à época no DEM), como titular da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

A longa militância e a experiência administrativa fizeram de Eduardo Jorge candidato à Presidência da República pelo PV em 2014. Como principal diferencial em relação aos concorrentes, ele apresentou um programa com ênfase no desenvolvimento sustentável, um conjunto de medidas elaboradas para permitir a exploração econômica em sintonia com a preservação do meio ambiente. Com 0,6% dos votos, ficou em sexto lugar na disputa.

Desafios na disputa ao Planalto
Agora na condição de vice na disputa pelo Palácio do Planalto, o experiente militante se depara mais uma vez com a dificuldade de convencer a população a eleger uma chapa voltada para a proteção ambiental.

Embora estivesse entre as favoritas na disputa presidencial, a chapa encabeçada por Marina caiu nas pesquisas divulgadas nas últimas semanas. Depois de vários meses em segundo lugar nas simulações sem o petista Luiz Inácio Lula da Silva, ela agora está na quinta posição.

O candidato a vice mantém o mesmo discurso, apesar da resistência dos eleitores em adotar as propostas da dupla ambientalista. “A Marina tem o programa mais abrangente e completo na questão do desenvolvimento sustentável e no enfrentamento das mudanças climáticas, que é o maior desafio para a humanidade no século 21”, afirmou Eduardo Jorge ao Metrópoles.

De acordo com o postulante a vice, outros partidos, como PSDB e PT, copiam algumas das propostas registradas no programa da chapa Rede-PV. “Mas o fazem da boca para fora, com postura eleitoreira. Não têm o aval da sua vida, da sua prática, são promessas de campanha”, diz.

Defensor de mudanças na economia para a adoção de modelos que evitem a dependência dos combustíveis fósseis e dos desmatamentos, ele propõe investimentos em energia limpa e práticas agroecológicas. Prega respeito dos humanos pelas espécies animais e a manutenção da biodiversidade do planeta. Na mesma linha, combate a poluição do ar e das águas e o uso de “venenos” nos alimentos para melhorar a qualidade e a expectativa de vida.

Trinta anos depois da promulgação da Constituição, Eduardo Jorge ainda se mostra entusiasmado com o texto que sacramentou a democratização do país.

[A Constituição] É algo extraordinário. Somos uma jovem democracia, mas ao mesmo tempo somos a terceira maior democracia do mundo. Só a Índia e os Estados Unidos têm populações maiores do que a nossa democracia

Eduardo Jorge

Crítico da centralização do poder nos órgãos federais, ele classifica de “doença” os “políticos profissionais”, afastados da vida real dos que os elegem.

No cenário atual, em que Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) lideram as pesquisas eleitorais, ele chama a atenção para a capacidade dos candidatos “extremistas da direita e da esquerda” de explorar “o ódio, a demagogia e o populismo”.

Mesmo com essas ressalvas, o vice de Marina diz ter confiança na “resiliência” democrática brasileira. “Nós vamos resistir a essas forças políticas e a democracia no Brasil vai adiante, errando e acertando. Na democracia é assim. Quem planta bem, colhe bem. Quem planta mal, colhe mal”, declara.

Caso uma das forças que classifica de “extremista” vença a corrida presidencial, avalia Eduardo Jorge, o Brasil terá mais quatro anos de “briga na rua” e de “sofrimento” para a população. “Porém, a escolha é sempre do povo. Se vencerem essas forças, eles devem tentar governar e nós faremos oposição naqueles pontos que acharmos prejudiciais para o povo e para o Brasil”, afirmou. Assim pensa o candidato que atua na política nacional há cinco décadas.

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