Presidentes priorizam viagens a América e Europa nos primeiros 100 dias
Desde FHC, presidentes da República não tiveram agendas internacionais na África e na Oceania nos primeiros meses de gestão
atualizado
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Desde Fernando Henrique Cardoso (FHC), os ex-presidentes brasileiros priorizaram visitas internacionais a países de dois continentes: América e Europa. Em todos os mandatos, até o atual, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não houve viagens ao continente africano.
Levantamento feito pelo Metrópoles contabilizou as visitas feitas por chefes do Executivo brasileiro a países amigos desde o primeiro mandato de FHC, em 1995. A análise considerou viagens feitas pelos ex-presidentes nos primeiros 100 dias de mandato de cada um.
Ao todo, juntos, visitaram 19 países: Alemanha, Argentina, Bolívia, Chile, China, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, França, Grécia, Guiana, Índia, Israel, Japão, Panamá, Paraguai, Portugal, Suíça e Uruguai.
Veja a distribuição, por presidente:
Como observado no gráfico, apesar de três presidentes terem sido reeleitos para novos mandatos, como FHC, Lula e Dilma, nenhum deles, em seus primeiros meses de governo, deram prioridade aos países africanos. Países como Estados Unidos, Alemanha, China e Equador, foram os destinos em que os presidentes mais pousaram.
No ranking, o ex-presidente Michel Temer foi quem mais fez viagens em 100 dias, seguido por Lula em seu segundo mandato.
Política externa
Segundo o professor de Relações Internacionais do Ibmec Brasília, Ricardo Caichiolo, o fato dos presidentes terem priorizado os continentes europeu e americano nos 100 primeiros dias de cada mandato, está ligado diretamente ao fator política externa, uma vez que há um anseio em estreitar laços comerciais com parceiros de longa data.
“A visita aos países africanos e aos interesses que o Brasil detém em países africanos, são relativamente restritos e acabam não justificando uma ida nesses 100 primeiros dias. Ainda que, por exemplo, o governo do presidente Lula, adota uma política de aproximação, chamado Sul-Sul. Então, com países africanos e do sul do hemisfério sul, ainda sim, nossas prioridades de política externas não estão no continente africano. Então, isso justifica essa ausência”, explica o especialista.
Caichiolo também alerta para os compromissos corriqueiros das agendas de líder da nação. “Esses presidentes têm uma agenda ampla que é fechada com uma certa antecedência. Então, assim que o presidente brasileiro toma posse ele vai checar a possibilidade de encontros com mandatários internacionais, mas tem que levar em consideração a agenda desses mandatários”, explica.
“Tradicionalmente, o Brasil dá preferência aos seus parceiros regionais. No caso brasileiro, existe um busca de países sul-americanos, no sentido de buscar contato com países que compõem o Mercosul, por exemplo. Por décadas, nós também tivemos um excelente relacionamento com os países europeus e com a União Europeia, essas visitas tendem a continuar, no sentido de ampliação de acordos comerciais, apresentação de novos presidentes, como o brasileiro, para a comunidade internacional”, completa.
Para o professor de Ciências Políticas Jackson de Toni, Lula sempre incentivou a chamada diplomacia presidencial. “Lula sempre teve envolvimento direto em missões externas e privilegiou o diálogo Sul-Global. Os contatos com países africanos serão prioridade também nesse mandato, por razões comerciais, culturais e afinidades políticas”, pontua.
A professora de Relações Internacionais do UniCEUB Aline Thomé acrescenta que em mandatos anteriores, Lula foi o presidente que mais buscou estreitar laços com países africanos, por meio de estratégias declaradas, manobra que segundo a especialista, outros presidentes nem tiveram o esforço em fazerem.
“De todos os governos, os dois mandatos anteriores do governo Lula, foram os que mais priorizaram a aproximação de países africanos. O governo Lula tinha, declaradamente, uma estratégia de aproximação dos países em desenvolvimento nos vários continentes do mundo. Então, ele fez rodadas de negociações e rodadas de visitas em países africanos, do Oriente Médio e América do Sul com alta frequência”, relembra Aline.
“Há que se destacar, também, que de todos esses presidentes, mesmo em viagens após os 100 dias de governo, o único que não visitou o continente africano foi o último, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele, inclusive, em uma fala desse ano em um evento que estava nos Estados Unidos, comentou que, sem querer desprezar os humildes, mas o país [Brasil] deve procurar se aproximar de quem pode oferecer alguma coisa. Ele entendia que países africanos não podem oferecer nada. Então esse é um posicionamento bem mais delicado”, aponta Thomé.